Luciano Rezende *
O destempero com que o presidenciável tucano José Serra trata seus oponentes e jornalistas (quando estes fazem alguma pergunta fora do script) demonstra uma séria debilidade em sua formação política. Cordialidade, respeito às divergências e honestidade são princípios básicos e elementares que se desenvolve desde cedo na escola. Em uma boa escola.
Diplomas, certificados e condecorações são importantes, mas não determinantes na construção do melhor candidato. Há muitos intelectuais insensíveis aos clamores populares e outros menos estudados comprometidos com a melhoria da vida do povo. Serra não é nem um, nem outro.
O candidato que gosta de se gabar em ter uma esmerada educação, virou alvo de chacotas com a provocação lançada por diversos blogs na internet que o desafia a mostrar seu diploma de ensino superior. Seria uma campanha preconceituosa se simplesmente quisessem atacá-lo por não ter uma graduação (como fazem com Lula), mas se o objetivo é desmentir mais uma de suas invenções, a intenção torna-se louvável. E se ele não mostrar o tal diploma de economista que tanto alardeia, será mais uma de tantas outras fanfarronices ditas todos os dias, como a de que ele é o pai dos genéricos ou a de ter sido o autor da lei do seguro-desemprego.
Mas a “falta de educação” que de fato preocupa em Serra é o seu compromisso com o ensino, de todos os níveis, no país. Na semana passada foi divulgado - embora a grande imprensa não ter dado o destaque devido - que a Universidade de São Paulo (USP) caiu 69 posições no ranking mundial de universidades. Os Institutos de Pesquisa paulistas padecem com a falta de recursos cada vez menores, a exemplo do Butantan, que viu sua coleção de répteis e artrópodes queimar por falta de manutenção básica. Um dos maiores patrimônios científicos do mundo virou pó na gestão Serra. O ensino básico também foi negligenciado a ponto do governo Serra - acompanhado de outros dois companheiros governadores do seu partido, Aécio Neves e Yeda Crusius, de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, respectivamente - ter tido a coragem de solicitar ao Supremo Tribunal Federal a derrubada do piso salarial dos professores que estabeleceu o valor mínimo de R$ 950,00 para uma jornada de 40 horas semanais. Isso sem falar das escolas de lata, a truculência contra professores, o “vale-coxinha”, o escândalo da merenda escolar, etc.
Piora sua situação ao lembrarmos que é ele, de todos os candidatos à presidência, o legítimo herdeiro das políticas neoliberais que sucatearam o ensino público no país. Nos oito anos em que o país foi governado pelo PSDB, nenhuma nova universidade pública foi construída, tampouco houve alguma nova extensão universitária. As escolas técnicas foram esquecidas na era FHC. Ele não construiu uma sequer. Os tucanos também promoveram a farra dos tubarões do ensino com a proliferação indiscriminada de faculdades particulares; congelou bolsas e estagnou os salários de docentes. Os programas de iniciação científica, CNPq e PET, tiveram recursos subtraídos. Verbas para a assistência estudantil foram extintas e a evasão escolar atingiu níveis recordes. Esse é o legado tucano que Serra representa.
A educação brasileira precisa avançar, sempre mais. Não será um representante do neoliberalismo, mal-educado (diga-se de passagem), o mais credenciado para enfrentar essa empreitada iniciada pelo governo Lula.
Como dizia Paulo Freire: “Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”. Vide o exemplo de São Paulo nestes últimos 16 anos sob a direção dos tucanos.
* Engenheiro agrônomo, mestre em Entomologia e doutorando em Genética. Professor do Instituto Federal do Amazonas (IFAM Portal Vermelho.
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