Entre a esperança dos sonhadores e a promessa de Serra
Desde a convenção do PSDB, em Brasília, quando o ex-governador José Serra foi lançado como pré-candidato à Presidência da República, os tucanos disseminam otimismo para embalar a campanha eleitoral do tucano. Vários entre eles, ainda dizem contar com o ex-governador mineiro Aécio Neves, na chapa oficial, como vice. Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do País com cerca de 14 milhões de votos, é um estado decisivo na eleição.
A confiança desses tucanos pretende sustentar-se em frases proferidas por Aécio e por Serra. Depois de Aécio afirmar – uma, duas, três, dez vezes – que não aceitaria o posto de vice, interpretou-se como sinal de mudança na posição dele a seguinte frase no discurso que fez na convenção de Brasília. Dirigindo-se a Serra, afirmou: “Estarei ao seu lado aonde for convocado”.
Foi o suficiente para os fidelíssimos, insuficiente para os descrentes. Palavras o vento leva. Nas eleições de 2002, Aécio trocou juras de amor com Serra e ouviam-se que o então candidato ao governo de Minas embarcara no voto “lulécio” (Lula presidente – Aécio governador). Fato: Lula, no primeiro turno, obteve 4,99 milhões de votos, e Serra, 2,015 milhões no universo de 9,5 milhões de votos válidos. No segundo turno, já com Aécio eleito, o candidato do PT conseguiu exatamente 6 milhões, 384 mil, 690 votos, e Serra, 3 milhões, 223 mil, 960 votos.
A situação foi repetida, em 2006, com a candidatura tucana de Geraldo Alckmin, já com Aécio no governo de Minas e Lula no governo central. Ambos disputando a reeleição.
Mas há uma segunda frase que, em tese, dá maior sustentação à rença tucana.
Aécio recebeu Serra, em Minas, com pompas e circunstâncias. O ex-governador, livre da solenidade do cargo, surpreendeu ao se apresentar com outra face: deixou a barba crescer moderadamente. Em Minas, Serra parece ter-se comprometido com uma provável e futura candidatura de Aécio Neves ao anunciar que, se vencer, vai propor ao Congresso o fim da reeleição, iniciada no governo Fernando Henrique. Serra, sem reeleição, quer a ampliação do mandato presidencial de quatro para cinco anos.
FHC, no governo, dobrou o mandato. Vencendo a eleição, Serra tentará esticar a própria administração em um ano para favorecer ao parceiro Aécio a oportunidade de disputar a Presidência da República em 2015?
Estar ao lado de Serra “aonde for convocado” é mais uma frase dúbia do neto e discípulo de Tancredo Neves. A frase se enquadra na filosofia de um comportamento mineiro rígido em relação a dois princípios: simular e dissimular. É parte, portanto, da astúcia mineira. Não se admitem afirmações peremptórias que poderão ser, posteriormente, desmentidas.
Aécio agiu com firmeza ao dizer, por várias vezes, que a Vice-Presidência não fazia parte das cogitações dele. Afirmações seguidas, ditas com tal ênfase, inviabilizam um recuo pelos critérios políticos de Minas Gerais. Salvo, é claro, se tiver havido uma mudança política radical entre o Aécio sem barba e o Aécio com barba. Mas radicalismo não é exatamente uma manifestação mineira. Exceção feita, naturalmente, a Tiradentes.
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