Por Marino Boeira
Uma pequena notícia, que ganhou pouco destaque na mídia, ajuda a explicar o
furor com que os grandes veículos de comunicação, o Jornal Nacional da Rede
Globo à frente, se jogaram na divulgação do julgamento do chamado “mensalão”
pelo Supremo Tribunal Federal,
num grande esforço para implodir a imagem do PT e com isso desestabilizar o
Governo Federal.
A notícia foi a divulgação da pesquisa encomendada pela CNT – Confederação
Nacional do Transporte – sobre as intenções de voto dos brasileiros na eleição
presidencial de 2014. A pesquisa realizada entre os dias 18 e 22 de julho,
quando o noticiário sobre o “mensalão” já ocupava grandes espaços na mídia,
ouviu duas mil pessoas em 134 municípios de cinco regiões do Brasil e tem uma
margem de erro de 2,2 pontos
percentuais.
Caso as eleições fossem hoje,segundo a pesquisa, Lula teria 69,8% das
intenções de voto, contra 11,9% do senador do PSDB, Aécio Neves e 3,5% do
governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB. No caso do candidato do PT
fosse Dilma Rousseff, ainda assim a vitória aconteceria no primeiro turno. Dilma
ficou 59% das intenções de voto, contra 14,8%, de Aécio e 6,5%, de Campos.
A mesma pesquisa revelou que a avaliação positiva do governo Dilma ficou em
56,6% em julho último, contra 49,2% em agosto de 2011. Apenas 7% dos
entrevistados fizeram uma avaliação negativa do governo Dilma.
Com estes números, as perspectivas de uma volta ao poder, através das urnas
do PSDB e seu projeto entreguista , parecem irremediavelmente comprometidas.
Resta então a estratégia, tantas vezes usada na história do Brasil – casos de
Getúlio Vargas em 1954 e João Goulart, em 1964 – de desencadear uma ampla
campanha de marketing,através dos grandes veículos de comunicação, visando
desestabilizar o governo com ataques diretos ao seu principal partido de
sustentação. O mote é o mesmo de 54 e 64: corrupção dos políticos que dão
sustentação ao governo.
Como estamos na era da comunicação, o centro das denúncias se concentra no
desvio de vultosas verbas de publicidade para abastecer contas de políticos e
partidos. Os altos custos dos espaços publicitários dos grandes veículos de
comunicação, principalmente a televisão,fazem com que campanhas de divulgação de
órgãos públicos federais, que devem ter uma cobertura nacional, sejam sempre
orçadas em milhões de reais, o que desperta a cobiça de todos os envolvidos no
processo, sejam agências de publicidade, fornecedores, veículos de comunicação
ou políticos investidos de poder de autorizar a publicação das peças
publicitárias.
As licitações feitas para a escolha das agências que vão controlar estas
verbas milionárias têm itens extremamente subjetivos de avaliação, o que
facilita o tráfico de interesse entre as partes envolvidas. No caso do chamado
“mensalão” , uma das questões principais é definir a origem legal ou não das
verbas que o publicitário Marcos Valério usava para abastecer a “caixa 2” do PT,
segundo Delúbio Soares ou para subornar políticos, segundo as acusações do
procurador geral
da República, Roberto Gurgel.
Os veículos de comunicação, na busca
de uma ampliação das verbas que disputam no bolo publicitário, oferecem a
chamada a chamada “bonificação de volume”,um retorno da verba aplicada pela
agência, a partir de um determinado patamar de investimento publicitário.
Segundo Marco Valério, pelo contrato, esta bonificação – no caso atual, a do
Banco do Brasil – pertencia à agência e serviu para irrigar o chamado
“valerioduto”, iniciado em 1998, com o financiamento da campanha do atual senador do PSDB, Eduardo
Azeredo ao governo de Minas e continuada depois com o governo federal do PT.
Segundo os acusadores, esta bonificação devia voltar ao órgão público que
autorizou a verba.
De tudo isso se depreende que a mistura de interesses entre governos e
agências de publicidade, serve muitas vezes para práticas ilegais, que merecem
ser punidas, mas que não começaram agora e não têm a dimensão que uma mídia
facciosa pretende dar. São práticas que podem comprometer algumas figuras do
governo e alguns publicitários, mas não o governo como instituição, nem os
publicitários como classe.
Marino Boeira é professor universitário
Fonte:Sul21
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