22/07/2009
Do UOL Notícias
Em Brasília A visita do chanceler israelense Avigdor Liberman a Brasília, nesta quarta-feira (22), deve ser uma nova oportunidade para o Brasil defender sua participação como mediador no Oriente Médio. A análise é do professor de relações internacionais da PUC do Rio de Janeiro Nizar Messari. Do lado israelense, os encontros com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) também servirão para discutir a questão do Irã.
Para o especialista, o Brasil poderia desempenhar um papel semelhante ao da Noruega, que serviu como palco para a negociação de um acordo de paz no início da década de 90. "Há diferentes tipos de mediadores. O Brasil ofereceria um território neutro para negociações, manteria as negociações secretas. A Noruega foi um mediador de sucesso no processo de Oslo, sem ameaçar ou incentivar com recursos extras, como fazem os Estados Unidos, e até parte da União Européia, em um outro tipo de mediação".
"O Brasil é um país neutro que apoia o direito de Israel de existir, mas defende também um território palestino. Pode também demonstrar que a convivência pacífica é possível, como ocorre com as comunidades de origem árabe e judaica no país, que convivem de forma respeitosa e amigável", afirma.
Do lado israelense há um outro assunto em pauta: a influência do Irã. Em artigo publicado pelo jornal Folha de S.Paulo no último domingo, o embaixador de Israel no Brasil, Giora Becher, afirmou que, durante a visita, o chanceler apresentará o ponto de vista israelense sobre questões como "as ameaças nucleares e por mísseis do Irã".
"Os Estados Unidos pediram que o Brasil intermediasse a questão nuclear com o Irã e o presidente Lula teria aceitado. Por isso é importante para Israel mandar um alerta por meio dessa visita, embora saiba que o Brasil não levará nenhuma mensagem ameaçadora ao Irã, de forma alguma", diz o professor da PUC do Rio.
O pedido de ajuda brasileira na questão do Irã foi confirmado pelo porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, após reunião do presidente Barack Obama com Lula, no dia 9 deste mês, durante a reunião do G-8 (grupo de países mais industrializados do mundo, além da Rússia) realizada na Itália.
Críticas e terrorismo
Às vésperas da visita do chanceler israelense, o embaixador do Irã em Brasília, Mohsen Shaterzadeh, disse a jornalistas que o Brasil não será "facilmente influenciado por um país racista". O secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, utilizou o mesmo termo ao falar sobre o chanceler Lieberman em entrevista a um jornal israelense. Lieberman é conhecido por suas posições de extrema direita.
Para Messari, a declaração do secretário "não é motivo de grande preocupação". "Pode ter alguma cobrança por ser alguém do partido do presidente, mas (as declarações) não representam autoridades legítimas do país".
O professor também afasta preocupações quando o assunto é a possível existência de células terroristas na região da tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. "Os governos israelense e norte-americano têm insistido na presença terrorista nesta região, mas o Brasil, desde o governo Fernando Henrique Cardoso e também agora no governo Lula, tem negado. Podemos dizer que o Brasil está de olho nisso, até porque, se alguma coisa acontecesse, poderiam dizer que tinham nos avisado. Mas, em conversas que tive com várias pessoas, o que soube é que até agora não teve absolutamente nenhum motivo para preocupação".
A visita do chanceler israelense ao Brasil faz parte de uma viagem de dez dias à América Latina. Em novembro, o presidente de Israel, Shimon Peres, tem viagem programada ao Brasil. A última visita de um chanceler israelense ao Brasil ocorreu há 22 anos, quando o cargo era ocupado exatamente por Peres.
Lieberman também deverá tratar da visita de Lula a Israel, que poderá ocorrer no ano que vem, e seria a primeira de um presidente brasileiro àquele país.
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