Tinha já prometido a mim
mesmo não falar mais num determinado blogueiro de extrema direita que, em
poucos dias, foi transformado num minizoo por três mulheres. Uma o chamou de
rottweiller, por latir, outra de pato, por fazer várias coisas e todas mal, e a
terceira de burro, por razões fáceis de entender.
Mas a repercussão alcançada
sobretudo pela última delas – a que chamou o blogueiro de burro, Míriam Leitão
— me obriga a voltar a ele. Porque se instalou uma perplexidade: o que está
acontecendo na mídia corporativa e conservadora? Por que a dissonância recente
depois de tanta concordância?
O marco zero, para mim, foi
um artigo em que Noblat bateu forte em Joaquim Barbosa, tratado como semideus
pela mídia. Aquilo não estava no roteiro, não em Noblat, não no Globo.
Notei. E especulei, na
época, que poderia estar havendo um cansaço nos colunistas que, para encurtar,
são pagos para defender os interesses e privilégios de seus patrões.
Mesmo os melhores salários
são insuficientes quando você olha o espelho pela manhã e se diz: lá vou eu
contribuir, como faço todos os dias, por um país tão iníquo quanto este.
E existe também a questão da
posteridade. Carlos Lacerda fez o mesmo em seu tempo: hoje é amplamente
desprezado pela história como um canalha que usou o jornalismo para defender os
poderosos.
Ninguém quer ser tido pela
posteridade como um canalha, um vendido, um homem vil como Carlos Lacerda.
Que os bilionários donos de
empresas de mídia se batam fervorosamente pelas mamatas – benesses estatais —
que os fizeram acumular fortunas fabulosas é compreensível. Mas que jornalistas
assalariados os ajudem nisso, em detrimento da sociedade, dos pobres, dos
favelados, isso é outra questão.
Chega uma momento em que
você explode.
É dentro desse contexto que
entendo Suzana Singer qualificar certo novo colunista como 'rottweiler'. Ela
não aguentou. Jorrou dela, no instinto e não na razão, a coluna revoltada não
contra o colunista, mas contra o jornal que o convidou.
Tenho para mim que este tipo
de coisa vai acontecer cada vez mais: revoltas nas redações explosivas, súbitas
contra empresas jornalísticas que, como a Folha de Singer, radicalizaram sua
luta por privilégios e contra um Brasil socialmente justo.
Também Míriam Leitão
escreveu com o instinto, mas com seus cuidados habituais de boa funcionária da
Globo. Falou na "direita hidrófoba" representada por certo colunista,
mas não citou expoentes desse grupo dentro da Globo, como Jabor. Falou em
Rodrigo Constantino, mas para este ninguém liga, dada sua irrelevância.
É divertido ler, em
retrospectiva, um catatau em que o alvo de Míriam Leitão a atacava. Nele, era
cobrado dela que se desculpasse ao senador Demóstenes Torres, que ela chamara
de 'famoso sem noção'. Ela é tratada como vigarista, mentirosa, falaciosa, e
recebe patéticas lições de economia sobre a questão cambial — tudo isso na
defesa de Demóstenes.
Veja aqui quem quiser.
Há, também, uma outra lógica
no ataque aos hidrófobos. Eles atrapalham a causa pela qual atabalhoadamente se
batem. Não conquistam adeptos, mas afastam as pessoas que não são
fundamentalistas como eles mesmos.
O certo polemista tratado
como burro, pato e rottweiler: que eleição ele ganhou desde que apareceu, já na
meia idade, para o jornalismo hidrófobo graças à radicalização da Veja?
Me parece que Míriam Leitão
está sugerindo ao PSDB que se afaste dos hidrófobos de direita. Serra, por
exemplo, é amplamente associado ao blogueiro-zoológico, e tão rejeitado na
política como ele é entre os jornalistas de verdade.
Nisso, e pelo menos nisso,
Míriam Leitão está certa: ou o PSDB se afasta dos hidrófobos, e sai da direita
vociferante rumo ao centro em que surgiu, ou os hidrófobos acabam com o PSDB.
Nenhum comentário:
Postar um comentário