quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Lula reitera que não reconhecerá eleições em Honduras sem Zelaya

O governo brasileiro reiterou nesta quinta-feira que não reconhecerá as eleições previstas para o próximo domingo (29) em Honduras. O pleito elegerá um novo presidente para substituir Manuel Zelaya, deposto por um golpe de Estado há quase cinco meses.

"Os países democráticos do mundo precisam repudiar de forma veemente o que ocorreu em Honduras, portanto, a posição do Brasil se mantém inalterada. Nós não aceitamos histórias de golpes", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à agência de notícias Efe.


O presidente Lula fala a jornalistas durante cúpula em Manaus; brasileiro afirmou que não irá reconhecer eleição hondurenha

Mais cedo, também em Manaus, o chanceler Celso Amorim já havia afirmado que o Brasil não irá apoiar o novo governo. "Um golpe de Estado não pode ser legitimado como uma forma de mudança política", disse, à agência de notícias Reuters.

O Brasil faz parte de um grupo formado ainda por Venezuela, Bolívia, Argentina, Chile, Equador e Nicarágua que já afirmaram não reconhecer o resultado da eleição realizada sem a restituição de Zelaya --parte do acordo San José-Tegucigalpa assinado por ambas as partes em outubro e decretado como fracassado pelo presidente deposto.

Do outro lado, os Estados Unidos, país de maior influência no país, lidera um pequeno grupo com Peru e Colômbia que aceita o resultado das eleições como único caminho viável para a resolução da crise política hondurenha.

Questionado sobre se seu país estaria disposto a reconhecer sob alguma circunstância o resultado das eleições de 29 de novembro, Lula lembrou que o Brasil e o resto da América Latina foram enfáticos em que para "restabelecer a normalidade" nas relações com Honduras e a "confiança diplomática", é necessário que Zelaya seja restituído no cargo.

"Da forma como está acontecendo [o processo], o Brasil não reconhecerá o resultado eleitoral, e manterá sua posição de não [retomar] relações com Honduras", ressaltou Lula.

O Congresso hondurenho só deve cumprir a quinta cláusula do Acordo Tegucigalpa-San José, que prevê que o Legislativo decida se Zelaya é restituído ou não, em sessão marcada para o dia 2 de dezembro --após as eleições. Zelaya criticou o gesto e questionou a legalidade de eleições realizadas sem sua restituição.

Lula, um dos maiores defensores públicos de Zelaya, afirmou ainda que defende com firmeza o retorno de Zelaya ao poder, do qual foi deposto no dia 28 de junho, não porque "seja mais radical, mais bonito ou mais feio que os outros", mas porque o Brasil viveu 21 anos sob uma ditadura (1964-1985) e sabe o que é um regime autoritário.

"A América Latina e América Central têm experiências de sobra de golpistas que usurpam o poder rompendo os princípios democráticos, e se aceitarmos isso, pode acontecer o mesmo em outro país amanhã", disse Lula.

Diante da possibilidade de que os Estados Unidos e outros países reconheçam o resultado das eleições hondurenhas, Lula advertiu: "Se encararmos com normalidade o golpe de Honduras, amanhã qualquer golpista diz "vou dar um golpe" e todo o mundo vai acreditar [que é normal]".

Zelaya voltou clandestinamente ao país no dia 21 de setembro e desde então está abrigado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Com o fracasso do acordo, Zelaya não está protegido pela anistia e não pode deixar a embaixada correndo o risco de ser preso.

Reuters

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