domingo, 29 de novembro de 2009

DIREITA REPETE A VELHA CANTILENA

Montevidéu - Para desespero dos oposicionistas de todas as matizes, o governo de Lula está na ordem do dia em muitos rincões deste Planeta. Aqui em Montevidéu, por exemplo, uma das primeiras perguntas dos amigos e de quem fica sabendo que você é brasileiro é perguntar sobre Lula, Copa do Mundo e Olimpíadas 2016. Há quase uma unanimidade em relação à importância hoje do Brasil no cenário internacional.

Tudo isso me ocorre depois de acompanhar os últimos lances de política externa do governo, desde a visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad até os questionamentos de Lula em relação ao posicionamento de Barack Obama na questão do meio ambiente. Sobre Ahmadinejad me veio à lembrança a entrevista feita por Jô Soares com o âncora William Waack e os comentários do jornalista e do próprio entrevistador sobre o vilão que veio do Irã. Na verdade, não se pode nem considerar o encontro Waack-Soares como uma entrevista, mas sim um exemplo concreto de utilização do jornalismo como instrumento para desinformação e acirramento de preconceitos, no caso contra o islamismo.

Não se trata de fazer um juízo de valores sobre Ahmadinejad, por sinal uma figura polêmica, mas que quando passou pelo Brasil fez declarações equilibradas que até desnortearam os seus adversários, que tiveram dificuldades em responder. Waak, por exemplo, chegou a dizer que o dirigente iraniano recuou em algumas questões. Lula deixou bem claro a Ahmadinejad posições opostas as dele em relação a várias questões relacionadas com o conflito palestino-israelense. O Brasil credencia-se como país importante nas gestões que visam a terminar com o banho de sangue que jorra no Oriente Médio há pelo menos 60 anos. Dialoga com palestinos, israelenses e persas. Aliás, no tal programa do Jô, deliberadamente ou não o “entrevistador” de Wiliam Waack em um só momento assinalou que iranianos não são árabes, colocando-os como se o fossem. Fica o registro.

Neste domingo, 29, à noite, se conhecerá o resultado do segundo turno da eleição presidencial uruguaia. Todas as pesquisas indicam a vitória do candidato da Frente Ampla, José Pepe Mujica por uma margem entre sete e nove pontos. E quando todos os institutos de pesquisa apresentam tais índices e com um pequeno número de indecisos (entre quatro e sete por cento) todos acreditam que não haverá surpresas. Só mesmo o candidato de direita, Luis Alberto Lacalle andou falando em “revolução silenciosa”, ou seja, que uma parte ponderável do eleitorado está indeciso e não apareceu nas pesquisas, mas na última hora vai decidir por ele. Nesta altura do campeonato, comentam alguns analistas, é o mesmo que acreditar em Papai Noel... Declaração desse tipo faz parte do jogo de não deixar os militantes desestimulados e evitar até que eles deixem de votar.

A eleição uruguaia deixa bem claro dois projetos em jogo, o atual de caráter reformista, adotado pelo governo de Tabaré Vázquez e o da direta, que prega até a redução de impostos para ajudar alguns setores empresariais acostumados com as benesses concedidas pelo Estado, que nosotros brasileiros conhecemos e que teve o auge no anterior governo de Fernando Henrique Cardoso. Aliás, este senhor que anda aparecendo muito está sendo lembrado pelos brasileiros como um dos piores presidentes da história do país, o que não é para menos.

Para se ter uma idéia de como andam as coisas nos arraiais da direita uruguaia, o que não é muito diferente do mesmo setor em outros países latino-americanos, acabou de ser preso um cidadão considerado acima de qualquer suspeita. Trata-se do consagrado advogado penal Carlos Curbello Tammaro, defensor até bem pouco tempo do ditador Gregório Alvarez, condenado a uma pena de 25 anos de cadeia por responsabilidade em uma série de assassinatos políticos.Tammaro foi em cana por lavagem de dinheiro do narcotráfico e ajuda à formação de quadrilha.

A imprensa deu grande destaque ao fato criminoso, da mesma forma que tinha dado ao caso da descoberta, depois de um incêndio, de um grande arsenal de armas em plena Montevidéu, episódio que a direita tentou utilizar na campanha para incriminar remanescentes do grupo MNL-Tupamaros, inclusive o candidato presidencial José Pepe Mujica. A estratégia não colou e o próprio Lacalle teve deixar de lado as acusações infundadas, que lhe tiraram votos.

Pepe Mujica nunca escondeu o seu passado, muito pelo contrário. Hoje tem uma outra estratégia de alcançar os objetivos reformistas a que se propõe juntamente com os correligionários da Frente Ampla. Os tempos são outros e o que poderia ser válido há 30 ou 40 anos hoje está fora de cogitações. Essa é uma lição da história que a direita latino-americana não tem condições de entender e muitas vezes repete a cantilena dos anos da Guerra Fria, a qual, na Colômbia, por exemplo, desemboca nas sete bases militares estadunidenses.
Mario Augusto Jakobskind, Direto da Redação.

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