O governo do estado do Pará usou seu site oficial para exaltar o secretário estadual de Segurança Luiz Fernandes Rocha em meio à onda de assassinatos de lideranças camponesas registrada na região desde o fim do mês passado. Ao anunciar que a polícia paraense já tem o nome dos suspeitos de matar o casal de ambientalistas José Cláudio Ribeiro e Maria Espírito Santo, o governo publicou um perfil quase literário sobre o chefe das polícias paraenses, que levou três semanas para identificar os prováveis assassinos das duas vítimas – que já haviam relatado as recorrentes ameaças de mortes que recebiam. Outro camponês foi morto também na mesma região, dias depois.
Com o título “Polícia já tem principal suspeito de mortes em Nova Ipixuna”, o texto publicado no site oficial do governo tucano, administrado por Simão Jatene, contava com uma introdução de fazer inveja a Gay Talese: “Ao trocar o clima ameno da pacata Vitória da Conquista pelo calor úmido de Belém do Pará, nos anos 70, o jovem Luiz Fernandes Rocha não se importou muito em se mudar de uma cidade com média de 17 graus de temperatura para uma capital em que, na sombra, os termômetros marcam 30. Ele queria vencer na vida, pelo esforço e pelo estudo. E venceu.”
A nota foi publicada no mesmo dia em que o governo federal anunciou o envio de agentes federais à região Norte para conter a violência no campo deflagrada após a morte do casal de ambientalistas José Cláudio Ribeiro e Maria Espírito Santo.
O leitor que estivesse curioso para saber a quantas anda a investigação só descobriria que “a polícia já tem algumas convicções formadas a partir dos depoimentos colhidos, da perícia nos corpos, da apuração no local e do cruzamento de informações” ao fim da entrevista feita pela Agência Pará de Notícias.
Foi uma clara intenção do governo local de tentar mostrar que a onda de violência registrada nos últimos dias no Estado, até o ano passado governado pelo PT, está sob controle.
Em tom menos “emotivo”, os delegados da Polícia Civil do estado divulgaram na tarde desta terça-feira 7 dois retratos-falados dos suspeitos da autoria dos crimes. De acordo com a própria polícia, os retratos foram elaborados a partir de depoimentos de duas testemunhas que viram os homens pouco antes e alguns minutos depois do duplo-homocídio. Os suspeitos procuravam rotas para fugir da região do Projeto de Assentamento Extrativista Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna, sudeste do Pará. As reproduções foram avaliadas com 90% de semelhança facial com os suspeitos.
O delegado-geral adjunto da Polícia Civil, Rilmar Firmino, declarou que as investigações estão bem avançadas. Os resultados de perícias de necropsia, local de crime e georeferenciamento da área realizadas deverão sair nos próximos dias.
O casal de ambientalistas José Cláudio Ribeiro e Maria Espírito Santo vinha recebendo ameaças há meses. Foram assassinados em uma aparente emboscada em Nova Ipixuna no dia 24 de maio.
2 comentários:
Na prática quem ralou para esclarecer os crimes foram os policiais de baixo escalão. Enquanto formiguinha trabalha, papagaio só grita.
Concordo com o comentarista anterior. Em Minas os professores trabalham, mas quem recebe os prêmios internacionais é o Aécio pó pará bafômetro.
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