segunda-feira, 29 de setembro de 2008

TEXTO IMPECÁVEL


por Luiz Carlos Azenha

A mídia corporativa dos Estados Unidos, financiada pelo mercado financeiro, em vez de investigar o que andava acontecendo no Congresso nos últimos dias optou por ficar na torcida.
Torceu pela aprovação do pacote de ajuda ao mercado financeiro.

Do mesmo jeito que a mídia corporativa brasileira torceu contra o governo Lula. Torceu, distorceu, mentiu e omitiu. E se ferrou com a popularidade do presidente da República atingindo 80%.

Como é possível, depois do caos aéreo, do apagão elétrico, do escândalo dos cartões corporativos, do escândalo dos grampos, da "epidemia" de febre amarela o governo Lula ter 80% de aprovação?

Só existe uma explicação: o divórcio existente entre o Brasil real e o Brasil da mídia, que representa apenas a fatia "afrikaner" da população.

Estamos assistindo a um momento histórico, tanto aqui quanto nos Estados Unidos.

É a derrocada do Jornalismo corporativo, que se divorciou completamente dos interesses da população para prestar serviços acima de tudo a seus próprios interesses políticos e econômicos e aos "dos seus".

Assistimos, no Brasil, recentemente, ao mais espetacular lobismo de uma parcela majoritária da mídia corporativa em defesa dos interesses particulares de um banqueiro. "Veja", "Folha de S. Paulo", "Estadão", "Época" e TV Globo se colocaram a serviço da propagação de uma fábula, segundo a qual houve espionagem generalizada de autoridades brasileiras por parte da Agência Brasileira de Informações (ABIN).

Isso foi feito sem uma única prova factual. Onde é que estão as gravações? Onde é que estão os depoimentos comprometedores?

Por enquanto, NADA. Nunca imaginei que depois de 30 anos de carreira eu viveria para escrever isso: a mídia corporativa brasileira colocou os interesses de um banqueiro não só acima dos interesses do público, mas do próprio Estado.

Mudando de hemisfério, analisemos o que aconteceu com a mídia corporativa dos Estados Unidos: foi pega de calça curta pela revolta de congressistas que estão em campanha eleitoral e que votaram de acordo com suas bases eleitorais.

Nos Estados Unidos o voto é distrital. O deputado, para se reeleger, não pode fazer campanha nacional. Precisa fazer campanha em seu distrito. Por isso, tem margem de manobra muito menor para mudar de posição. Se os eleitores do distrito se dizem contra alguma coisa, raramente podem ser contrariados, especialmente faltando 40 dias para a eleição.

A revolta contra o pacote do governo Bush veio das bases. E passou em branco pela mídia corporativa dos Estados Unidos, que acima de tudo reflete os grandes interesses econômicos.
Não estou argumentando em favor da rejeição do pacote, mas apenas constatando o divórcio entre a mídia e os consumidores dela, que nos últimos dias dispararam furiosamente mensagens eletrônicas e por telefone aos congressistas CONTRA o pacote com dinheiro do contribuinte.
A derrota do projeto no Congresso, de outra parte, é um bode expiatório conveniente.

Agora a culpa do colapso do mercado financeiro poderá ser atribuído aos políticos, quando não é deles.

MESMO QUE O PACOTE TIVESSE SIDO APROVADO o risco de que não seria suficiente para conter a crise era grande.

A mídia corporativa simplesmente se negou, nas últimas horas, a ligar os pontos: houve falências de instituições financeiras no Reino Unido, na Islândia, na Bélgica, na Alemanha e nos Estados Unidos.

Trata-se de um problema sistêmico, do qual ninguém pode dizer que sabe exatamente as dimensões. Ninguém pode dizer, em sã consciência, que 700 bilhões de dólares bastam para saná-lo.

O Brasil vai quebrar? Não há nenhum indício de que isso possa acontecer. As instituições bancárias brasileiras não se expuseram aos papéis tóxicos de Wall Street.

Mas a crise vai se resolver quando o Congresso americano aprovar a ajuda? Nenhuma chance.

A quebradeira das últimas horas é sinal de que instituições financeiras dos países centrais estão sentadas sobre um formigueiro. Ninguém sabe exatamente o tamanho do formigueiro. E a mídia corporativa, que deveria correr atrás desse tipo de informação, se atribuiu o papel de ficar na torcida do "tudo bem".

Você, caro leitor, está vivendo um momento histórico: QUANDO A MÍDIA CORPORATIVA SE DESCOLOU COMPLETA E ABSOLUTAMENTE DO INTERESSE PÚBLICO. Fotografem, para deixar de recordação para os netinhos.
Fonte: Vi o Mundo

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