quarta-feira, 24 de setembro de 2008

UM BOM ARTIGO




A FACE OCULTA DO IBOPE

A temporada eleitoral está entrando na reta final e, como sempre, algumas verdades absolutas continuam a prevalecer. É o caso, por exemplo, da afirmação diária de que a propaganda eleitoral é gratuita. Não é verdade.
Como informa o Observatório do Direito à Comunicação, as emissoras de rádio e TV recebem da União uma média de R$ 267 milhões por ano. O pagamento sobre o que a legislação do setor, o Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT), prevê como obrigação dos concessionários de radiodifusão é feito através de compensação fiscal no cálculo do Imposto de Renda. Ou seja, as emissoras descontam do lucro auferido – sobre o qual incide o IR – o valor que ganhariam com a comercialização publicitária regular dos minutos usados para a propaganda eleitoral.
Então, pergunta-se: qual o motivo de no início da propaganda eleitoral se ouvir o refrão segundo o qual “interrompemos a nossa programação para a inserção do horário eleitoral gratuito?” Mais uma propaganda enganosa. A generosidade dos proprietários de veículos de comunicação se deve a você, cidadão contribuinte. E isto é lei, pelo menos desde 1963.
Outra armação é a medição da audiência das emissoras. Na semana passada, em um debate sobre a criatividade na televisão brasileira, no programa Ver TV, na TV Câmara, o jornalista e cineasta Antonio Castigliola apresentou um dado, que na prática questiona a medição feita pelo “conceituado” Instituto Brasileiro de Opinião Pública, cuja sigla Ibope foi incorporada à língua portuguesa como sinônimo de audiência (dá Ibope, não dá Ibope). Castigliola revelou o que é pouco divulgado, ou seja, o Ibope contrata 750 famílias, só na área urbana de São Paulo e ainda por cima percebendo salário. Quer dizer: quem determina a audiência nacional no Ibope é São Paulo, Neste caso, pelo padrão Ibope, uma eleição nacional bastaria ser realizada em São Paulo, não necessitando auferir a votação em outros Estados.
Como se tudo isso não bastasse, estas mesmas famílias fazem o serviço há 10 anos, sem renovação. A medição é feita através de um aparelho denominado peoplemeter, que aufere a audiência minuto a minuto. Mudanças de canais ou o desligamento dos aparelhos de TV são registrados pelo medidor. O que teria a dizer o Ibope sobre a informação de Castigliola?
Como estamos em período eleitoral, uma ou duas vezes por semana, tanto o Ibope como outros institutos de pesquisa apresentam os índices dos candidatos a cargos executivos. Os critérios são os mais diversos. Por exemplo, no Rio de Janeiro, onde até agora, quando faltam poucos dias para a eleição de 5 de outubro, boa parte do eleitorado ainda não se definiu, mas os percentuais apontam como fato consumado a ida para o segundo turno de um dos candidatos, exatamente o apoiado pela máquina do governo do Estado.
O eleitorado do Rio de Janeiro já reservou muitas surpresas em outras eleições. Do jeito que a banda dos institutos de pesquisas toca, parece que há um objetivo claro, qual seja o de induzir o eleitor a votar no candidato à frente das pesauisas. Em outras palavras: a parte do eleitorado ainda sem decidir em quem vai votar fica induzido a escolher o mais cotado. Afinal de contas, garantem os psicólogos, é mais fácil o eleitor escolher quem aparentemente está na frente do que acompanhar o perfil do candidato, o passado e o presente do referido e ainda questionar o tipo de promessa que ele faz.
Além disso, com o esquema em vigor de despolitizar a política, o enfoque apresentado na propaganda eleitoral se volta para o trivial comum, como se o postulante a um cargo executivo fosse um produto qualquer. Aí entram em cena os marqueteiros, contratados a peso de ouro, que ditam as regras como o candidato deve se apresentar na TV. Aí vale tudo em termos de promessas, não raramente enganosas.
Ainda uma faceta da campanha eleitoral. Um candidato a prefeito do Rio se apresenta com a proposta de ser “síndico” da cidade. Ao mesmo tempo, um canal de TV, no esquema sórdido de despolitizar a política, mostra no noticiário nobre “as semelhanças entre um síndico e um prefeito”. O Tribunal Eleitoral até agora não se manifestou. A TV Globo se diz imparcial. O candidato-síndico, apoiado por um Governo de Estado cliente da Globo, há dois anos pedia o impeachment de Lula e hoje, com o apoio do Governador do Estado do Rio, posa de lulista desde criancinha. Ou seja, assim caminha a eleição municipal do Rio de Janeiro.
No mais, registro a inquietação do leitor Gilberto César Vieira de Rezende, ao afirmar que “me causa espanto que durante toda a semana que passou, o senhor Bush de repente diz que vai fazer um programa de ajuda aos bancos de 700 bilhões de dólares e não li ou ouvi uma única linha sobre quais os programas de defesa vão ser cancelados/postergados ou qualquer outro gasto social ou de outra área de governo(mais ao gosto da tesoura republicana) será diminuído para liberar esta quantia de dinheiro....
”E nesta crise da economia estadunidense, os apologistas do Estado mínimo não criticaram a intervenção estatal ordenada por Bush, muito pelo contrário. As críticas desses apologistas do capital só valem quando o Estado entra em cena para proteger os que vivem do trabalho. Se amanhã, por exemplo, voltar à cena o Estado de bem estar social, podem imaginar para onde se voltarão as baterias destes analistas à serviço?
Mário Augusto Jakobiskind.

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