sexta-feira, 12 de junho de 2009

A mídia, a Petrobras, o joio e o trigo

11 DE JUNHO DE 2009


Editoriais raivosos, informações falsas e palavreado agressivo, antiético e torpe têm dado o tom nesses dias em que a mídia tenta derrubar a grande iniciativa da Petrobras de se contrapor às agressões com seu noticiário na internet. Especialmente os jornais O Globo, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo têm gastado rios de tinta e florestas de papel para agredir a estatal. As torpezas são reles, rasas, limitadas e limitantes. Em síntese: a cara da mídia — a chamada “grande imprensa”.

Por Osvaldo Bertolino, no Pátria Latina*


Tudo o que “a grande imprensa” faz, segundo ela própria, cai em duas — e só duas — categorias. Na primeira, o que ela diz, em qualquer área de atividade, é sempre a verdade eterna e absoluta. Na segunda, seus feitos são sempre os melhores ou maiores. Se surgir alguma divergência entre ela e o mundo, não resta dúvida — o mundo está errado. E o pior é que a “grande imprensa” não tem o menor pudor em dizer que fala em nome da “sociedade”. A “sociedade” quer isso, a “sociedade” quer aquilo… A “sociedade” pensa assim, a “sociedade” pensa assado… Nós pagamos impostos, nós elegemos este ou aquele… É uma esquizofrenia sem limites — uma verdadeira palhaçada.

Basta pensar um pouco, não mais que 5 minutos, para constatar que assim fica difícil falar em democracia. Como pode funcionar democraticamente um país onde o exercício da “liberdade de imprensa” reproduz impunemente opiniões deste tipo? Não existe, em nenhuma nação democrática do mundo, nada que se possa comparar. Onde existe algo de parecido, não há democracia de verdade; onde há democracia de verdade, as coisas não são como no Brasil. A tragédia não fica apenas na constatação de que a quantidade de embusteiros supera qualquer limite mais ou menos razoável.

Eficácia da esperteza

A esperteza desses sujeitos funciona com muita eficácia. Sua arma é dizer que ninguém que pratica abusos pode receber nenhum tipo de punição — por mais evidente que seja seu delito. No entender dessa gente, só se pode dizer que algum deles tem culpa, culpa mesmo, no dia do julgamento universal, quando o Senhor, finalmente, virá acertar as nossas contas. Até lá, sugere-se que o público tenha paciência e continue a sorver cotidianamente as baboseiras que eles produzem.

Não se trata, aparentemente, de algo que se possa resolver com o tempo. Na teoria, a atuação constante e paciente da democracia — com eleições, separação dos poderes e exercício da cidadania — vai, pouco a pouco, limpando a vida política, desenvolvendo um verdadeiro espírito público e separando o joio do trigo. Na “grande imprensa” brasileira, essa teoria funciona ao contrário. Com o passar do tempo, as coisas pioram, em vez de melhorar. O joio vai sendo separado, sim, do trigo — só que o “mundo da informação” fica cada vez com mais joio. O que explica isso?

Realidade contraditória

A resposta é o limite para o exercício da democracia de massas numa sociedade fendida em dois extremos como a nossa. No Brasil, imprensa e poder econômico formam uma simbiose histórica. Do lado de cá, onde está o povo, liberdade de expressão é algo inexistente. Se há uma coisa com a qual se pode contar com 100% de certeza no Brasil de hoje é a capacidade da “grande imprensa” de colocar em circulação, cada vez mais e com intervalos cada vez menores, alguma idéia realmente muito perversa. É uma ofensiva sem precedentes para ganhar um grau inédito de controle sobre o fluxo da informação no país.

Já se passaram mais de 20 anos desde o último presidente militar, e perto 30 desde que o AI-5 — em cima do qual se sustentava a ditadura — foi revogado. É tempo mais que de sobra para aprender como funciona uma democracia. Mas o que se conseguiu de concreto nesses anos todos foi a realidade contraditória que existe hoje. De um lado, um governo apoiado pelas forças progressistas; de outro, um condomínio de forças da direita decaída que luta para golpear o progresso social e a democracia.

Diferença essencial

Os grupos que controlam com poderes ditatoriais a liberdade de expressão no Brasil pretendem controlar, ao mesmo tempo, o trabalho dos jornalistas, os meios audiovisuais de comunicação, a produção cultural, as informações prestadas por funcionários federais, os sigilos bancário e fiscal dos cidadãos e as ações do Ministério Público. A conclusão é inescapável: os grupos que controlam a “grande imprensa” brasileira fogem da democracia como o Diabo da água benta.

O que está realmente em jogo nisso tudo é uma diferença essencial no entendimento do que seja liberdade de expressão. Quem se opõe a esses grupos acredita em algo muito simples: os meios de comunicação que publicam informações erradas, cometem injustiças, causam danos ao público e aos indivíduos, atentam contra a lógica e ofendem o país — e até o vernáculo — não deveriam contar com a impunidade para cometer abusos indefinidamente.

Julgamento público

A terapia para isso não está na criação de tribunais de disciplina. Para delitos praticados por jornalistas há o Código Penal. E para os prejuízos que causam há as indenizações aplicadas pela Justiça, com freqüência e valores maiores do que em geral se imagina — apesar de isso não ser nada para o poderio econômico dos grupos que controlam a “grande imprensa”. O que falta é meios reais para o julgamento público de seus atos. Só com esses meios o país terá uma imprensa com o grau de qualidade que corresponda a seu grau de exigência — da mesma forma que os países verdadeiramente democráticos têm os governos que escolhem e merecem.

Esse grau de democracia, no entanto, só será possível quando for limitada a progressão cada vez mais veloz e mais agressiva do desrespeito à liberdade de expressão como prática regular para defender interesses elitistas e reacionários. A desconstrução dessa desordem na vida diária do país só será possível pela via política. É por aí que venceremos as barreiras antidemocráticas, entre elas a mídia. E isso quer dizer, nesse momento, uma firme defesa da Petrobras e um combate sem trégua às torpezas da mídial.

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