Tuas ideias não correspondem aos fatos.
O tempo não para. Não para, não... Não para!" (Cazuza)
Sem pretender, de forma alguma, ser messiânico e profético, os
golpistas que aprovaram o golpe contra Dilma Rousseff lembram certas
circunstâncias do Evangelho. Um dos acontecimentos é a escolha de parte
do povo que escolheu Barrabás e preteriu Jesus, no caso o deputado
Eduardo Cunha; o outro é a traição de Judas, que cabe muito bem nesse
contexto de mentiras e conspirações coletivas sofridas pela presidenta
trabalhista, Dilma Rousseff, ao vice-presidente Michel Temer — o Amigo
da Onça.
A efetivação de um golpe de estado contra uma mandatária e cidadã
honesta a ser julgada por uma malta de canalhas e picaretas, sendo que
grande parte dessa alcateia é composta por parlamentares e autoridades
de outros poderes, principalmente do sistema judiciário, que se aliou
aos interesses da oposição de direita liderada pelo PSDB, bem como se
associou aos magnatas bilionários de imprensa, principalmente a Rede
Globo, que desde quando Lula assumiu o poder presidencial, em 2003,
realiza uma oposição desleal, desonesta, agressiva, manipuladora e
golpista.
Questão de DNA.
Contudo, apesar da derrota do Governo Trabalhista perante uma das
gerações de deputados mais corrupta e conservadora da história da Câmara
(a grande maioria deles responde a processos na Justiça, sendo que
muitos dos golpistas de direita já são réus), além de ignorante sobre o
processo do golpe travestido de impeachment, bem como sobre a história
do Brasil, o que mais chama a atenção é a total falta de discernimento
sobre as conquistas do povo brasileiro nos períodos dos governos
democráticos e republicanos de Lula e Dilma.
Estou com quase 57 anos e posso afirmar, sem tergiversar ou enganar
qualquer cidadão, que nunca vi, em quase seis décadas de vida, o Brasil
se desenvolver tanto em todos os segmentos e setores, bem como nunca
tinha visto em outros governos milhões de pobres ascenderem socialmente e
financeiramente, não apenas no que concerne ao acesso ao consumo, mas,
principalmente no tange ao pobres a conquistar novos espaços, tanto no
que é relativo à sua entrada nas universidades públicas e no ensino
técnico quanto no que é referente ao poder aquisitivo, com o salário
mínimo a aumentar ano a ano, a manter seu poder de compra.
Foram inúmeras as conquistas, que cansei de citar em meus textos,
como, por exemplo, programas sociais que movimentaram a economia e
incrementaram o mercado para as micro e pequenas e empresas, a exemplo
das garantias trabalhistas às empregadas domésticas, do Luz para Todos,
do Minha Casa, Minha Vida e o Programa Bolsa Família, além do Enem,
Fies, Sisu, Ciência sem Fronteiras, Sisutec e ProUni, dentre incontáveis
obras de infraestrutura, bem como a recuperação de setores praticamente
extintos, como o naval e o de trens.
Entretanto, o assunto central não é este, porque a classe média
tradicional coxinha, aquela composta de brancos bem nutridos,
secularmente universitária e com bons empregos públicos e privados, que
mora em bairros urbanizados ou chiques, demonstrou, inequivocadamente,
que odiou profundamente a ascensão social e econômica dos pobres. Só que
não há mais espaço para dizer que tal classe pequeno burguesa, aliada
dos interesses da casa grande, como sempre foi, como comprova o apoio
irrestrito ao golpe de 1964, que ela se preocupa com a corrupção.
E por quê? Porque nunca se preocupou, pois portadora de indignação
seletiva, e, consequentemente, arrivista e partidária. Como se comprova,
a maioria dos golpistas que aprovou o golpe para ser votado no Senado
responde processos inúmeros, inclusive na Lava Jato, sendo que as listas
de Furnas, e, principalmente, a da Odebrecht, que "Não vem ao caso"
para o juiz de província, Sérgio Moro, foram solenemente engavetadas e
os nomes dos políticos demotucanos, indelevelmente, blindados.
No Brasil de hoje, lamentavelmente, os juízes políticos, os
procuradores obsessivos e os delegados aecistas, que tratam desses
escândalos são partidarizados, tem cor ideológica à direita e, para
paralisar e judicializar a governança de Dilma Rousseff, criminalizaram a
política de tal forma que ficou praticamente impossível a mandatária
trabalhista governar o País, mesmo eleita pelo PT com 54,5 milhões de
votos. Simplesmente se rasga a Constituição e manda para o espaço a
democracia e o Estado de Direito.
Dilma não cometeu crimes de responsabilidade e todos os patifes e
cafajestes que lutam para derrubá-la sabem disso, mas não se importam
com nada, pois se fanatizaram e não conseguem mais se pautar pelo bom
senso, lógica racional e pelo interesse público. Como poderá um golpista
se preocupar com a sociedade se ele quer o retrocesso e a volta do
controle total do status quo sobre a população?
Enquanto Lula e Dilma avançavam o País em direção ao seu
desenvolvimento e tinham o apoio de mais de 80% da população, os
canalhas golpistas e ignorantes, pois provincianos que cuidam apenas de
interesses pessoais ou de grupos econômicos ou corporativos, se calaram,
recolheram-se às suas insignificâncias e ignorâncias e deitaram em suas
tumbas repletas de ódios e preconceitos.
Também dessa forma se conduziram os coxinhas de classe média, que
ficaram anos calados ou a dissimular suas cóleras compostas de racismos,
preconceitos de classe social, inconformismo e rancor por causa das
conquistas sociais das classes pobres e populares. Foi de mais para essa
gente tacanha, egoísta, de alma pequena e espírito de porco, que faz da
intolerância seu modo de vida, assim como da violência, no que rege ao
pensamento, e, com efeito, verbalizar insultos de baixo calão e
conceitos vis, a chegar até mesmo à agressão física, que espelha sua
ideologia, que se baseia em valores e princípios nada recomendáveis à
civilização ou àquele que deseja ser civilizado.
E deu no que deu: um consórcio de direita de inúmeros setores
comprometidos com um golpe de estado, depois de 30 anos de democracia,
além da lembrança coletiva terrível de 21 anos de ditadura
civil-militar. Leonel Brizola dizia: "Os militares seguraram as tetas do
Estado, como se fosse uma vaca, para os empresários mamarem".
Agora, em 17 de abril de 2016, repete-se realidade histórica similar,
sendo que desta vez quem segura as tetas do Estado nacional são os
golpistas criminosos da Câmara e, vergonhosamente, os togados, muitos
deles completamente alienados e próximos da ridicularidade, como o juiz
Catta Preta do DF, o admirador de Miami e talvez, quiçá, do Pateta, sem
esquecer do Mickey, um dos símbolos do imperialismo estadunidense.
Duvida, coxinha? Basta assistir os desenhos mais antigos de tal
personagem para se certificar de suas "mensagens".
Juízes e procuradores que, ao invés de se comportarem como
magistrados, conduzem-se como políticos em plena atividade e interferem,
equivocadamente, no processo político brasileiro, porque são partes
indissociáveis do golpe criminoso contra a presidente Dilma, o Estado de
direito, a democracia e os direitos constitucionais do povo brasileiro,
que luta há séculos para se emancipar e ter acesso a uma vida de melhor
qualidade.
Os empresários golpistas, que odeiam políticos trabalhistas, já estão
a avisar que não vão pagar pelo pato amarelo, corrupto e sonegador da
Fiesp. O pato sonegador eles já abandonaram e exigem seu quinhão de
poder junto ao golpista-mor, Michel Temer, que, juntamente com o
corrupto e réu, Eduardo Cunha, engendraram o golpe, que começou pelo
histerismo e violência nada cívica do senador tucano e playboy, Aécio
Neves, que, golpista de primeiro minuto, após perder as eleições foi às
ruas fazer molecagem e apostar na quebra da ordem institucional e
constitucional.
Esses coxinhas empregados da iniciativa privada e do setor público
vão ver o que é bom para tosse. A direita no poder vai fazer o que ela
sempre fez, em um eventual governo Temer: suprimir direitos sociais e
trabalhistas, restabelecer a CPMF (para os golpistas pode, mas para o
Governo Dilma, não), dar fim à obrigatoriedade dos gastos fixos em
educação e saúde, fazer mudanças nas leis previdenciárias e
trabalhistas, vender as estatais restantes, inclusive a Eletrobrás, a
Infraero e a Petrobras, além de acabar com o sistema de partilha do
Pré-Sal, cujos recursos são previstos para financiar a saúde e a
educação, conforme projeto do Governo Dilma aprovado pelo Congresso.
Depois a sociedade que elegeu Dilma Rousseff tem de aturar uma
direita colonizada, subalterna e entreguista que, por intermédio de seus
áulicos, afirma que vai fazer as mudanças para a retomada da economia.
Veja bem a pilhéria, a babaquice e a hipocrisia. Os golpistas
criminosos, muitos deles ignorantes sobre o povo do Brasil e a história
da política brasileira querem impor, por meio de um golpe criminoso, o
programa de governo derrotado nas urnas em quatro eleições consecutivas.
Tal conduta é de um indigência moral e política que assombra até os
mais sórdidos dos cafajestes.
Trata-se de golpe aplicado diretamente na veia de 54,5 milhões de
eleitores que não votaram em Aécio Neves, porque, além de essa gente
mequetrefe querer retomar o derrotado neoliberalismo, que fracassou em
âmbito mundial, ainda quer fazer crer que a economia brasileira está
afundada, quando a verdade é que a crise política sem precedentes, nos
últimos 35 anos, é a maior responsável pela crise na economia.
A crise política engendrada pelas oligarquias deste País tem por
finalidade engessar as ações do Governo Trabalhista e impedir que as
empresas que tem contratos com o Governo possam tocar suas atividades,
como aconteceu com as milhares de obras, algumas gigantescas, que estão
paralisadas, porque, ao invés de se proteger as empresas, como fazem no
exterior, aqui as destroem, porque uma casa grande predadora,
antinacionalista, antirrepublicana e antidemocrática está em processo de
efetivar mais um golpe dos muitos que já realizou no passado. Quem não
tem voto, dá golpe. E lugar de golpista, então, é na cadeia.
Contudo, o maior responsável pelo golpe irresponsável e criminoso na
Câmara é a maioria dos juízes do STF. E por quê? Porque se a presidenta
Dilma Rousseff não cometeu malfeitos, que no decorrer de dois anos não
foram comprovados, não existe, então, crime de responsabilidade, o que é
a realidade factual. O factual é fato. Fato é real e portanto não deixa
dúvidas. E o STF a ficar cego sobre as realidades, ao ponto de
permitir, como se fosse cúmplice do golpe, que bandidos a responder a
mil inquéritos, acusações e denúncias, sendo que muitos deles são réus,
cometam um golpe de estado contra o Brasil e os brasileiros. É
inaceitável!
O Supremo é no mínimo omisso e em seu meio existe juiz que conspira
contra a presidente trabalhista, bem como anuncia suas decisões, além de
dizer o que pensa de seus inimigos políticos, sendo que muitos desses
inimigos estão a se defender na Justiça, fato este que se torna
inacreditável, pois quem faz carga àquele que poderá ser julgado é seu
julgador, que age indevidamente como promotor. O nome deste juiz é
Gilmar Mendes, do PSDB do Mato Grosso.
Os juízes garantistas e legalistas do STF poderiam ter acabado com a
farra dos golpistas, que, em sua maioria, reponde a processos ou já são
réus. Acontece que, em nome do rito, dar-se-á uma golpe? O Brasil
realmente é um País surreal, porque, ao contrário dos Estados Unidos e
de outros países desenvolvidos, tem uma das piores e mais cruéis
"elites" do mundo, porque totalmente divorciada dos interesses do povo
brasileiro, que luta diuturnamente pela sua sobrevivência, mas não
consegue conquistar sua emancipação de forma plena, porque temos uma
casa grande escravocrata e, miseravelmente, provinciana e subserviente
aos interesses de estrangeiros, pois antinacionalista e profundamente
antidemocrática.
Os partidos de esquerda, os incontáveis movimentos sociais, os
sindicatos, estudantes, associações de profissionais liberais, a classe
média que votou no PT, os camponeses, os moradores de favelas e
comunidades, a periferia, os negros, os índios, as mulheres
trabalhadoras, as cooperativas, os gays, os intelectuais, os artistas e
todos aqueles que não querem a volta da ditadura, porque quem dá golpe
tem alma e pensamento ditatoriais, deve, sem vacilar, mobilizar-se e ir
às ruas. Ocupar todos os espaços públicos para derrotar esse golpe de
estado infame travestido de legalidade constitucional. Este golpe não é
legal, porque Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade. Não
vai ter golpe! Já tem luta.
É isso aí.
Davis Sena Filho
Davis Sena Filho é editor do blog Palavra Livre
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