quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Uma pequena notícia que explica muita coisa


Por Marino Boeira



Uma pequena notícia, que ganhou pouco destaque na mídia, ajuda a explicar o furor com que os grandes veículos de comunicação, o Jornal Nacional da Rede Globo à frente, se jogaram na divulgação do julgamento do chamado “mensalão” pelo Supremo Tribunal Federal, num grande esforço para implodir a imagem do PT e com isso desestabilizar o Governo Federal.

A notícia foi a divulgação da pesquisa encomendada pela CNT – Confederação Nacional do Transporte – sobre as intenções de voto dos brasileiros na eleição presidencial de 2014. A pesquisa realizada entre os dias 18 e 22 de julho, quando o noticiário sobre o “mensalão” já ocupava grandes espaços na mídia, ouviu duas mil pessoas em 134 municípios de cinco regiões do Brasil e tem uma margem de erro de 2,2 pontos percentuais.

Caso as eleições fossem hoje,segundo a pesquisa, Lula teria 69,8% das intenções de voto, contra 11,9% do senador do PSDB, Aécio Neves e 3,5% do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB. No caso do candidato do PT fosse Dilma Rousseff, ainda assim a vitória aconteceria no primeiro turno. Dilma ficou 59% das intenções de voto, contra 14,8%, de Aécio e 6,5%, de Campos.
A mesma pesquisa revelou que a avaliação positiva do governo Dilma ficou em 56,6% em julho último, contra 49,2% em agosto de 2011. Apenas 7% dos entrevistados fizeram uma avaliação negativa do governo Dilma.

Com estes números, as perspectivas de uma volta ao poder, através das urnas do PSDB e seu projeto entreguista , parecem irremediavelmente comprometidas. Resta então a estratégia, tantas vezes usada na história do Brasil – casos de Getúlio Vargas em 1954 e João Goulart, em 1964 – de desencadear uma ampla campanha de marketing,através dos grandes veículos de comunicação, visando desestabilizar o governo com ataques diretos ao seu principal partido de sustentação. O mote é o mesmo de 54 e 64: corrupção dos políticos que dão sustentação ao governo.

Como estamos na era da comunicação, o centro das denúncias se concentra no desvio de vultosas verbas de publicidade para abastecer contas de políticos e partidos. Os altos custos dos espaços publicitários dos grandes veículos de comunicação, principalmente a televisão,fazem com que campanhas de divulgação de órgãos públicos federais, que devem ter uma cobertura nacional, sejam sempre orçadas em milhões de reais, o que desperta a cobiça de todos os envolvidos no processo, sejam agências de publicidade, fornecedores, veículos de comunicação ou políticos investidos de poder de autorizar a publicação das peças publicitárias.

As licitações feitas para a escolha das agências que vão controlar estas verbas milionárias têm itens extremamente subjetivos de avaliação, o que facilita o tráfico de interesse entre as partes envolvidas. No caso do chamado “mensalão” , uma das questões principais é definir a origem legal ou não das verbas que o publicitário Marcos Valério usava para abastecer a “caixa 2” do PT, segundo Delúbio Soares ou para subornar políticos, segundo as acusações do procurador geral da República, Roberto Gurgel.

Os veículos de comunicação, na busca de uma ampliação das verbas que disputam no bolo publicitário, oferecem a chamada a chamada “bonificação de volume”,um retorno da verba aplicada pela agência, a partir de um determinado patamar de investimento publicitário. Segundo Marco Valério, pelo contrato, esta bonificação – no caso atual, a do Banco do Brasil – pertencia à agência e serviu para irrigar o chamado “valerioduto”, iniciado em 1998, com o financiamento da campanha do atual senador do PSDB, Eduardo Azeredo ao governo de Minas e continuada depois com o governo federal do PT. Segundo os acusadores, esta bonificação devia voltar ao órgão público que autorizou a verba.

De tudo isso se depreende que a mistura de interesses entre governos e agências de publicidade, serve muitas vezes para práticas ilegais, que merecem ser punidas, mas que não começaram agora e não têm a dimensão que uma mídia facciosa pretende dar. São práticas que podem comprometer algumas figuras do governo e alguns publicitários, mas não o governo como instituição, nem os publicitários como classe.

Marino Boeira é professor universitário


Fonte:Sul21

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