sábado, 13 de junho de 2009

Pancadaria "legal" e troco político

A pancadaria na USP gerou uma controvérsia muito interessante. Uma minoria barulhenta e sabichona se levantou em favor da atuação da polícia militar de São Paulo. Sempre com argumentos "técnicos" ou "jurídicos", pretendem impor sua opinião acima de todo o bom senso. Não importam as dezenas de relatos de professores, estudantes e funcionários de que foram agredidos brutalmente. Os "defensores" da pancadaria têm dois objetivos bem claros:

1) Conferir um ar de legitimidade "democrática" ou "legal" à agressão policial contra estudantes, trabalhadores e professores que realizavam manifestação pacífica, num ambiente pacífico que, nunca, antes da ditadura militar, fora invadido pela PM.

2) Eximir de responsabilidade o Executivo paulista, responsável direto pelas ações da Polícia Militar.

Vale tudo para cumprir esses objetivos. Quando lhes faltam argumentos, lembram fatos totalmente externos ao caso em questão, na tentativa de embaralhar a polêmica. Usam sofismas de baixíssima qualidade, embora eficazes, que comparo a defensivos agrícolas altamente tóxicos, que efetivamente matam as pragas que atrapalham o desenvolvimento das plantas, mas que também as impregnam com substâncias que irão contaminar o solo, os lençóis d'água e os consumidores.

Esses que justificam a pancadaria se acham muito espertos, mas, com sua tática, apenas colaboram para a destruição das forças políticas que defendem; as quais, sentindo-se "defendidas", não corrigem seus erros e continuam tropeçando politicamente, e cavando as suas próprias covas eleitorais.

Observo, nestes momentos, a tentativa de apequenar o próprio fato de existir uma luta política e partidária, quando ela é a própria razão de ser da democracia. O que não se admite, todavia, é o uso arbitrário da violência! Os europeus fazem greves monumentais, param trens, aeroportos, fábricas, escolas, mas os governantes nem cogitam em usar força policial contra os manifestantes. Sarkosy, presidente linha-dura da direita francesa, vem enfrentando greves terríveis na França, mas consegue contornar dialogando, ou não-dialogando, mas não é louco de permitir que suas forças de segurança brutalizem trabalhadores.

Aqueles que tentam eximir o governador José Serra das responsabilidades usam todo tipo de subterfúgio. Dizem: se o Lula não tem culpa da corrupção nos Correios, então Serra não tem culpa da pancadaria na USP. Palavras são realmente promíscuas, aceitam ser manuseadas por qualquer um. Esse é o preço de uma democracia. Temos liberdade, mas a liberdade pode ser tão ou mais manipulada numa democracia quanto numa ditadura.

Não falamos aqui, enfim, de corrupção, seja nos Correios ou no Metrô de São Paulo. Exemplos de corrupção, nós sabemos, abundam em todas as esferas do poder. Estamos falando aqui, contudo, de uma política de segurança deliberadamente brutal, arbitrária e antidemocrática.

Por acaso, é a primeira vez que a polícia de São Paulo comete arbitrariedades? Nos últimos anos, temos assistido, estarrecidos, as forças paulistas de segurança adotarem procedimentos verdadeiramente hediondos no tratamento de situações de conflito social e trabalhista. E sempre contra o povo. Sempre contra o lado mais fraco.

Parece-me que o governador de São Paulo optou seguir as tendências ideológicas mais odiosamente reacionárias, e a única explicação que encontro para atitude tão suicida do ponto-de-vista eleitoral é o fato d'ele acreditar no acerto de suas decisões por conta do apoio que recebe de setores da elite econômica e da mídia corporativa. Quando, além disso, blogueiros simpáticos colaboram nesta operação de "blindagem" política, eles ajudam a produzir um monstro político, descolado da opinião pública verdadeira. O que será preciso acontecer mais? Será necessário morrer um estudante? Morrer um professor? A morte de trabalhadores simples, por outro lado, parece não comover o grande público paulista...

Não consigo acreditar que trabalhadores de uma universidade e estudantes da universidade mais concorrida do Brasil sejam figuras tão perigosas cujas manifestações precisem ser reprimidas pelas forças de segurança com bombas de gás pimenta e balas de borracha.

O sacerdote ético-midiático, o Dr.Roberto Romano, não tem nada a dizer sobre o caso?

Impressiona-me, no entanto, como a mídia pode aceitar, submissamente, que o governador não se manifeste, de forma bastante clara, a sua opinião sobre o tema. Nem ele, nem o secretário de Segurança, nem o secretário de Educação. Os colunistas da grande imprensa também parecem querer deixar o tema passar em branco...

Como assim? Aceitaremos agora que governantes mandem a polícia entrar nos campus universitários e espancar estudantes e professores? Até onde vai esse sabujismo?

Não estou entendendo. Leio as colocações de quem defende a atuação da polícia e não consigo outra coisa se não um cinismo desvairado. Como alguém pode defender que professores idosos sejam mal tratados por quem lhes deveria tratar com infinito respeito? Como se pode tratar um caso desses como quem discute "firulas" jurídicas?

Voltando à questão partidária, admito que não sou simpático ao governador Serra. Mas tenho mil outras preocupações, e não perderia algumas horas do meu dia dos namorados escrevendo sobre o caso se não o achasse realmente preocupante para o futuro da democracia brasileira. Esses blogueiros que procuram minimizar a gravidade ou as responsabilidades nessa pancadaria realmente acreditam que é assim que devemos tratar greves e conflitos sociais? Com brutalidade policial? Acham que isso resolve?

Esse tipo de revolta só acontece, por razões óbvias, entre as camadas médias e baixas da população. Daí que ficamos sabendo que os professores de São Paulo recebem 4 reais de vale-refeição, por eles chamado de vale-coxinha; e a mídia ainda divulga a versão oficial que a decadência do ensino público em São Paulo advém apenas da falta de preparo e cultura dos professores?

O desprezo contra o funcionalismo público é uma característica ideológica predominante no tucanato. Tudo bem, podem desprezar à vontade. O que não podemos, definitivamente, aceitar é que esse desprezo se converta em agressão covarde. Afinal, não são os tucanos que vão lá dar cacetada. Eles apenas dão ordens para que policiais mau pagos e sofredores façam o seu trabalho sujo.

Arrisco-me, no entanto, a prever profeticamente: para toda ação, uma reação; cada pancada, cada gás inalado, cada bala de borracha, terá o seu troco. Em dobro.
Fonte: oleododiabo.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Nada a dizer a favor do governador Serra ou de sua policia. Nada.

Os vinte anos de tucanato no governo destruiram educacao,

transporte, finanças, tudo. Um desastre, sem direito a sequer uma

CPI.
Dito isto, vamos ao caso dos manifestantes Usp.
Seu texto afirma que uma "minoria barulhenta e sabichona" pretendeu

impor sua opinião acima de todo o bom senso.
NUm primeiro momento fiquei com a impressao de que falava dos

'grevistas' (da greve que de fato nao existe). A USP tem cerca de

80 mil estudantes -- participam das assemblies, em momento de pico,

uns 300. Tem cerca de 6 mil professores (Ou mais) -- as

'assembleias' de greve reunem uns 50 (e se dividem). Somando as

coisas, acontece o seguinte: meio por cento da usp reune-se em

'assembleias' e decretam que os outros devem fazer o que eles

querem. Organizam-se em grupos violentos e barulhentos, com bumbos

e megafones, para impedir que qualquer atividade ocorra nos predios

onde podem fazer o que bem entendem.
Que nome podemos dar a isso? Dialogo e democracia?
Mais adiante o texto se refere a "Como alguém pode defender que

professores idosos sejam mal tratados por quem lhes deveria tratar

com infinito respeito?". Mais uma vez acho que o texto tem endereco

diferente -- quem faz isso é exatamente essa 'vanguarda' iluminada,

na tentativa de fazer ver a 'verdade' aos 'alienados' que nao

ingressam nos seus movimentos.
Uma coisa mais. Sobre as reivindicacoes. Uma delas, repetida à

nausea pelos 'lideres' estudantis, é que sejam destinadas verbas

para assistencia estudantil - alimentacao, moradia, assistencia

medica, bolsas, etc. Dizem que isso é decisivo para o sucesso da

educacao -- nao basta entrar na universidade, estas condicoes

materiais sao indispensaveis. Muito bem, reconheceram algo que

esses mesmos grupos e seu lider parlamentar (ivan valente)

recusavam aos pobres da periferia. Quanto a prefeita Marta quis

votar na camara de vereadores um programa destinando verba para

material escolar, uniforme, bolsas, alimentacao e transporte para

estudantes pobres da periferia, foi acusada de tudo. O sr. valente

e os grupos estudantis que lideram a presente 'greve' disseram,

alto e bom som, que isso devia ser barrado porque nao era gasto em

educacao. Aliaram-se à direita (Psdb e pfl) pra derrotar a

prefeita. Para os pretos, pobres e pardos da periferia, nao pode,

Para os estudantes da usp, deve. Uma questão de classe, claro.

R.Moraes, S.Paulo