Quantas crianças e adolescentes assistiram a barbárie sofrida por suas famílias e plantaram ódio e vingança em seus corações? Quantos ex-moradores de Pinheirinho perderam a fé e se tornarão assaltantes, traficantes, viciados ou prostitutas? Quantos perderam o emprego depois de terem sido arrancados de suas casas e jogados na rua como lixo junto com suas famílias? Quem vai pagar por isso, governador Alckmin?
S. José dos Campos é uma das cidades mais prósperas do interior paulista. É o maior centro tecnológico aero-espacial do Brasil. Algumas das empresas instaladas na cidade: Panasonic, Johnson & Johnson, General Motors, Petrobras, Ericsson, Monsanto, Mectron, Embraer (sede), entre outras. Possui importantes centros de ensino e pesquisas como: o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, o Instituto de Controle do Espaço Aéreo, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Instituto de Estudos Avançados, o Instituto de Aeronáutica e Espaço, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o Instituto de Fomento Industrial, Centro de Computação da Aeronáutica de São José dos Campos, o Instituto de Pesquisa & Desenvolvimento.
O perfil do eleitor de S. José dos Campos, como em boa parte do interior paulista, é conservador. Portanto vota nos candidatos do PSDB/DEM. Pois bem. Geraldo Alckmin iniciou sua “carreira” ali, no Vale do Paraíba. Boa parte do seu rabo político está presa naquela região.
Até bem pouco tempo, Pinheirinho não era uma área de grande valor. Aguardava decisão da justiça para ser vendido e sua receita ressarcir as empresas credoras da Selecta (Naji Nahas). Logicamente, como todo capitalista e neste caso, o mais infame, o especulador que não produz nada, não gera empregos e apenas joga seus dados na Bolsa de Valores, Nahas deixou de pagar os impostos do terreno, já que, juridicamente, não lhe pertenceria mais. As dívidas do IPTU se acumularam e hoje atingem a casa dos 15 milhões. Mas, sabe como é, né? Prefeito da mesma famiglia tucana que é da mesma famiglia das empresas credoras, que são da mesma famiglia dos advogados, dos juízes… a dívida engordava na lentidão da justiça contra a Selecta para chegar ao epílogo. E sabemos, assim como até uma portas sabe, que naquele típico emaranhado de engrenagens jurídicas que envolvem a espécie “colarinho branco”, engavetam-se seus processos e suas dívidas entra prefeito sai prefeito. Ad infinitum. Por isso o bairro de Pinheirinho tem 8 anos de idade.
Até 2004, o terreno de Pinheirinho produzia grama e era habitado por diversas famílias de… formigas. Como é natural dessa espécie de área urbana largada às moscas, foi sendo invadido por gente pobre, mão-de-obra em S. José dos Campos e região. Pedreiros, eletricistas, carpinteiros, metalúrgicos, operários, diaristas – além, é claro, dos sem-teto e desempregados (que certamente são minoria nos dias de hoje). Embora tecnicamente ilegal, como a quase totalidade das favelas Brasil a fora, a invasão de Pinheirinho não incomodou ninguém nos últimos anos. Pelo contrário, até favorecia as empresas da região por manter parte de seus empregados próximos aos seus locais de trabalho.
Aos poucos, Pinheirinho foi se transformando em bairro. Embalados pelo crescimento econômico dos últimos anos, seus habitantes foram construindo suas casas de alvenaria em mutirões suados e se integraram à comunidade de seu entorno. Como qualquer grupo humano que ascende socialmente, foram ampliando suas famílias e seus sonhos. Mobiliaram suas casas, adquiriram eletrodomésticos básicos, seus filhos foram matriculados nas escolas públicas da região, passaram a frequentar a igreja local, pequenos comércios iam se instalando e a essa altura já tinham até sua própria rádio comunitária. Seriam um exemplo: um povo que transformou uma área vazia num bairro habitado por trabalhadores que alcançaram a cidadania por seu próprio esforço e determinação. O Minha Casa, Minha Vida só daria o toque final…
Por outro lado, o Governo Federal reconhecia em Pinheirinho o mesmo problema de milhares de favelas em todo o território nacional.Desde 2004, vinha buscando dialogo com a prefeitura de S. José os Campos para legalizar a área ou viabilizar outra alternativa para os 6 mil habitantes da favela. Mas não é de hoje que a arrogância dos chefes paulistas é empecilho para os governos petistas. Ainda mais no interior, ensebado que é de um conservadorismo arcaico. Abrem a porta só para recolher verbas federais em parcerias como o metrô e conjuntos habitacionais. Em seguida, apagam o Governo Federal das placas das obras. Assim, raramente o paulista fica sabendo dos investimentos federais no estado. O prefeito de S. José dos Campos, assim como muitos do PSDB tem visão higienista em relação aos pobres. Se recusou a cadastrar as famílias de Pinheirinho que já estariam com um pé no Minha Casa, Minha Vida e a área a um passo de ser urbanizada. Sabia que o plano de Alckmin era expulsá-las definitivamente da cidade.
Mas, por que a urgência, a selvageria e o atropelo em esvaziar Pinheirinho antes mesmo de providenciar o mínimo de estrutura para acomodar o povo de lá? Um dos motivos da pressa era a necessidade de “liberar” a área antes do fim do recesso parlamentar. Alckmin não queria amolação de deputado esbravejando. Já bastavam os entraves causados na guerra de liminares que precedeu o ataque. Na sexta-feira, 20 de janeiro de 2012, o destino de Pinheirinho já estava traçado. A reintegração de posse seria na porrada. Mesmo que resultasse em “acidentes de percurso” como a morte de alguns habitantes. Outro motivo pode ter sido o fato de que S. José dos Campos fôra indicada pela Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo como uma dascidades-sede das seleções que disputarão a Copa do Mundo. E essa “indicação” estaria amarrada a grupos investidores também amarrados ao rabo político de Alckmin. Por isso a área supervalorizou em menos de dois anos. Certamente o governador vinha sendo pressionado pelos investidores para “resolver o problema humano” de Pinheirinho. Assim, de um dia para outro a área tornou-se “invadida por vândalos, traficantes, bandidos – a escória da humanidade”, segundo o PiG. Em alguma gaveta da TurSP, devem estar guardadas as plantas e estudos para a construção de toda a infra-estrutura que receberá os times da Copa: hotéis 5 estrelas, centros de treinamento, restaurantes, shopping-center etc.
Domingo, 22 de janeiro, as famílias de Pinheirinho dormiam tranquilas. Sonhavam seus filhos crescidos, sonhavam outros filhos por nascer num mundo melhor, sonhavam dignidade. E como é de costume aos domingos, vestiriam suas melhores roupas. Haveria um churrasco na casa de fulano, uma festa de aniversário na casa de sicrano, o almoço de família na casa de beltrano. Um casal de adolescentes iria descobrir o primeiro beijo e as crianças iriam sujar suas roupas jogando futebol na rua a ser asfaltada em breve…
”Mataram um aqui mesmo…foi execução… mataram a queima roupa… todo mundo viu”
Fonte:O que será que me dá?
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