quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Pinheirinho, nova fronteira da luta política



Pinheirinho saiu das manchetes e o núcleo duro da grande imprensa continua tentando aliviar a barra do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, mas a injustiça fala mais alto. As denúncias vem caindo sobre o colo dos repórteres. E não estão no Portal da Transparência. Por exemplo, confiram esse vídeo. Não é o repórter que aborda a moradora, e sim esta que parte para cima dos jornalistas, desesperada, chorando muito:



Hoje o Elio Gaspari publica um texto lamentável, culpando as lideranças do Pinheirinho pela violência sofrida pelos moradores. Também culpa o governo federal, omitindo que autoridades locais atropelaram acordos que vinham sendo discutidos com a União, sem contar que a ação foi deliberadamente ocultada de todos os envolvidos, justamente para que houvesse o “ato consumado”. A PM temia inclusive um choque com forças federais, então tudo foi feito para que não houvesse chance de defesa.

 
Não estou dizendo que o governo federal não tem culpa no cartório. A União tem sempre culpa também, por tudo. Mas a dispersão de responsabilidades apenas beneficia o principal responsável, o responsável direto: o governador Geraldo Alckmin.

 
Na blogosfera, o comentário que mais chamou atenção veio de Ricardo Boechat, âncora da Band, que faz acusações duríssimas contra o governador Geraldo Alckmin pela falta de sensibilidade social. Boechat lembrou a Alckmin que não adianta ir à Igreja, ler a Bíblia, e depois permitir que sua PM pratique uma barbárie contra pessoas pobres e indefesas. O jornalista também rechaçou a ideia de que havia “espertos” em Pinheirinho. “Quem é esperto não iria morar em Pinheiro. Isso é balela. Lá pode ter um esperto ou outro, como em qualquer lugar, mas a maioria é gente pobre e trabalhadora”.


Alguns setores da esquerda, no entanto, estão jogando um pouco de fumaça no episódio, ao fazer uma crítica generalizada às desocupações que ocorrem no Brasil, como um todo. Não é bem assim. Desocupar terrenos para construção de uma estrada, uma hidrelétrica, uma estação de metrô, um estádio de futebol, atende a uma função social maior, e na maioria dos casos há pagamento de indenizações e exaustivas negociações para que as famílias deixem o local. Chegou-se ao cúmulo de comparar Pinheirinho a Belo Monte, o que é uma estupidez. Belo Monte vai gerar bem mais emprego do que a quantidade de índios que moravam nas proximidades; haverá indenização em dinheiro, programas sociais, e não há policiais adentrando a aldeia pela madrugada, espancando gente, nem tratores derrubando as casas com tudo dentro. A desocupação é feita de maneira ordenada, pacífica, lenta, ao longo de meses. Não é uma ação militar de “Choque e Terror”, como se Pinheirinho fosse um amontoado de talibãs terroristas.


A truculência é tanta que o governo se apressou em demolir as casas sem mesmo esperar que os moradores retirassem seus pertences.

 
E como prevíamos, o PSDB como um todo abraçou a ação tucana em Pinheirinho. É bom porque as coisas agora ficam mais claras.

Por falar em Belo Monte, uma amiga me perguntou se os atores da Globo irão fazer um vídeo de protesto à violência em Pinheirinho… Cade o pessoal da Gota?

Nenhuma cidade teria metrôs, museus, avenidas, viadutos, trens de superfície, estádios, sem promover desocupações. O problema não é desocupar, é como a ação é realizada. No caso de Pinheiro, além de truculência, falta de planejamento, artimanhas para ludibriar acordos, açodamento, há um vazio aterrador no próprio sentido da ação. Para quê?

O caso de Pinheiro é um absurdo porque a desocupação não teve nenhuma finalidade urbanística, industrial ou pública. Tratou-se apenas de restituir o terreno à massa falida de um especulador condenado, Naji Nahas. O sujeito quebrou a bolsa do Rio, foi preso na Satiagraha por envolvimentos nos esquemas de lavagem do dinheiro da corrupção, e mesmo assim o governo de SP e sua Justiça se dão ao trabalho de pôr seus interesses acima de qualquer ponderação humanitária ou social.

Outra crítica que tenho lido é sobre a exploração política do caso. Isso existe mesmo. Mas essa não é uma característica da democracia? Alguns setores acham que vivemos ainda numa ditadura, e que se pode brutalizar seis mil pessoas, jogá-las em abrigos infectos, sem banheiros, sem água, sem colchões, demolir suas casas com tudo dentro, e ainda assim não se pode protestar? E qual a melhor forma de protesto que não o protesto político? O que é mais democrático e pacífico do que pressionar um governador truculento e autoritário através de uma confrontação política?

A mídia e segmentos da direita tentam continuamente criminalizar a política, com isso deixam transparecer os vícios adquiridos na ditadura, quando qualquer protesto social era considerado subversivo, ou a serviço do “partidão”.

É interessante acompanhar o comportamento dos repórteres. Quando há uma “crise política”, eles perseguem ministros e a própria presidente da república em toda parte, acuando-lhes com as mesmas perguntas. Não fazem a mesma coisa com Alckmin, ou com qualquer político tucano.

As manifestações da OAB, duríssimas, contra a desocupação de Pinheirinho, são registradas em notinhas. Se fossem contra o PT, converter-se-iam em manchetes garrafais.


Pinheirinho tornou-se um marco da luta política no Brasil, uma chance de estabelecer um confronto de visões de mundo, entre aqueles que ainda consideram o problema social uma questão de polícia, e os que almejam construir soluções através do diálogo e da ação política concreta.

 
A oposição vive acusando o lulopetismo de ter “cooptado” os movimentos sociais. Eles tem ódio do governo ter ouvido os movimentos, atendido alguns de seus pleitos. Agora sabemos (ou melhor, lembramos) a sua verdadeira opinião sobre a maneira como esses movimentos devem ser tratados. Na base de porrete, gás lacrimogênico, tratores. Podemos ter a certeza que governos tucanos jamais “cooptarão” os movimentos sociais. Eles preferem “a solução final”.



Atualização: Matéria recente do site Espresso SP sobre a situação no Pinheiro


Artigo de Miguel do Rosário, no O Cafezinho



Obs: foto e texto pescado no Facebook

Um comentário:

Anônimo disse...

É disso que os paulistas e os paulistanos gostam: cacete e porretada da polícia. Os paulistanos adoram nadar nas enxurradas e receber paulada da polícia. Continuem, pois, votando no PSDB. Vocês merecem os governos que têm.