O resultado da última pesquisa CNT-Sensus, divulgada na segunda-feira, reflete em números uma realidade que já estava presente há pelo menos dois meses nas análises e nos debates internos dos partidos de oposição. Essas análises justificaram as pressões de parcelas do PSDB, do DEM e do PPS sobre o candidato tucano com mais votos nas pesquisas, José Serra, para que ele decida até o final do ano se será o candidato a presidente da República pela coligação.
por Maria Inês Nassif*
As informações de dentro do bloco oposicionista já apontavam a tendência registrada na pesquisa CNT-Sensus trazida a público essa semana, cujos dados foram coletados entre 16 e 20 de novembro.
Moveram as pressões sobre Serra: o fato de os índices de intenção de voto em Dilma Rousseff, a candidata do presidente Lula e do PT, estarem subindo devagar, mas sustentadamente; a lenta e constante queda de Serra nas pesquisas de intenção de voto; a constatação de que a candidatura de Ciro Gomes (PSB) produziu, sim, estrago nas intenções de voto à oposição, em especial se o candidato for o governador de São Paulo; a percepção de que Dilma saiu de uma posição de fragilidade, logo após um traumático tratamento de saúde – durante o qual manteve pouca exposição pública e índices quase declinantes de intenções de voto – para outro, em que assumiu a sua posição de candidata e se manteve ao lado de Lula, caracterizando-se como aquela a quem os simpatizantes do presidente devem transferir o voto.
Uma ala do PSDB menos ligada a Serra e o DEM estão contrariados, mas de qualquer forma interessados em que a candidatura de oposição se resolva logo, equacione seus problemas originais e consiga retomar o Palácio do Planalto com a sustentação da mesma aliança que deu a vitória ao presidente Fernando Henrique Cardoso em duas eleições. Mas os dois grupos se ressentem de que a ausência, no cenário político, de uma candidatura efetiva da oposição tem dificultado até as tentativas regionais de articulação para subtrair apoios do PMDB, que será o principal aliado do PT nas eleições do ano que vem. O PMDB, como é tradição em todas as eleições, tem potencial de ir rachado para o palanque de Dilma. Se rachar muito, o apoio a Dilma pode ser derrubado na convenção e ela não terá o tempo de propaganda eleitoral gratuita do PMDB. Se rachar pouco, isso pode, ainda assim, subtrair votos da candidata governista. A ausência de um nome em favor do qual a negociação de traição possa acontecer, todavia, dificulta bem as coisas. O PT e seus aliados, pelo fato de terem uma candidata já definida e um grau reduzido de divisão, anteciparam-se também na articulação de alianças. Têm alguns palmos de vantagem em relação à oposição nesse particular.
Outros dados devem ser agregados a esses que mobilizam as pressões de Serra pelos seus aliados. A postulação de dois candidatos do PSDB e a concentração da decisão em apenas um deles pode produzir as mesmas fissuras das eleições passadas. Em 2006, a decisão de candidatura do PSDB ficou concentrada em Fernando Henrique, José Serra, Tasso Jereissatti e Aécio Neves. José Serra foi o escolhido, não quis correr riscos, abriu espaço para a postulação de Geraldo Alckmin e as principais lideranças praticamente abandonaram o candidato no meio do processo eleitoral. Não foi uma solução de unidade. Agora, com dois candidatos – Aécio Neves e José Serra -, a decisão se afunilou mais ainda: está nas mãos de Serra. Uma única pessoa deve decidir o rumo que grande parte da oposição vai tomar, com chances de não querer correr nenhum risco e decidir abrir espaço para Aécio Neves, mas entregar o partido rachado para seu adversário interno. Na hipótese de resolver ser candidato, Serra também pode não levar os votos dados a Aécio no segundo colégio eleitoral do país, Minas Gerais. Nenhuma das opções, pelo fato de a decisão se afunilar novamente, garante a unidade partidária – embora os demais partidos de oposição não tenham outra opção a não ser a de apoiar qualquer um dos dois pré-candidatos tucanos.
Maria Inês Nassif é repórter especial de Política do jornal Valor Econômico.
por Maria Inês Nassif*
As informações de dentro do bloco oposicionista já apontavam a tendência registrada na pesquisa CNT-Sensus trazida a público essa semana, cujos dados foram coletados entre 16 e 20 de novembro.
Moveram as pressões sobre Serra: o fato de os índices de intenção de voto em Dilma Rousseff, a candidata do presidente Lula e do PT, estarem subindo devagar, mas sustentadamente; a lenta e constante queda de Serra nas pesquisas de intenção de voto; a constatação de que a candidatura de Ciro Gomes (PSB) produziu, sim, estrago nas intenções de voto à oposição, em especial se o candidato for o governador de São Paulo; a percepção de que Dilma saiu de uma posição de fragilidade, logo após um traumático tratamento de saúde – durante o qual manteve pouca exposição pública e índices quase declinantes de intenções de voto – para outro, em que assumiu a sua posição de candidata e se manteve ao lado de Lula, caracterizando-se como aquela a quem os simpatizantes do presidente devem transferir o voto.
Uma ala do PSDB menos ligada a Serra e o DEM estão contrariados, mas de qualquer forma interessados em que a candidatura de oposição se resolva logo, equacione seus problemas originais e consiga retomar o Palácio do Planalto com a sustentação da mesma aliança que deu a vitória ao presidente Fernando Henrique Cardoso em duas eleições. Mas os dois grupos se ressentem de que a ausência, no cenário político, de uma candidatura efetiva da oposição tem dificultado até as tentativas regionais de articulação para subtrair apoios do PMDB, que será o principal aliado do PT nas eleições do ano que vem. O PMDB, como é tradição em todas as eleições, tem potencial de ir rachado para o palanque de Dilma. Se rachar muito, o apoio a Dilma pode ser derrubado na convenção e ela não terá o tempo de propaganda eleitoral gratuita do PMDB. Se rachar pouco, isso pode, ainda assim, subtrair votos da candidata governista. A ausência de um nome em favor do qual a negociação de traição possa acontecer, todavia, dificulta bem as coisas. O PT e seus aliados, pelo fato de terem uma candidata já definida e um grau reduzido de divisão, anteciparam-se também na articulação de alianças. Têm alguns palmos de vantagem em relação à oposição nesse particular.
Outros dados devem ser agregados a esses que mobilizam as pressões de Serra pelos seus aliados. A postulação de dois candidatos do PSDB e a concentração da decisão em apenas um deles pode produzir as mesmas fissuras das eleições passadas. Em 2006, a decisão de candidatura do PSDB ficou concentrada em Fernando Henrique, José Serra, Tasso Jereissatti e Aécio Neves. José Serra foi o escolhido, não quis correr riscos, abriu espaço para a postulação de Geraldo Alckmin e as principais lideranças praticamente abandonaram o candidato no meio do processo eleitoral. Não foi uma solução de unidade. Agora, com dois candidatos – Aécio Neves e José Serra -, a decisão se afunilou mais ainda: está nas mãos de Serra. Uma única pessoa deve decidir o rumo que grande parte da oposição vai tomar, com chances de não querer correr nenhum risco e decidir abrir espaço para Aécio Neves, mas entregar o partido rachado para seu adversário interno. Na hipótese de resolver ser candidato, Serra também pode não levar os votos dados a Aécio no segundo colégio eleitoral do país, Minas Gerais. Nenhuma das opções, pelo fato de a decisão se afunilar novamente, garante a unidade partidária – embora os demais partidos de oposição não tenham outra opção a não ser a de apoiar qualquer um dos dois pré-candidatos tucanos.
Maria Inês Nassif é repórter especial de Política do jornal Valor Econômico.
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