Agora o Brasil ingressou mesmo na campanha eleitoral que culminará no próximo dia 3 de outubro com a escolha de quem ficará no lugar de Lula nos próximos quatro anos a partir de 1 de janeiro de 2011.
O primeiro debate, na TV Bandeirantes, entre quatro candidatos – Dilma, Serra, Marina e Plínio – foi morno e sem grandes novidades. Faltaram alguns temas para serem esmiuçados, como, por exemplo, política externa, cultura e a questão da mídia, sendo este último quase desaparecido do cardápio político eleitoral.
Na verdade, as regras engessam os debates, que a seguirem dessa forma dificilmente trarão grandes novidades. Serra e Dilma polarizaram o debate que mostrou algumas poucas diferenças entre os dois, embora ambos representem projetos distintos.
Serra é a própria contradição. Ao mesmo tempo em que diz não estar disposto a olhar no espelho retrovisor, isso para evitar vir à tona o desastroso governo do prócer FHC, volta e meia fala do seu passado com presidente da UNE. E aprofundando ainda o retrovisor lembrava sempre dos “mutirões” na área de saúde, na verdade emergenciais e que não podem ser considerados soluções para os graves problemas do setor.
E Serra na maior hipocrisia fala que não aparelhará empresas do Estado se for eleito presidente. Pena que não houve oportunidade de perguntar como explica a nomeação do deputado pernambucano Roberto Freire como conselheiro de uma estatal paulista com um salário superior a 10 mi reais? Freire, o ex-comunista, no atual PPS, que entregou de bandeja os arquivos do antigo PCB para a Fundação Roberto Marinho, estava no debate a convite de Serra. O que teria a dizer o referido? .
Dilma tem a vantagem de apresentar fatos concretos relativos ao atual governo, como, por exemplo, o aumento no número de empregos, cerca de 14 milhões, quase o triplo da gestão Cardoso e assim sucessivamente.
Marina Silva, a ex-Ministra do Meio Ambiente poderia adotar como slogan de sua campanha algo na base do ”vamos dar as mãos”, como se fosse possível conciliar algo como água e azeite. Ela parece desconhecer o conceito de luta de classes e entende que apenas a preservação do meio ambiente, pelos detentores do capital e os trabalhadores, resolverá os problemas do Brasil e do mundo. Quer porque quer juntar todo mudo político no mesmo saco.
Plínio de Arruda Sampaio, que Raul Seixas classificaria como ”a mosca que pousou na sopa” dos três candidatos, falou uma linguagem que provavelmente os telespectadores não estão acostumados a ouvir. Demonstrou muita ironia e bom humor. O seu discurso em linhas gerais se aplicaria cem por cento se as mobilizações dos movimentos sociais estivessem em ascensão. Como isso não acontece, muito pelo contrário, as observações de Plínio acabam caindo no vazio de uma eleição e o seu partido, o PSOL (Partido do Socialismo e Liberdade), corre o risco de continuar nanico e sem base social de respaldo.
Trocando em miúdos, Serra, que tem como vice o deputado Da Costa, representa o retrocesso, não só para o Brasil como para a América Latina, pois ele se alinha no esquema Álvaro Uribe, Sebastián Piñera e outros do gênero. Como o candidato que leva de roldão os ex-comunistas do PPS (Partido Popular Socialista) e o setor mais a direita do espectro político brasileiro, o Demo, já disse em várias ocasiões a que veio, a derrota de Serra, a se confirmarem as pesquisas, será um verdadeiro alívio para o ideário da integração latino-americana.
Mas como eleição não se decide por pesquisas, e se fosse assim nem seria necessário ir às urnas, todo cuidado é pouco para evitar o pior.
Quanto a não realização por nenhum canal aberto de um debate com todos os nove candidatos, mesmo se sabendo que alguns deles estão lá apenas para marcar posição ou para que o nome fique conhecido para outra eleição qualquer, mais uma vez os meios de comunicação partem de antemão do princípio de fazer a triagem. Numa democracia, quem deve julgar é o eleitor e não os “iluminados” que controlam os meios de comunicação. E para que possa fazer o julgamento o eleitor precisa conhecer todos os candidatos, que os meios de comunicação se negam a apresentar.
Na Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos tomou posse no último sábado ficando no lugar de Uribe, que deixa de herança, entre outras, a maior fossa comum das Américas, com cerca de dois mil corpos, produzidos por paramilitares perdoados pelo governo que também é responsável por dezenas de sindicalistas assassinados. E isso sob total silêncio dos meios de informação conservadores.
A descoberta foi macabra e ocorreu quando a população de uma pequena localidade do interior do país começou a sentir a água das torneiras putrefata. A partir daí foi localizada a fossa comum com os restos de cidadãos assassinados por paramilitares apoiados pelo Exército colombiano.
Mario Augusto Jakobskind, Direto da Redação
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