A segunda prisão do ex-ministro da Casa
Civil, José Dirceu, mais do que o encarceramento do empreiteiro Marcelo
Odebrecht, significa a cereja no bolo da operação Lava Jato, coordenada
pelo juiz de primeira instância, Sérgio Moro, o paladino do Paraná, que,
juntamente com os delegados aecistas da Polícia Federal, no mesmo
Estado, tem pautado a política do Brasil e causado prejuízos enormes às
suas grandes empresas públicas e privadas.
A prisão de José Dirceu é apenas mais um capítulo elaborado de uma
novela perversa, que sangra e enfraquece o Brasil, a ter como roteiro o
embate político que rasga as regras do jogo democrático, e,
consequentemente, atende aos interesses dos políticos udenistas do PSDB,
partido que se tornou criminosamente golpista e que desde o dia
seguinte à vitória eleitoral da presidenta Dilma Rousseff, em outubro de
2014, tem, sistematicamente, apostado no impeachment, porque por
intermédio do voto direto não conquista a Presidência da República.
Nunca, em nenhum momento da história deste País, a não ser o
interregno com a eleição de Jânio Quadros, a direita chegou ao poder
pelo voto livre e universal, implementado a partir de 1945 quando o
marechal Eurico Gaspar Dutra conquistou a Presidência pelo PSD. Contudo,
apesar de ser um político conservador, Jânio era independente e não
seguia as orientações e os desejos políticos da UDN, com a qual logo
rompeu e, inclusive, estabeleceu uma diplomacia heterodoxa, ao ponto de
conversar e negociar com Cuba de Fidel Castro e Ernesto Che Guevara, em
plena guerra fria, o que causou furor e dissabor aos corvos lacerdistas.
José Dirceu cansou de comprovar, por meio de seus advogados, que sua
empresa, a JD Assessoria e Consultoria, prestou serviços de assessoria e
consulta de forma legal, com apresentação de recibos e declarações de
impostos, além de ter aberta suas contas por força de determinação da
Justiça, que nada de ilegal encontrou. Dirceu, na verdade, estava preso e
novamente foi preso para o deleite do juiz Moro e dos delegados que
fazem de suas funções trampolins para realizarem um show vampiresco com o
sangue e a moral dos acusados, que servem de plataforma política para
os tucanos do PSDB e Cia.
Os presos, encarcerados por causa de informações de delatores,
corruptos e bandidos, muitos deles reincidentes e velhos conhecidos de
guerra dos tucanos, a exemplo do doleiro Alberto Youssef, estão a servir
para certos procuradores e juízes como atrações principais do circo que
se transformou a Lava Jato, controlada por servidores da Justiça de
escalões baixos, sem quaisquer noções de bastidores do poder, mas
portadores de imensa vaidade e de uma ignorância que os leva a pensar
que são os "Intocáveis" do filme de Hollywood, como ficou retratado o
showzinho que deram os promotores liderados pelo procurador Deltan
Dallagnol em recente entrevista, com direito à transmissão direta da
Globo News, como se estivessem imbuídos em uma cruzada santa contra a
corrupção dos tempos dos cavaleiros cruzados da Idade Média.
A verdade é que, com a explosão de uma bomba no Instituto Lula e a
aposta intermitente da direita brasileira em prol de um impeachment
contra a presidenta Dilma, o Brasil está a transitar por veredas
tortuosas e labirintos que podem não ter uma saída para esta crise
política, que já está a ultrapassar os limites da responsabilidade
institucional e constitucional, o que poderá levar o Brasil a ter
confrontos violentos, com muitas mortes, a exemplo do que aconteceu
inúmeras vezes na Venezuela.
A verdade é que a prisão de José Dirceu serve de pedestal para que a
imprensa de negócios privados e comandada por uma família que tem um
monte de esqueletos em seus armários, que joga pedras nos telhados das
casas de seus adversários políticos, sendo que o seu telhado é de vidro.
A prisão de Dirceu é útil para os propósitos de uma direita racista,
elitista, sectária e que tem por propósito tomar a cadeira da
Presidência da República independente de quaisquer escrúpulos.
As famílias midiáticas, que se aproveitam de concessões públicas para
tocar o terror e depois bater bumbos em suas salas e quintais, a
comemorar as patifarias perpetradas por elas, desejariam, como dráculas à
espera de presas, que José Dirceu fosse filmado e fotografado algemado.
Quiçá pendurado em um poste por não se dobrar a sanha dos miseráveis
que se locupletam com a desgraça alheia e se mobilizam para a passeata
golpista do dia 16 de agosto.
O juiz de primeira instância e policiais federais aecistas
absurdamente desestabelizam o País, a sexta maior economia do mundo, com
a permissão de juízes do STF e a cumplicidade do CNJ e da OAB, sendo
que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não defende os
interesses do Governo Dilma, o que é por si só uma galhofa e
irresponsabilidade, pois ministros da Justiça o são a materialização da
interface entre o poder político e corporativo com a sociedade e com
instituições importantíssimas, como o é o Congresso Nacional. E nada
disso acontece. E Dilma, imprudente, mantém tal ministro em uma posição
que é importante demais para a estabilidade institucional do Governo
Trabalhista.
Ora bolas! Os governantes e governos que mais investiram e deram
liberdade à Polícia Federal e ao Ministério Público são os que estão a
ser chamados de corruptos por uma imprensa comprovadamente corrupta e
historicamente golpista. Trata-se de uma realidade surreal e ridícula,
porque foram exatamente os governos de Lula e de Dilma que mais
demitiram e prenderam servidores e empresários ladrões na história do
Brasil, conforme as próprias estatísticas da Polícia Federal — do
Ministério da Justiça. É só ir ao site da instituição e verificar.
Contudo, todo mundo sabe que José Dirceu não pode respirar, porque o
quarteto (Imprensa, PSDB, Justiça e Ministério Público), que combate o
PT, o Lula, a Dilma e o Governo Trabalhista não vai permitir que um dos
políticos de esquerda dos mais emblemáticos e combativos da história do
Brasil se recupere e volte, um dia, a fazer política, até por causa de
sua idade. A covardia contra Dirceu é gigantesca, inominável, e se
tornou o maior linchamento político e moral que este País já viu e
vivenciou.
José Dirceu não pode respirar, não pode trabalhar, não pode aparecer e
não pode nem sonhar em sair da cadeia. Não tem direitos. Enquanto isto,
todos os megaescândalos do PSDB não levaram seus autores tucanos a
julgamentos quanto mais à cadeia. Repito: todos! É porque procuradores,
como o Dallagnol, juízes, como o Moro, e delegados aecistas, como os
delegados aecistas, neste momento ficam iguaizinhos aos três famosos
macaquinhos, ou seja, cegos, mudos e surdos.
A prisão de José Dirceu, que estava preso, tem por finalidade
espezinhá-lo, humilhá-lo e fazer com que os coxinhas de classe média,
paneleiros ferozes e rancorosos, saiam às ruas e demonstrem toda a
ignorância política e de civilidade que eles esconderam, por sentirem
vergonha de seus maus sentimentos durante uma vida inteira. Agora eles
podem ir às ruas e quebrar tudo, podem bater em quem usar uma camisa
vermelha, podem xingar autoridades e pessoas comuns em restaurantes,
podem dizer as maiores atrocidades na internet e podem, sobretudo, jogar
bombas em entidades como o Instituto Lula.
Aliás, políticos tucanos e tucanos coxinhas, juízes tucanos e tucanos
promotores, imprensa tucana e tucanos policiais podem tudo no Brasil.
Eles são simplesmente inimputáveis. E quem não vota ou não acredita
nesses pássaros de bico longo e voo curto, com ares de golpistas são
considerados idiotas por eles — cidadãos de segunda classe. Mas, tem um
problema aí: quem venceu as últimas eleições foi o PT e que eu saiba
seus eleitores não são idiotas. Pelo contrário, compreendem que a
direita brasileira, herdeira da escravidão, sectária e racista por
amostras de DNA não deu nada ao povo. Ao contrário, sempre tirou. A
prisão de José Dirceu é uma pantomima vergonhosa. Um show de podridão,
além de um atentado ao Estado de Direito. É isso aí.
Davis Sena Filho é editor do blog Palavra Livre
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