quinta-feira, 18 de junho de 2009

Um relação repleta de promiscuidades


18/06/2009

Por Tales Faria

Para não ser processado, vou contar a história sem dar nomes aos bois. Mas é tudo do conhecimento de boa parte dos jornalistas com mais de 10 anos de cobertura do Congresso.

Era uma vez um senador. Um dia sua esposa foi visitá-lo no gabinete e o surpreendeu com uma das assessoras ajoelhada. A pobre senhora fez um escândalo tão grande que foi parar nos jornais. Depois de umas tantas ameaças de separação, o senador arrumou uma vaga para sua assessora em outro gabinete (nepotismo?), e a esposa deu o caso por encerrado. Até que o tal senador – que também chegou a ministro de Estado – assumiu importante posição na Mesa do Senado. Um dos seus primeiros atos foi criar novo cargo de diretor na Casa (desses milhares agora descobertos), e entregá-lo para quem? Para o marido da tal assessora. A pobre esposa do senador ficou sabendo novamente, e dessa vez não teve dúvida, separou-se mesmo. Depois fizeram as pazes, mas isso não importa.

O que importa dessa história é mostrar até que ponto vai o envolvimento de um grupo de funcionários encastelados no poder no Congresso e dos senadores para os quais trabalham. O tal diretor que assumiu graças, digamos, aos predicados de sua mulher, hoje está no centro dessa encrenca toda recentemente descoberta. Ele dividia uns pequenos segredinhos com o senador que o empossou, mas, descobriu-se depois, dividia segredos maiores com muitos outros senadores.

Se os tais atos secretos do Senado forem investigados a fundo, e se forem levantados os responsáveis por esses atos, certamente se chegará à seguinte conclusão: os atos, em si, foram concretizados pelos funcionários de alto escalão, que também são os responsáveis pela não publicação das decisões em boletins, o que os tornou secretos. Mas esses funcionários assim agiram com o conhecimento de alguns senadores. Jamais o fariam sem o aval dos políticos. Só que nunca vai dar para saber quem pressionou quem, porque esses funcionários e os tais senadores têm suas vidas pessoais de tal forma misturadas que fica difícil saber quem tem mais poder sobre quem. Quem sabe mais segredos de quem?

O presidente do Senado, José Sarney, declarou em discurso que nada tem a ver com a história. Para convencer a opinião pública disso, ele terá que apontar qual o senador que teve a ver, então, com a confusão. Ou quais deles. E não só Sarney terá que fazer isso. Ele e todos os ex-presidentes do Senado nos últimos 10 anos, período em que apareceram os tais atos secretos. Na terça-feira, enumerei aqui os presidentes do período. Falei com um deles, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). O senador argumentou que, como presidente, não cuidava do varejo da administração do Senado. A tarefa cabe ao primeiro-secretário da Casa. Pedi à assessoria do atual primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI) – que, aliás, tem tido uma atuação louvável no episódio todo – a lista dos seus antecessores. Foram eles:

Efraim Moraes (DEM –Paraíba), de 2007 a 2009 e de 2005 a 2007; Romeu Tuma (DEM e PTB – São Paulo), de 2003 a 2005; Carlos Wilson (PSDB, PPS, PTB e PT – Pernambuco), de 2001 a 2003; Ronaldo Cunha Lima (PMDB e PSDB – Paraíba), de 1999 a 2001 e de 1997 a 1999; Odacir Soares (PFL e PTB – Rondônia), de 1995 a 1997; e Júlio Campos (DEM – Mato Grosso), de 1993 a 1995.

Qual a conclusão a que se chega a partir dessa lista? A de que o partido Democratas dominou a primeira secretaria – por onde os tais atos secretos certamente passaram – com algumas incursões do PSDB e do PTB. No caso da lista de ex-presidentes, o domínio é do PMDB, com incursões do DEM. O PT passou lateralmente pela história, no finalzinho do período Carlos Wilson como primeiro-secretário (embora o senador nunca tenha sido de fato um petista), e na interinidade de Tião Viana (AC) como presidente da Casa. Resultado: o PMDB está envolvido até o pescoço, mas também a oposição aparece completamente comprometida, com representantes de peso do DEM e do PSDB. E o PT e o PTB pegam uma casquinha.

Ou seja, se forem de fato mexer nesse vespeiro, os senadores irão encontrar confusão para todos os lados. Para o lado do governo, via PMDB, principalmente, mas também para o lado da oposição. Sem contar os vários pequenos escândalos pessoais que poderão aflorar. Daí por que, sinceramente, temo que isso não vá muito à frente: uma hora eles se sentem e fechem o pacto do esquecimento. Mas tomara que não consigam.
Colaborou Nancy Lima.

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