segunda-feira, 18 de abril de 2016

Sem voto, direita picareta aprova o golpe e o STF continua omisso e golpista


: <p>26/11/2015 - Brasília - DF - O senador Aécio Neves, durante reunião da Executiva Nacional do PSDB. Foto: George Gianni/ PSDB</p>
"A tua piscina tá cheia de ratos;
Tuas ideias não correspondem aos fatos.
O tempo não para. Não para, não... Não para!" (Cazuza)


Sem pretender, de forma alguma, ser messiânico e profético, os golpistas que aprovaram o golpe contra Dilma Rousseff lembram certas circunstâncias do Evangelho. Um dos acontecimentos é a escolha de parte do povo que escolheu Barrabás e preteriu Jesus, no caso o deputado Eduardo Cunha; o outro é a traição de Judas, que cabe muito bem nesse contexto de mentiras e conspirações coletivas sofridas pela presidenta trabalhista, Dilma Rousseff, ao vice-presidente Michel Temer — o Amigo da Onça.

A efetivação de um golpe de estado contra uma mandatária e cidadã honesta a ser julgada por uma malta de canalhas e picaretas, sendo que grande parte dessa alcateia é composta por parlamentares e autoridades de outros poderes, principalmente do sistema judiciário, que se aliou aos interesses da oposição de direita liderada pelo PSDB, bem como se associou aos magnatas bilionários de imprensa, principalmente a Rede Globo, que desde quando Lula assumiu o poder presidencial, em 2003, realiza uma oposição desleal, desonesta, agressiva, manipuladora e golpista. 


Questão de DNA.

Contudo, apesar da derrota do Governo Trabalhista perante uma das gerações de deputados mais corrupta e conservadora da história da Câmara (a grande maioria deles responde a processos na Justiça, sendo que muitos dos golpistas de direita já são réus), além de ignorante sobre o processo do golpe travestido de impeachment, bem como sobre a história do Brasil, o que mais chama a atenção é a total falta de discernimento sobre as conquistas do povo brasileiro nos períodos dos governos democráticos e republicanos de Lula e Dilma.

Estou com quase 57 anos e posso afirmar, sem tergiversar ou enganar qualquer cidadão, que nunca vi, em quase seis décadas de vida, o Brasil se desenvolver tanto em todos os segmentos e setores, bem como nunca tinha visto em outros governos milhões de pobres ascenderem socialmente e financeiramente, não apenas no que concerne ao acesso ao consumo, mas, principalmente no tange ao pobres a conquistar novos espaços, tanto no que é relativo à sua entrada nas universidades públicas e no ensino técnico quanto no que é referente ao poder aquisitivo, com o salário mínimo a aumentar ano a ano, a manter seu poder de compra.

Foram inúmeras as conquistas, que cansei de citar em meus textos, como, por exemplo, programas sociais que movimentaram a economia e incrementaram o mercado para as micro e pequenas e empresas, a exemplo das garantias trabalhistas às empregadas domésticas, do Luz para Todos, do Minha Casa, Minha Vida e o Programa Bolsa Família, além do Enem, Fies, Sisu, Ciência sem Fronteiras, Sisutec e ProUni, dentre incontáveis obras de infraestrutura, bem como a recuperação de setores praticamente extintos, como o naval e o de trens.

Entretanto, o assunto central não é este, porque a classe média tradicional coxinha, aquela composta de brancos bem nutridos, secularmente universitária e com bons empregos públicos e privados, que mora em bairros urbanizados ou chiques, demonstrou, inequivocadamente, que odiou profundamente a ascensão social e econômica dos pobres. Só que não há mais espaço para dizer que tal classe pequeno burguesa, aliada dos interesses da casa grande, como sempre foi, como comprova o apoio irrestrito ao golpe de 1964, que ela se preocupa com a corrupção.

E por quê? Porque nunca se preocupou, pois portadora de indignação seletiva, e, consequentemente, arrivista e partidária. Como se comprova, a maioria dos golpistas que aprovou o golpe para ser votado no Senado responde processos inúmeros, inclusive na Lava Jato, sendo que as listas de Furnas, e, principalmente, a da Odebrecht, que "Não vem ao caso" para o juiz de província, Sérgio Moro, foram solenemente engavetadas e os nomes dos políticos demotucanos, indelevelmente, blindados.

No Brasil de hoje, lamentavelmente, os juízes políticos, os procuradores obsessivos e os delegados aecistas, que tratam desses escândalos são partidarizados, tem cor ideológica à direita e, para paralisar e judicializar a governança de Dilma Rousseff, criminalizaram a política de tal forma que ficou praticamente impossível a mandatária trabalhista governar o País, mesmo eleita pelo PT com 54,5 milhões de votos. Simplesmente se rasga a Constituição e manda para o espaço a democracia e o Estado de Direito.

Dilma não cometeu crimes de responsabilidade e todos os patifes e cafajestes que lutam para derrubá-la sabem disso, mas não se importam com nada, pois se fanatizaram e não conseguem mais se pautar pelo bom senso, lógica racional e pelo interesse público. Como poderá um golpista se preocupar com a sociedade se ele quer o retrocesso e a volta do controle total do status quo sobre a população?

Enquanto Lula e Dilma avançavam o País em direção ao seu desenvolvimento e tinham o apoio de mais de 80% da população, os canalhas golpistas e ignorantes, pois provincianos que cuidam apenas de interesses pessoais ou de grupos econômicos ou corporativos, se calaram, recolheram-se às suas insignificâncias e ignorâncias e deitaram em suas tumbas repletas de ódios e preconceitos.

Também dessa forma se conduziram os coxinhas de classe média, que ficaram anos calados ou a dissimular suas cóleras compostas de racismos, preconceitos de classe social, inconformismo e rancor por causa das conquistas sociais das classes pobres e populares. Foi de mais para essa gente tacanha, egoísta, de alma pequena e espírito de porco, que faz da intolerância seu modo de vida, assim como da violência, no que rege ao pensamento, e, com efeito, verbalizar insultos de baixo calão e conceitos vis, a chegar até mesmo à agressão física, que espelha sua ideologia, que se baseia em valores e princípios nada recomendáveis à civilização ou àquele que deseja ser civilizado.

E deu no que deu: um consórcio de direita de inúmeros setores comprometidos com um golpe de estado, depois de 30 anos de democracia, além da lembrança coletiva terrível de 21 anos de ditadura civil-militar. Leonel Brizola dizia: "Os militares seguraram as tetas do Estado, como se fosse uma vaca, para os empresários mamarem".

Agora, em 17 de abril de 2016, repete-se realidade histórica similar, sendo que desta vez quem segura as tetas do Estado nacional são os golpistas criminosos da Câmara e, vergonhosamente, os togados, muitos deles completamente alienados e próximos da ridicularidade, como o juiz Catta Preta do DF, o admirador de Miami e talvez, quiçá, do Pateta, sem esquecer do Mickey, um dos símbolos do imperialismo estadunidense. Duvida, coxinha? Basta assistir os desenhos mais antigos de tal personagem para se certificar de suas "mensagens".

Juízes e procuradores que, ao invés de se comportarem como magistrados, conduzem-se como políticos em plena atividade e interferem, equivocadamente, no processo político brasileiro, porque são partes indissociáveis do golpe criminoso contra a presidente Dilma, o Estado de direito, a democracia e os direitos constitucionais do povo brasileiro, que luta há séculos para se emancipar e ter acesso a uma vida de melhor qualidade.

Os empresários golpistas, que odeiam políticos trabalhistas, já estão a avisar que não vão pagar pelo pato amarelo, corrupto e sonegador da Fiesp. O pato sonegador eles já abandonaram e exigem seu quinhão de poder junto ao golpista-mor, Michel Temer, que, juntamente com o corrupto e réu, Eduardo Cunha, engendraram o golpe, que começou pelo histerismo e violência nada cívica do senador tucano e playboy, Aécio Neves, que, golpista de primeiro minuto, após perder as eleições foi às ruas fazer molecagem e apostar na quebra da ordem institucional e constitucional.

Esses coxinhas empregados da iniciativa privada e do setor público vão ver o que é bom para tosse. A direita no poder vai fazer o que ela sempre fez, em um eventual governo Temer: suprimir direitos sociais e trabalhistas, restabelecer a CPMF (para os golpistas pode, mas para o Governo Dilma, não), dar fim à obrigatoriedade dos gastos fixos em educação e saúde, fazer mudanças nas leis previdenciárias e trabalhistas, vender as estatais restantes, inclusive a Eletrobrás, a Infraero e a Petrobras, além de acabar com o sistema de partilha do Pré-Sal, cujos recursos são previstos para financiar a saúde e a educação, conforme projeto do Governo Dilma aprovado pelo Congresso.

Depois a sociedade que elegeu Dilma Rousseff tem de aturar uma direita colonizada, subalterna e entreguista que, por intermédio de seus áulicos, afirma que vai fazer as mudanças para a retomada da economia. Veja bem a pilhéria, a babaquice e a hipocrisia. Os golpistas criminosos, muitos deles ignorantes sobre o povo do Brasil e a história da política brasileira querem impor, por meio de um golpe criminoso, o programa de governo derrotado nas urnas em quatro eleições consecutivas. Tal conduta é de um indigência moral e política que assombra até os mais sórdidos dos cafajestes.

Trata-se de golpe aplicado diretamente na veia de 54,5 milhões de eleitores que não votaram em Aécio Neves, porque, além de essa gente mequetrefe querer retomar o derrotado neoliberalismo, que fracassou em âmbito mundial, ainda quer fazer crer que a economia brasileira está afundada, quando a verdade é que a crise política sem precedentes, nos últimos 35 anos, é a maior responsável pela crise na economia.

A crise política engendrada pelas oligarquias deste País tem por finalidade engessar as ações do Governo Trabalhista e impedir que as empresas que tem contratos com o Governo possam tocar suas atividades, como aconteceu com as milhares de obras, algumas gigantescas, que estão paralisadas, porque, ao invés de se proteger as empresas, como fazem no exterior, aqui as destroem, porque uma casa grande predadora, antinacionalista, antirrepublicana e antidemocrática está em processo de efetivar mais um golpe dos muitos que já realizou no passado. Quem não tem voto, dá golpe. E lugar de golpista, então, é na cadeia.

Contudo, o maior responsável pelo golpe irresponsável e criminoso na Câmara é a maioria dos juízes do STF. E por quê? Porque se a presidenta Dilma Rousseff não cometeu malfeitos, que no decorrer de dois anos não foram comprovados, não existe, então, crime de responsabilidade, o que é a realidade factual. O factual é fato. Fato é real e portanto não deixa dúvidas. E o STF a ficar cego sobre as realidades, ao ponto de permitir, como se fosse cúmplice do golpe, que bandidos a responder a mil inquéritos, acusações e denúncias, sendo que muitos deles são réus, cometam um golpe de estado contra o Brasil e os brasileiros. É inaceitável!

O Supremo é no mínimo omisso e em seu meio existe juiz que conspira contra a presidente trabalhista, bem como anuncia suas decisões, além de dizer o que pensa de seus inimigos políticos, sendo que muitos desses inimigos estão a se defender na Justiça, fato este que se torna inacreditável, pois quem faz carga àquele que poderá ser julgado é seu julgador, que age indevidamente como promotor. O nome deste juiz é Gilmar Mendes, do PSDB do Mato Grosso.

Os juízes garantistas e legalistas do STF poderiam ter acabado com a farra dos golpistas, que, em sua maioria, reponde a processos ou já são réus. Acontece que, em nome do rito, dar-se-á uma golpe? O Brasil realmente é um País surreal, porque, ao contrário dos Estados Unidos e de outros países desenvolvidos, tem uma das piores e mais cruéis "elites" do mundo, porque totalmente divorciada dos interesses do povo brasileiro, que luta diuturnamente pela sua sobrevivência, mas não consegue conquistar sua emancipação de forma plena, porque temos uma casa grande escravocrata e, miseravelmente, provinciana e subserviente aos interesses de estrangeiros, pois antinacionalista e profundamente antidemocrática.

Os partidos de esquerda, os incontáveis movimentos sociais, os sindicatos, estudantes, associações de profissionais liberais, a classe média que votou no PT, os camponeses, os moradores de favelas e comunidades, a periferia, os negros, os índios, as mulheres trabalhadoras, as cooperativas, os gays, os intelectuais, os artistas e todos aqueles que não querem a volta da ditadura, porque quem dá golpe tem alma e pensamento ditatoriais, deve, sem vacilar, mobilizar-se e ir às ruas. Ocupar todos os espaços públicos para derrotar esse golpe de estado infame travestido de legalidade constitucional. Este golpe não é legal, porque Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade. Não vai ter golpe! Já tem luta. 

É isso aí.


Davis Sena Filho
Davis Sena Filho é editor do blog Palavra Livre

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