19/06/2009
Ana Luísa Vieira e Celso Marcondes
“Não, não, Tropa de Choque não! Fora, PM!” O coro dos manifestantes que tomaram o vão livre do MASP para protestar contra a invasão da Universidade de São Paulo pela Polícia Militar ganhou força na manhã da quinta-feira, 18. Mais de três mil estudantes, professores e funcionários da USP, da UNICAMP e da UNESP marcharam até o Largo São Francisco. Desta vez, os mais de 220 policiais presentes só surgiram para escoltar a manifestação e cuidar do trânsito, nenhum incidente foi verificado. (Clique na imagem para ver mais fotos).
No último 9 de junho, em vez de dialogar com os grevistas, a reitora da USP Suely Vilela preferiu ficar recolhida em seu bunker, assistindo pela televisão a entrada dos policiais pelas tranquilas avenidas do campus. Coube ao governador José Serra a responsabilidade de defender a ação policial. Resultado: cresceu a indignação geral, cresceu o movimento e a reitora, antes reclusa, fez um périplo pela imprensa tentando se explicar.
A resposta dos manifestantes veio também com flores e um mar de cartazes e adesivos que pedem o afastamento da reitora. “Este é nosso ato de defesa. Queremos que ela retire as tropas e restabeleça o diálogo”, disse, Valeria de Marcos, professora de Geografia na USP, ao lado dos colegas de universidade Rosangela Sarteschi, professora de literatura, e Pierluigi Benevieri, professor de matemática. Todos carregavam rosas, distribuídas aos marchantes no início do encontro.
Igualmente colorida nos trajes, a estudante Flavia Teixeira, da Escola de Arte Dramática (EAD), estava fantasiada com um vestido marrom velho, maquiagem carregada, peruca azul, uma coroa com os dizeres “contra a agressão da tropa de choque” e uma marionete na mão. “Me vesti de USP. Faço esse estilo chique-decadente. O bonequinho nas minhas mãos quem me emprestou foi a Suely, mas não ligue, ele não fala, não houve, é contra o diálogo”, explicou. Flavia não costuma participar de manifestações, mas depois da invasão da Tropa de Choque na USP, quando foi quase atingida por uma bomba de gás lacrimogêneo. “Parecia uma guerra. E nós não podemos ficar imunes a isso”.
Além dos universitários, sindicalistas participaram do protesto. Cleide de Souza, auxiliar administrativa do Instituto de Geociências da Unicamp, lia o jornal Causa Operária enquanto aguardava a chegada de seis ônibus vindos de Campinas. “A reitora Suely está abusando do poder, precisamos é de diálogo”.
Durante a semana não faltaram pronunciamentos procurando justificar a ação policial. Os argumentos eram os de sempre nestes momentos: a greve seria fruto de movimentos radicais minoritários, o patrimônio da universidade estava sendo dilapidado, os grevistas, ao fazerem seus piquetes, estariam restringindo o livre direito de ir e vir.
O professor da USP, José Álvaro Moises, do Departamento de Ciência Política da FFLCH, em carta ao jornal O Estado de São Paulo, foi um dos porta-vozes desta avaliação. Ele escreveu: “Essa violação começou quando minorias radicais de manifestantes usaram a força para impedir professores, funcionários e alunos de desenvolverem suas atividades acadêmicas”.
O atual presidente da Adusp (Associação dos Docentes da USP), Otaviano Helene presente à passeata do dia 18, tem posição bem diversa “Não houve nenhuma ação violenta. Só piquetes com pessoas e faixas de papel, nenhuma barreira física. Eram piquetes de convencimento, como previsto pela legislação, não houve violência contra pessoas, de forma alguma”. Ele conta que no dia da invasão os professores realizavam uma assembléia que foi interrompida pelos gritos e estrondos de bombas que vinham de fora: “professores foram ver o que acontecia e alguns tentaram segurar a tropa de choque, mas também foram agredidos, eu mesmo socorri um professor, atingido por gás, coisa jamais vista desde a ditadura”.
Com ele concorda o professor João Zanetic (na foto, com uma flor amarela no bolso), que já eleito, sucederá o professor Otaviano na presidência da entidade:
“Suponha que um aluno me atire um giz. Isso é uma violência, mas o que devo fazer, jogar um apagador? Não, vou usar minha autoridade como educador e discutir que houve um exagero do aluno e que o diálogo resolve. Esta é minha crença, se fosse reitor, agiria da mesma forma”.
Outro resultado concreto dos acontecimentos foi arrancar a retomada das negociações. Nesta sexta-feira, dia 19 e na segunda, dia 22, novas rodadas entre reitorias e representantes das três universidades estão marcadas. Quem sabe agora seja possível chegar a um acordo. Revoltados, os representantes dos trabalhadores lembram que a data-base da categoria era o mês de maio e que mesmo com a pauta de reivindicações em mãos desde abril, só em 18 de maio a reitoria da USP iniciou as negociações. O salário de maio, a ser pago em junho, já deveria vir com novo índice. E já estamos no meio de junho(CartaCapital).
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