Berna (Suiça) - O império norte-americano tem os calcanhares de barro e toda sua estrutura de ferro balança para cair daqui a pouco, com estrondo. E, se tivermos sorte, será o fim do capitalismo selvagem que se instaurou logo depois da implosão da União Soviética.
No caixão de enterro do capitalismo vai junto o prestígio, o orgulho e supremacia dos Estados Unidos da América. Junto com as carpideiras, acompanham o enterro milhares de "traders" chorosos e desempregados com milhares de outros inúteis especializados não em criar, mas em especular.
Era previsível mas ninguém queria ver. Como muitos que ainda continuam não querendo ver e acreditando ser um simples ataque de febre no sistema, como o responsável pela perda de 10 bilhões da caixa de previdência do Banco do Brasil.
Ele acredita que os papéis comprados dos americanos ainda valem alguma coisa, que, dentro de alguns meses, tudo voltará ao normal e pouco a pouco seus papéis serão revalorizados. Melhor ir ao WC com eles. A crise não acabou, está na fase inicial.
Exemplo nada dignificante – na Suíça, país onde se reza nos bancos e cujos deuses nomeiam-se dólar, euro, yen, adorados por uma multidão de homens e mulheres discretos e secretos, o impossível aconteceu, espalhando a descrença nos banqueiros sacerdotes do capitalismo local. O Credit Suisse comunicou a algumas centenas de milhares de seus clientes, pequenos, médios e grandes poupadores, que suas economias tinham sido investidas no Lehman Brothers e que desapareceram, viraram fumaça. Suíços expoliados por seus próprios bancos é mais que ridículo, é trágico e inquietante. Os depositantes suíços, que sacrificam suas vidas nos altares do UBS e do Credit Suisse, verdadeiros governantes do país, vorazes rapaces das riquezas do mundo pobre, roubados de suas poupanças de uma vida, como os judeus do holocausto o foram há meio século ?
E, como contava, entre surpreso e incrédulo, um jornalista econômico numa rádio francesa – “eles, os "traders", os especuladores de colarinho branco, vendiam ações que não tinham para comprá-las a seguir com lucro. Fazia-se de tudo”. E para as ações subirem, os conselhos de administração das empresas adotavam planos de economia, obrigavam os empregados a assinarem contratos de diminuição de salário com mais horas de trabalho.
A serpente ficou louca e estava começando a comer seu próprio rabo. O empobrecimento dos franceses ficou tão evidente que seus supermercados constatam 7% a menos nos volumes de compra. Mas era previsível – se não existe mais emprego fixo, se tudo é precário e temporário e se a terceirização deixa aos empregados todos seus encargos em temos de previdência e seguros, onde vai haver mercado consumidor para comprar a produção racionalizada ?
O crédito de alto risco das hipotecas é mais um furacão nos EUA. Porém, e o que vai ser quando esse primeiro choque mostrar que milhares de pessoas não têm mais renda para pagar as dívidas feitas com cartões de crédito ? Todos os americanos defensores do capitalismo usaram à vontade seus cartões de crédito, estão endividados até ao último fio de cabelo e vão pagar com o quê ?
O "trader", especulador inútil, que faturava mais de 30 mil dólares por mês e que pensava ser inesgotável sua mina de ouro, comprou casas, carros 4x4, viveu como nababo e investiu nos bancos semi-falidos, pagando tudo com cartões de crédito. Depois das hipotecas de casas, vão ser os cartões de crédito caindo como castelos de cartas num enorme efeito dominó.
Mas os EUA de hoje não têm nenhum Roosevelt, com seu New Deal, e os esquerdistas americanos já foram dizimados, há muito tempo, pelos macartistas. Obama não é Roosevelt.
O próprio Bush reconheceu que não há nenhum outro jeito – se o Estado não intervir, nem Deus salva a América. E como dizia um analista, ainda há pouco tempo, “os EUA não vão ter mais dinheiro para financiar a invasão iraquiana e vão abandonar tudo aquilo. Os soldados para voltarem terão de pagar suas próprias passagens em vôos regulares (aqueles que não forem caçados pelo caminho)”.
E o que vai dar ? Vai dar zebra, é claro, nem é preciso cartomante para ver. Desta vez, as torres de Wall Street não foram os terroristas da Al Qaída que derrubaram. O que acontecerá depois dos escombros do império americano ?
Pelo menos, uma coisa de bom – parece ter chegado a hora do Brasil, se souber guardar suas riquezas, aproveitar para recuperar o que vendeu por preço de nabo e reafirmar com vigor que “o petróleo é nosso”.
Rui Martins, Direto da Redação.
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