quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A euforia com a doença é pior do que um câncer

 

Marcelo Semer



De São Paulo


A revelação da grave doença do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva trouxe, infelizmente, bem mais do que uma onda de solidariedade.


A ira, o rancor e até um inacreditável entusiasmo ultrapassaram todos os limites do bom senso, descortinando um ódio de classe que, descobriu-se, ainda continua exageradamente impregnado.


O líder da juventude do PSDB usou o Twitter para equiparar jocosamente a luta de Lula contra o câncer a suas disputas eleitorais, lembrando sintomaticamente de "duas derrotas para FHC".


A jornalista Lúcia Hipólito não se constrangeu ao atribuir, sem qualquer autoridade, a doença a um suposto alcoolismo do ex-presidente -que estaria pagando agora o preço por todas que tomou.


No Facebook, uma hipócrita campanha se alastrou pela classe média bem nutrida provocando Lula a se tratar em hospitais do SUS, que pouquíssimos deles frequentam, aliás.


Com uma indisfarçável satisfação e a suprema ironia da desgraça, utilizaram a mais drástica das oportunidades para menosprezar a importância social do ex-presidente. Depois, é lógico, de terem comemorado a derrota do financiamento para a saúde pública.


A euforia com a doença alheia é ainda pior do que o próprio câncer.


O cálculo político também.


Não demorou nada desde que o diagnóstico se tornou público, para que os astrólogos da grande imprensa passassem a fazer suas assombrosas previsões.


Lula estará afastado das campanhas municipais, prejudicará os resultados de seu partido em 2012 e aqueles que dele dependerem vão ficar à míngua. Enfim, uma nova história política começando a ser escrita.


São os mesmos futurólogos, no entanto, que cravaram o mensalão como sua morte política, que desprezaram as chances de Dilma no começo da campanha e sepultaram o kirchnerismo na Argentina junto com o ex-presidente Nestor.


O que há de tão errado nas análises é que são frutos do desejo, não do conhecimento. Apostas da esperança, não da lógica.


Não se viu campanha para que o empresário José Alencar, que tratou de seu câncer na vice-presidência, frequentasse os hospitais públicos.


Fernando Henrique Cardoso criou a CPMF em seu governo para vitaminar a saúde, mas quem teve coragem de exigir que sua esposa fosse tratada no SUS, destinatário daqueles impostos?


Para muitos, Lula deve honrar sua origem pobre.


Não na hora de estimular transferências de renda ou impulsionar acesso dos mais humildes às universidades públicas -que incomodam ou dificultam o caminho da classe média.


Deve honrar sua origem de pobre vivendo como um pobre, vestindo-se como um pobre, tratando-se como um pobre.


A trajetória de Lula deveria ser um orgulho para o país. Um daqueles exemplos de como até um capitalismo mal ajambrado e uma democracia censitária como a nossa permitem, vez por outra, tal ascensão.


Mas para quem está no andar de cima, é um ultraje que ele tenha deslocado o foco do Estado para a pobreza, valorizado tanto os carentes, estimulado, sobretudo, as regiões e as populações mais incultas.


Afinal, as entradas social e de serviço não podem jamais se confundir num país de tantas casas-grandes e senzalas.


O recrudescimento do discurso dos colunistas do ódio, a campanha eleitoral que beirou o terrorismo, a xenofobia rediviva, enfim, colheram seus frutos.


E muitos daqueles que estimularam a política do tudo-ou-nada, demonizando a figura de Lula, acostumando o público aos ataques pessoais mais repulsivos, de repente se assustaram com os ecos de seus próprios leitores.


Lula não é um semideus. Não está isento de críticas por causa da doença e não traz consigo uma história de vida sem defeitos ou perversões -como, de resto, nenhum de nós.


Mas a delicada situação em que se encontra não é a melhor oportunidade para que nos divorciemos de nossa humanidade.


Marcelo Semer é Juiz de Direito em São Paulo. Foi presidente da Associação Juízes para a Democracia. Coordenador de "Direitos Humanos: essência do Direito do Trabalho" (LTr) e autor de "Crime Impossível" (Malheiros) e do romance "Certas Canções" (7 Letras). Responsável pelo Blog Sem Juízo.

5 comentários:

Anônimo disse...

Ninguém deseja mal ao Lula, petralha. Mesmo porque isso é prática típica de petralhas, quando se trata dos seus adversários.

Tudo o que desejaríamos é que ele prestigiasse o SUS, que ele mesmo assegurou aos brasileiros que proporciona uma assistência "quase perfeita" e que "dá até vontade de ficar doente para usar".

Não acha, petralha, que já está na hora de Lula, um homem que enriqueceu, não no trabalho, mas na política, ver de perto como são tratados, na rede pública, os pobres que ele diz defender? Ou ele prefere mesmo os hospitais dos "loiros de olhos azuis"?

De minha parte, espero que o seu tratamento seja muito bem sucedido e que ele viva por muitos anos, até que a justiça brasileira - que agora anda cega, surda, muda e de mãos atadas - o alcance para puni-lo pelos assombrosos "malfeitos" do seu infame desgoverno.

jota50 disse...

A Lucia Hipócrita que se cuide, porque ela também pode ter um câncer, pois ela é chegada numa manguaça..

RASIL disse...

Senhor! Pedoai esse anônimo babaca por ele não sabe o que fala, nem porque fala!...Na verdade tira a bronca das suas reais intenções...Pura hipocrisia discarada!...
O presidente LULA tem um cancer passageiro e vai ficar logo bom porque quem quer isso não é só o povo brasileiro, é o mundo inteiro que vê nele uma esperança para a crise global em que vivemos. Agora quem precisa de tratamento é essa eleite brasileira odienta que tem cancer na alma e está em estado terminal, porque a doença já lhes roubou a razão e o discernimento. Saúde presidente LULA!... "Os cães ladram enquanto a caravana passa!...

Maria Amélia Martins Branco disse...

Apoiado, RASIL, esse Anônimo é um "troll" Tucano infiltrado aqui, deve receber dinheiro da corrupção tucana para vomitar o despeito, a ignorância, a inveja, o ódio, o preconceito e outros sentimentos baixos que bem fazem parte dessa corja. Anônimo Lula vai sair dessa por que Deus quer e conta com orações de 84% da população que é grata a ele por tudo de positivo e de bom que ele fez pelas pessoas carentes, miseráveis que o teu ídolo FHC/Serra não fez, ao contrário vendeu o patrimônio do povo e mandou o dinheiro para Ilhas Cayman, quanto você desejar a saúde de Lula, me engana que eu gosto, agora, desejo a você de coração que nunca tenha essa maldita doença, não a desejo ao meu pior inimigo pois sei o quanto é doído (meu pai morreu dessa doença)sou cristã e desejar mal aos outros não faz parte do meu caráter, tem um provérbio que diz:
"Com a régua que medes o próximo com ela serás medido" portanto cuidado com esses pensamentos, com as bragas, com os desejos de morte para as pessoas.

J. Carlos/Aju-SE disse...

Para o anônimo.
Nos Estados Unidos, apesar de ser primeiro mundo, tem pra mais de 50 mil pessoas desabrigados, ou seja, na extrema pobreza. E como lá não tem o SUS, muitos deles morrem sem atendimento médico, a não ser quando é amparado pelo Exercito da Salvação ou em abrigos sustentados por caridosos. Portanto, com toda a precariedade do SUS, e que por sinal os governos de Lula e Dilma promoveram significantes melhorias, ainda é a salvação dos menos favorecidos. O que os neoliberais querem é entregar de mão beijada a saúde pública para iniciativa privada que com certeza seremos explorados por empresários gananciosos. Enquanto que o dinheiro que iria para saúde vai para o bolso dos corruptos que a imprensa também corrupta não divulga e que otário assim como você fica falando besteira.