quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Debate deixa Serra acuado, mas não terá impacto nas pesquisas


A avaliação geral que se pode fazer do debate presidencial promovido pela Folha/UOL é que Marina Silva teve um desempenho bem melhor que no debate anterior, da Band; Dilma também melhorou e Serra, sob ataque das adversárias, derrapou feio.

Por Cláudio Gonzalez


Mas o impacto do desempenho dos candidatos nas próximas pesquisas de opinião deve ser nenhum. No debate da Band, Plinio de Arruda Sampaio –que não foi convidado para o debate da Folha/UOL-- também se saiu bem, criou uma onda na internet em torno de seu nome, mas nas pesquisas pós-debate, o candidato do PSOL não alcançou nem 1% das intenções de voto.
Neste debate de agora, o impacto na opinião pública deve ser ainda menor, já que a audiência da internet é muito menor que a de um canal de TV aberta e os que assistiram ao debate do UOL são, majoritariamente, pessoas com o voto já definido. Portanto, foi um debate que dificilmente influenciará o voto de algum eleitor.

Por outro lado, toda a repercussão gerada por um debate como o de hoje ajuda a dar munição política para as campanhas e reverberam em outras mídias.

Está fartamente disponível na internet, em diversos canais, a integra do debate, portanto não vale a pena aqui registrar o que cada candidato disse. Mais vale avaliar o desempenho de cada um e apontar as principais escorregadas e gols de placa que cada participante cometeu.

Dilma Rousseff: melhorando aos poucos

Estava visivelmente mais tranqüila que no debate da Bandeirantes. Mesmo assim, deu algumas escorregadas na retórica, com suas já tradicionais “paradinhas” para pensar no que está falando e algum descuido com a pronúncia correta das palavras. Mas nada que comprometa sua performance. Foi para o ataque quando era necessário revidar e manteve-se calma quando atacada. No geral, conseguiu reforçar sua estratégia de campanha: colar sua imagem no sucesso do governo Lula e mostrar-se como a gerente dos bons resultados alcançados pelo atual governo.

Ao poupar Marina, Dilma conseguiu estabelecer uma “dobradinha” com a candidata do PV e, assim, o alvo preferencial dos ataques de ambas passou a ser José Serra.

Dilma poderia ter explorado mais alguns temas, como o do “loteamento de cargos”, que Serra transformou numa bandeira de campanha, mas que pode ser facilmente desmascarada, é só revelar como estão distribuídos os cargos de confiança em São Paulo. A candidata petista também precisa aprender a ser menos técnica, menos numérica e arriscar um pouco mais no tom emocional, começar a lançar mão de exemplos mais ligados ao cotidiano do povo. Contar “causos” de pessoas beneficiadas pelas políticas de governo e não apenas números.

Três perguntas que poderiam ser potencialmente prejudiciais à candidata –sobre aborto, sobre ser uma candidata “improvisada” e sobre sua saúde pós tratamento contra o câncer-- acabaram dando margem para que Dilma mostrasse seu ponto de vista e afastasse boatos alimentados pela oposição. Foram três momentos importantes e bons para a petista no debate. Outro ótimo momento de Dilma foi quando ela tratou do tema saneamento, colocando Serra na parede.

Marina Silva: palavras bonitas ao vento

Ajudada pela platéia e com uma postura um pouco mais ofensiva, Marina superou a participação tacanha que teve no debate da Band e conseguiu se apresentar no debate de hoje com um número considerável de bons momentos, apesar de ter sido a candidata que mais extrapolou o tempo das respostas, sendo cortada em quase todas as vezes que teve a palavra. Porém, os bons momentos de Marina no debate não ajudaram a mudar um problema que está na raiz de sua candidatura: que é a vacilação entre ser situação ou ser oposição. Marina se esforça para tentar ser um meio-termo, uma terceira-via, mas não encontra público suficiente para sustentar este perfil.

Outro problema: suas propostas são idealistas demais. Ela diz o que seria ideal para o país, mas não consegue chegar nem perto de demonstrar como conseguir este mundo ideal na prática. A começar pela questão das alianças. Marina tem enfatizado, e fez isso várias vezes no debate de hoje, que Serra e Dilma possuem alianças nefastas, baseadas no fisiologismo. É um discurso que pode até convencer um ou outro eleitor menos politizado, mas quem entende minimamente de política sabe que alianças são fundamentais para vencer eleição e governar.
No debate de hoje, a candidata atacou Serra e Dilma, mas muito mais Serra. Caso sua performance se reverta em votos, eles serão tirados provavelmente da cesta do tucano. A fala de encerramento de Marina foi, sem dúvida, a melhor. Mas suas palavras bonitas, jogadas ao vento, parecem que estão sempre caindo no chão, sem alcançar os corações e mentes da parcelo do eleitorado que decide eleição. Marina cativa um setor da classe média, mas é uma parcela muito, muito pequena para fazer a diferença no processo eleitoral.

José Serra: agressividade além da medida

O tucano perdeu a linha. Foi agressivo num tom acima do que seria desejável num debate com duas adversárias mulheres. Chegou a ser patético assistir suas tentativas de estabelecer uma “dobradinha” com Marina, que não surtiu efeito nenhum. Pelo contrário, como dissemos acima, a candidata do PV escolheu o tucano como alvo principal.

Um dos poucos bons momentos de Serra foi quando ele atacou a política do “quanto pior melhor” do PT. Mas ao fazer isso, cometeu um erro estratégico: fez a crítica toda baseada em fatos do passado, do governo passado, sendo que no resto de debate ficou insistindo que sua adversária deveria olhar para o futuro e não para o “retrovisor”. Ao recorrer ao retrovisor para criticar o PT, Serra enfraqueceu seu próprio discurso.

Outro erro: criticou o Enem, exame no qual mais de 4,6 milhões de estudantes se inscreveram, e não ofereceu alternativa. Apenas apontou a suposta “desmoralização” do exame. Pode ser uma aposta arriscada: pode ganhar a simpatia dos estudantes temerosos com a segurança da prova, mas pode também afastar aqueles que passam a enxergar em Serra um inimigo do Enem.

A saúde, tema predileto do candidato, quase não compareceu no debate.

Jornalistas fizeram as piores perguntas

A estrutura do debate permitiu um confronto mais amplo entre os candidatos, sem muitas amarras. As perguntas dos internautas oscilaram entre perguntas interessantes e bem formuladas --como a dos pedágios, a das doações de campanha, da candidatura improvisada-- e perguntas fracas e/ou mal formuladas como a dos impostos, a da transparência do governo federal e sobre “apagão tecnológico”.

Já as perguntas dos jornalistas da Folha e UOL foram horríveis. Josias de Souza foi, de longe, o mais prolixo, teceu uma pergunta interminável, um erro grave para um profissional da informação. Mas ajudou a constranger Serra ao questionar sobre as alianças do tucano com “picaretas” do DEM e do PTB. A jornalista Renata Lo Prete fez a pergunta que qualquer ser pensante sabe que um candidato não deve responder: se marina apoiaria Dilma no segundo turno. É óbvio que Marina só poderia responder o que respondeu: que segundo turno discute-se no segundo turno. E, por fim, Rodrigo Flores, gerente-geral de notícias do UOL, questionou Dilma sobre o câncer que enfrentou no ano passado. Pareceu uma pergunta indelicada e mórbida, mas deu brecha para Dilma afastar mais este boato da oposição: de que sua saúde estaria comprometida.

Foi o primeiro debate quente entre os candidatos. Mas dificilmente terá grande repercussão na massa do eleitorado. Talvez a grande contribuição que o debate do UOL tenha dado para as campanhas foi mostrar que Serra não deve esperar muito dos debates, pois não será com isso que ele irá conseguir virar o jogo. Marina, por outro lado, pode tentar arrancar dos debates o fio de esperança que alavancaria sua empacada candidatura. E Dilma, ao não cometer erros, anula as tentativas da oposição de tentar desqualificar seu preparo para governar o país. Portal Vermelho.

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