O paradoxo de Lula
Mauricio Dias
Embora falte prova factual, é possível se arriscar e dizer que, para desgosto do público em geral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a defender o que parece ser indefensável, ao assumir a proteção de José Sarney, ex-presidente da República e, pelo menos enquanto essas linhas são escritas, atual presidente do Senado.
É muito difícil concordar com Lula, que apareceu no cenário eleitoral com a tarefa, presumida, de restaurar a confiança na política, quase perdida em vinte anos de subordinação imposta pelos militares aos civis.
Não se trata de defender o ilícito. Nesse caso, o comportamento dos senadores, quase sem exceção, e a volúpia dos grandes burocratas do Legislativo, certamente tem levado muita gente a sentir o asco manifestado pelo falecido ditador português Oliveira Salazar, quando disse que detestava a política, “do fundo do coração”.
Quem não quiser se incomodar com a política torna-se objeto involuntário dela.
O lance de Lula é ousado, mas, politicamente compreensível. É preciso, nesse momento, repetir o óbvio. Política não é ciência, não é religião. Política é política. Ela é uma atividade humana civilizadora. A alternativa a ele é o conflito entre os homens, entre os países. E os políticos são frutos do tempo e da sociedade em que atuam. Duas forças que também condicionam o eleitor. O Senado é um espelho da sociedade brasileira. Ela acha feio o que vê no espelho.
Embora seja teoria, a política também é prática. Prepare o estômago quem não conhece a história seguinte. Foi por razões políticas que Luiz Carlos Prestes, secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro (PCB), ao sair da prisão após o Estado Novo subiu, no momento seguinte, no palanque eleitoral de Vargas. Naquelas circunstâncias, pediu votos para o homem que autorizou que a mulher de Prestes, Olga Benário, fosse entregue aos nazistas alemães.
O que aconteceria se Lula virasse as costas para os aliados políticos como Sarney que tiveram influência decisiva para a eleição dele no segundo turno de 2002?
É tudo que a oposição de agora, velha cúmplice de José Sarney, torce para que ele faça. Pressiona e instiga uma reação que enfraqueça a posição da base governista no Congresso. A oposição, diga-se, age como deve agir. Faz do escândalo gerado por erros uma arma de desestabilização do governo.
Não se pode esquecer que Lula, para ganhar a eleição, em 2002, escorregou para o centro. Um acerto tático com preço elevado a pagar.
Em 1989, muito antes da vitória máxima do PT, Raymundo Faoro mostrou a armadilha que estava à frente do PT: “Se o PT entender que o tempo não é crucial, vai se beneficiar muito com isso. O tipo de proposta do PT não é a Presidência da República. O importante são os meios para, na Presidência da República, promover aquelas reformas a que ele se propõe”.
Precipitado, o Partido dos Trabalhadores caiu na armadilha(CartaCapital, 26/06/09).
Um comentário:
A análise perfeita, nesse caso, passa pelo reconhecimento de que o "Coronel" é um político que, como foi dito recentemente, "não tem princípios, apenas fins". Sarney, a quem ele já chamou de ladrão, não é só um dos mais poderosos oligarcas que se acumpliciaram com o seu deplorável desgoverno, mas um político que muito contribuiu para que ele escapasse ileso na época do tenebroso mensalão. Ou seja, neste como em outros casos, u'a mão lava a outra. Neste como em outros caso, as duas permanecem sujas.
Em tempo: é preciso pôr fim aos "escãndalos gerados por erros" do desgoverno do "Cel." Lula da Silva!
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