domingo a noite... blum.
vovó me convida para um bate papo com câmera ligada.
lá está ela com seu cigarrim no canto da boca.
diga lá, vó.
meu neto, não sei como você não usou essa figura de linguagem ainda: Pixuleco é um cabrito inflável.
disse isso e gargalhou, com a boca cheia de dentes.
como é? não, vó, tá maluca. Pixuleco é o nome do boneco inflável que
fizeram de Lula, com roupa de prisioneiro. a senhora não viu isso?
sim. cof, cof. tossiu, pigarreou e cuspiu pro lado, como cocô de pato.
e por que você veio com essa conversa mole de cabrito, vó?
lembra daquele avião que matou Eduardo Campos, meu neto? uma nave
cheia de mistérios, foi um sufoco para achar o dono daquilo. até hoje
não se sabe quem realmente é o dono, acho que não tem, porque ele teria
que indenizar as vítimas que tiveram suas casas destruídas... tinha uns
papeis esquisitos em nome de um dono de bodega ou oficina mecânica...
gente pobre, laranja... aquilo era um cabrito voando, meu neto.
vó, que conversa sem pé nem cabeça é essa? são onze e meia da noite,
vó. tá sozinha aí? por que esse troço de Avião de Campos e Pixuleco, a
senhora tá gagando, vó? parou de tomar o seu canabidiol?
ela dá uma sonora gargalhada.
tô tomando, não, meu neto, hoje resolvi fumar.
tá vó, de boa. mas que papo é esse de cabrito voando? a senhora tá
confundindo as coisas, em Recife teve um lance de um boi voador, mas
isso foi no tempo do império, vó.
ah, meu neto, isso foi coisa de holandês. coisa do Nassau. aquilo foi
a primeira propaganda feita no Brasil com um boneco inflável. porque
aquele boi tava recheado de capim e mato seco pra flutuar.
era um boi invertebrado, foi o primeiro boi invertebrado da história,
meu neto. depois vieram os bois-bumbás, que além de invertebrados eram
bípedes. mas porque você falou deste boi mesmo?
vó, onde a senhora quer chegar? a senhora falou que o avião lá de
Pernambuco era um cabrito e eu disse que a senhora estava a confundir
com o boi do Nassau.
cabrito é uma gíria, meu neto. cabrito, essa gíria criada por aquele
outro pernambucano, o Bezerra da Silva, significa coisa de origem
duvidosa.
hahahahahahah, entendi, agora é que caiu a ficha vó. mas, oh, ninguém roubou Pixuleco, não. furaram ele.
rapaz, tá difícil conversar com você hoje, hein. escuta aqui, depois
que a quela mocinha furou o boneco, levaram ela pra delegacia, iam
acusá-la de danificar o patrimônio privado, mas aí o delegado pediu a
nota fiscal, para saber que era o dono a ser ressarcido, e não tinha
nota fiscal, meu neto. onde já se viu uma coisa dessas?
e ninguém sabe ao certo quanto custou o brinquedão, vó.
olha, meu neto. se são pessoas honestas que estão nas ruas
protestando contra a corrupção - esse troço tá correto, tem que
protestar mesmo - o que deveriam fazer?, serem transparentes.
arrecadam dinheiro de vaquinhas, meu neto? tudo bem. mas declarem,
mostrem a nota no site deles, digam: olha, moçada, arrecadamos tanto, o
boneco custou tanto, sobrou tanto e vamos usar nas próximas ações. coisa
simples.
tem razão, vó.
e por que não tem nota? por que diabos não tiraram a nota fiscal com a
origem, valor e tal? o Lula, coitado, nem pode processar o autor
daquela difamação, porque aquilo é uma difamação, ele tá vestido de
prisioneiro, só que até agora não é réu em coisa nenhuma. uma difamação
pública, abjeta, onde já se viu?
remendaram o boneco, vó, cê viu? inflaram ele de novo e foram para a avenida com escolta policial.
como é, meu neto? a polícia de Alckmin está a escoltar uma mercadoria sem nota? um cabrito?
poxa, caiu a conexão.
cara, a velha tá certa, se o delegado viu que a mercadoria - de 12
mil lascas - não tinha dono, como poderia autorizar sua saída da
delegacia? quem a levou, com quê direito? como pode a polícia estar a
escoltá-la?
ora, faz todo o sentido a conversa da velha. esse Pixuleco não passa de um cabrito inflável.
palavra da salvação.
Lelê Teles
Jornalista e publicitário.
Roteirista do programa Estação Periferia (TV Brasil), apresentador do
programa Coisa de Negro (Aperipê FM) e editor do blog FALA QUE EU
DISCUTO
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