Não resisto a, mais uma vez, parafrasear o
poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. "No meio do caminho tinha uma
pedra/ Tinha uma pedra no meio do caminho/ Tinha uma pedra/ No meio do
caminho tinha uma pedra."
Na última terça-feira (25), em depoimento à CPI da Petrobras na
Câmara Federal, o doleiro Alberto Youssef trouxe à tona uma das maiores
pedras no caminho do senador Aécio Neves (PSDB): a Lista de Furnas. Ele
confirmou à CPI ter tomado conhecimento de que o então deputado federal
recebia dinheiro de um esquema de corrupção na Centrais Elétricas de
Furnas. A informação lhe teria sido passada por José Janene, ex-deputado
do PP, morto em 2010, apontado como um dos beneficiários do esquema de
pagamento de propinas investigado na Operação Lava Jato.
Vale recordar que, em depoimento anterior à Polícia Federal, o
doleiro já havia afirmado que PP e PSDB "compartilhavam" uma diretoria
de Furnas e que os pagamentos a políticos seriam de pelo menos 100 mil
dólares mensais entre 1996 e 2000. Por sinal, denúncia oferecida pela
procuradora Andréia Baião, da Procuradoria Geral da República (PGR) do
Rio de Janeiro, em 2010, também havia revelado o esquema. Assim como
Yousseff, ela apontava a empresa Bauruense como intermediária dos
recursos arrecadados pela estatal para financiar as campanhas de 2002 do
candidato derrotado à presidência, José Serra, de Geraldo Alckmin,
eleito governador de São Paulo e Aécio Neves, eleito para o governo de
Minas, todos do PSDB. O esquema seria operado pela irmã de Aécio, Andréa
Neves.
E já se vão mais de dez anos desde que a bancada do Partido dos
Trabalhadores (PT) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG),
especialmente o deputado estadual Rogério Correia, trouxe a público a
denúncia do envolvimento do ex-governador em um esquema ilegal de
repasse de recursos da estatal para políticos. Segundo o documento
denominado Lista de Furnas, cuja autenticidade foi comprovada por
perícia da Polícia Federal, quase R$ 40 milhões foram distribuídos a 156
políticos, sendo 69% para as três campanhas citadas. Nos bastidores,
vários deputados confirmaram terem recebido as quantias vindas de
Furnas, que variavam entre R$ 70 mil e R$ 100 mil. Um deles, o então
deputado Antônio Júlio (PMDB), hoje presidente da Associação Mineira de
Municípios (AMM), corajosamente, assumiu na imprensa que recebeu R$ 50
mil para doação a um hospital.
Em março desse ano, mais uma tentativa de que o esquema fosse
apurado. Rogério Correia e os deputados federais petistas Adelmo Leão e
Padre João apresentaram requerimento à PGR para que a delação premiada
de Youssef sobre Furnas fosse desarquivada e investigada na Operação
Lava Jato. Sem efeito, lamentavelmente.
Pois bem. O fato volta à baila, agora, denunciado aos olhos de todos,
na transmissão em rede nacional do depoimento de Youssef à CPI. A
grande pergunta que fazemos é: se o delator tem credibilidade ao
denunciar outros políticos, do PP, PMDB, PT e PSDB, por que não o teria,
em se tratando de Aécio Neves? Dizem que "pau que dá em Chico dá em
Francisco". Será? Se assim o for, aguardamos também a denúncia do
senador pela PGR e, quem sabe, até o pedido de sua prisão.
Se mantida a avaliação anterior do procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, de que a delação de Youssef contra Aécio não tem
consistência, há que se exigir uma mudança nos rumos da Operação Lava
Jato. Prevaleceria o princípio de que a delação premiada não pode ser
vista como prova absoluta, precisando, portanto, ser investigada e
confrontada com outras evidências. Ou seja, o próprio procurador
assumiria que nem todas as acusações dos delatores são verdadeiras.
Nesta lógica, todos os demais denunciados por eles teriam também direito
ao benefício da dúvida.
Sobretudo, o que o novo capítulo da Lava Jato evidencia é que as
pedras que estavam no caminho de Aécio e do PSDB começam a ser atiradas
neles. Caem sobre as cabeças dos que, de forma hipócrita e
inconsequente, criaram fatos midiáticos artificiais e utilizaram a
Operação Lava Jato para tentar enfraquecer adversários políticos, mesmo
conscientes de que jogavam contra o Brasil. Não foi à toa que o
empresário Abílio Diniz, presidente da Brasil Foods, declarou
recentemente ser a crise do país "fundamentalmente política, muito mais
do que econômica".
É fato que a corrupção sempre foi uma "chaga" no Brasil, sobretudo no
campo político. Desde 1500, quando Pero Vaz de Caminha, em sua carta ao
rei para falar das belezas, virtudes e potencialidades dessa terra,
praticou tráfico de influência, pedindo emprego para um parente. E é
verdade também que este é um mal praticamente generalizado, independente
de ideologia ou agremiação partidária. Chegou o momento de Aécio Neves e
o PSDB se haverem com suas "pedras". E agora, Janot?
Durval Ângelo
Deputado estadual (PT-MG), líder do governo na ALMG
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