domingo, 14 de agosto de 2011

A hipocrisia do “calar a voz” e a democracia


 
 
O recente assassinato de uma juíza tem despertado diversas análises. Uma delas, cometida hoje pela juíza aposentada e ex-deputada federal Denise Fossard, merece algumas considerações por mostrar o nível de hipocrisia com que alguns membros de poderes julgam a democracia.
 
 
 
Reproduzo frase do texto: “Quando há ameaça, e, principalmente o assassinato de um juiz, abre-se um precedente perigosíssimo, é mais grave [em relação a outros homicídios]: porque é ele quem bate o martelo. É ele quem tem de olhar para o réu e dizer que o condena à pena máxima de prisão. Quando se cala essa voz –e aí não importa o nome juiz –, é a instituição que foi mortalmente atingida”. (grifo meu).


 
A frase deixa bastante clara a visão, que sempre imperou no Brasil, sobre o que seja democracia: a de que o Estado e seus poderes são mais que a sociedade que os forma e os mantém. Desconte-se o exagero da expressão “mortalmente”, recurso típico do meio em que transita.

E isso não é democracia. Afirmar que “Calar a voz de um juiz é um precedente perigosíssimo para a República. É um golpe na democracia” é no mínimo hipocrisia. Ao dizer que isso “é mais grave”, não sei com que termos qualifico.


 
Grave, Doutora, são as milhares de vozes caladas cotidianamente nesse país e contra o que pouco tem sido feito. Isso sim fere “mortalmente” a democracia, pois atenta diretamente contra nós, comuns mortais que sequer podemos nos dar ao luxo de “abrir mão da segurança” (como fez a juíza), posto que sequer a temos. Mas parece que a Senhora está mais preocupada em levantar sua voz corporativa do que assumir que pertence a um grupo especial, contra o qual tudo é “mais grave”.


Cada brasileiro morto no trânsito é um atentado à democracia; um atentado a uma instituição que a Senhora deveria saber ser bem maior que as instituições de estado: a sociedade.


Mas é justo o seu pensamento: nós também somos hipócritas e concordamos. Afinal, é mais cômodo.


No Sul21

4 comentários:

luiz disse...

É mais um homicídio entre tantos. E quando a vítima é um policial que defende a sociedade? é menos grave? quem apresenta o meliante ao judiciário? é o juiz quem sai as ruas e encara de frente a marginalidade? se ela sentenciou bandidos foi graças ao trabalho de policiais que com um salário de merda, arriscando a própria vida para defender a sociedade investigaram e prenderam os bandidos que foram condenados, todos os dias morrem policiais defendendo a sociedade, e isso é menos grave? um trabalhador morto é menos grave? vocês são deuses? vocês se acham deuses, no entanto são simples mortais como qualquer cidadão comum. Simplesmente é a violência da nossa sociedade que alcançou um membro da côrte.

O TERROR DO NORDESTE disse...

Luiz, concordo.

Anônimo disse...

Pois é Luíz. Como nosso pensamentoé bem igual e tenho certeza que há milhares pensando igual a nós. E continuo seu raciocínio.A hipocrisia é demais. Quando pobres se arrastam a anos padecendo da esmola de um magistrado dar uma sentença que muitas vezes quando sai o requerente já partira pra outro mundo. Quando milhares de vítimas, incluisive testemunhas são assassinadas, e os drs.juízes sequer chegam a pedir investigação.Quando ELES não dão importância para as horas que deveriam trabalhar a serviço de muita gente, pra alívio de uns coitados.Quando simplesmente fazem dos subornados seus burrinhos de carga e apenaas assinam tudo já prontinhos chegam as suas mãos.Quando deixam de ir trabalhar por causa do carro que quebrou, do filho que tá chorando com saudade, pra assistir a festas escolares dos filhos, ou simplesmente porque está com sono. Quando batem no bolso e sinicamente falam que não estão nem aí, pois o seu "dindim" no final do mês tá lá naa sua conta. Isso tudo e o que no momento não lembro, não vale nADA.tUDO É MENOS IMPORTANTE QUE A VIDA DE MAGISTRADO.

Anônimo disse...

Discordo do texto. O que o Luiz Escosteguy faz é justamente aquilo que condeno no PIG. Extraiu uma frase de um contexto que nos é desconhecido porque sequer citou a fonte ou disponibilizou o link do texto integral que qualifica de hipocrisia.
Vejamos como ele impõe a sua idéia sobre a frase original levando a uma idéia distorcida.
Frase da Denise Frossard: “Quando há ameaça, e, principalmente o assassinato de um juiz, abre-se um precedente perigosíssimo, é mais grave: porque é ele quem bate o martelo. É ele quem tem de olhar para o réu e dizer que o condena à pena máxima de prisão. Quando se cala essa voz –e aí não importa o nome juiz –, é a instituição que foi mortalmente atingida”.
Isto virou: "Afirmar que 'Calar a voz de um juiz é um precedente perigosíssimo para a República. É um golpe na democracia' é no mínimo hipocrisia".
Não foi isso que foi afirmado na frase da Denise. É óbvio que a instituição a qual ela se refere é o poder judiciário. Poder este instituído pela sociedade, logo a sociedade é atingida, da mesma forma que é atingida quando um deputado, senador, prefeito, governador ou presidente sofre atentado contra sua vida.
Em seguida ele faz ilações como se ela estivesse defendendo um grupo ao qual ela não pertence mais, já que é ex-juíza:
"Mas parece que a Senhora está mais preocupada em levantar sua voz corporativa do que assumir que pertence a um grupo especial, contra o qual tudo é “mais grave”.
Não se deveria interpretar a afirmação dela como "luta de classes". O que ela defende é um dos três poderes que constitui o Estado. Se pensarmos em termos de democratização do crime, isto é, insegurança para todos em vez de clamarmos por segurança para todos, o que podemos esperar da sociedade?
Só há segurança de fato quando há pena e condenação.

Roberto Santos