Por Celso Marcondes
Quando a oposição
conservadora, sob os auspícios da Rede Globo, resolveu dar a tal trégua
na sua caça à presidenta, muito se especulou sobre os motivos da súbita
guinada. Logo ficaram evidentes as duas motivações básicas: o medo da
crise econômica se acentuar, prejudicando ainda mais os negócios das
elites e a falta de alternativas políticas rápidas e seguras.
Um terceiro motivo para a
freada no ímpeto golpista não ficou tão claro, mas depois das
manifestações deste dia 20, só não o vê quem não quer: era o medo da
reação popular frente ao golpe em articulação.
O que aconteceu , em
particular em São Paulo, repetiu exatamente o mesmo fenômeno assistido
no final do segundo-turno das eleições de 2014: diante da ameaça de
retrocesso, as forças progressistas e de esquerda não vacilam ao
escolher seu lado e ir às ruas para defendê-lo.
O que se viu, do Largo da
Batata a Avenida Paulista, foi a demonstração vigorosa de um sentimento
popular de defesa da democracia e das conquistas sociais do último
período. O grito de “Não vai ter golpe” foi a expressão maior deste
sentimento.
A manifestação vermelha,
negra, pobre e jovem deve ter provocado calafrios nas varandas de
edifícios dos Jardins iguais aqueles que senti ao andar pelas mesmas
ruas no domingo, 16.
As manifestações
colocaram uma trava forte nos anseios de Aécio Neves, mas não foi só
esse o seu sentido. Os gritos contra os ajustes, contra Eduardo Cunha e a
“Agenda Brasil” do Renan, marcaram todo o trajeto.
A vitória de Dilma nas
urnas contou com a ajuda inestimável de um sem número de entidades,
núcleos e movimentos populares organizados. Desde pequenos agrupamentos
de articuladores de saraus nas periferias paulistanas até movimentos
nacionais, como o MST, passando pelos movimentos de sem teto, GLBTs, do
movimento negro, culturais, jovens, de mulheres e tantos outros mais.
Exatamente esses movimentos voltaram ontem às ruas de São Paulo.
Como ocorreu ao final das
eleições de 2014, todos eles sentem - mas nem todos admitem - que não é
só o PT e seu legado que estarão em risco se vier uma virada
conservadora. Mas eles têm uma pauta de reivindicações pendente.
A esquerda deu a largada
para as manifestações de junho de 2013. A direita entrou em cena depois e
passou a mostrar sua face conservadora e reacionária nas ruas, até
então desprezadas por ela.
Entre o dia 16 e o dia 20
articulistas apressados vaticinaram: “o PT perdeu as ruas”. Se tivessem
esperado mais alguns dias e dessem uma passadinha ontem no Largo da
Batata teriam que, no mínimo, avaliar o cenário com mais nuances.
O PT estava lá, mas não estava só. E todas as ruas agora apontam para uma bifurcação.
* Celso Marcondes é diretor do Instituto Lula
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