sábado, 21 de fevereiro de 2009

NACIONALIZAR OS BANCOS



Nouriel Roubini, para CartaCapital

Eu previ, há um ano, que os prejuízos das instituições financeiras nos Estados Unidos chegariam a, ao menos, 1 trilhão de dólares e possivelmente a 2 trilhões de dólares. As perdas, hoje, ultrapassam o piso da minha estimativa e o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta prejuízos de mais de 2 trilhões de dólares. Calculo que chegarão a 3,6 trilhões de dólares.

Há quatro maneiras básicas de fazer uma faxina em um sistema bancário que enfrenta uma crise sistêmica: 1. Recapitalização do setor, simultaneamente à compra dos ativos tóxicos, por meio de um “banco ruim” governamental. 2. Recapitalização, com a garantia do governo dos ativos tóxicos. 3. Venda dos ativos tóxicos ao setor privado, com a garantia do governo, e/ou (semiequivalente) provisão do capital público para criar um “banco ruim” público-privado, em que os investidores participam da compra desses ativos. Algo similar ao plano apresentado pelo secretário do Tesouro, Tim Geithner, com o surgimento de um Fundo de Investimento Público-Privado. 4. Aquisição do controle total dos bancos insolventes pelo governo (o leitor pode chamar de nacionalização ou, se não gostar da palavra suja iniciada com N, de administração pública), para serem saneados e, depois, retornar ao setor privado.

Das quatro opções, as três primeiras têm sérias falhas. No modelo do “banco ruim”, o governo eventualmente pagará a mais pelos ativos podres, a um custo elevado para o contribuinte, porque o valor justo é desconhecido. Se não pagar em excesso, muitos bancos vão quebrar, porque o custo da marcação a mercado será alto demais para ser arcado.

Paradoxalmente, portanto, a nacionalização pode ser a solução, sob a ótica do mercado, mais amigável para a crise bancária. O processo resulta em um ótimo lance aos acionistas preferenciais das instituições inegavelmente falidas e, certamente, até para os credores a descoberto, porque o rombo da insolvência é grande demais. A nacionalização gera ainda um sentimento de justiça ao contribuinte. Pode também resolver o problema que seria o governo administrar apenas os ativos ruins. No futuro, todos os ativos e depósitos dos bancos serão revendidos aos novos acionistas privados, depois de uma limpeza total, com garantia parcial do governo sobre os ativos podres, Desta forma, evita-se a administração governamental da banda podre.

Do contrário, se os ativos ruins são mantidos em mãos do governo após a aquisição do controle dos bancos e somente os bons são vendidos em um esquema de re-privatização, o governo deverá terceirizar o trabalho de administração a executivos privados, se não quiser recriar uma espécie de Resolution Trust Corporation, idealizada em 1989 para gerir quase mil instituições de poupança e empréstimo. A nacionalização também equaciona o problema “grande demais para quebrar” de bancos sistemicamente relevantes, que precisam ser resgatados pelo governo, a um custo enorme para os cidadãos que pagam impostos.

Por que então o governo dos EUA contemporiza e evita fazer a coisa certa? Ou seja, assumir o controle das instituições financeiras insolventes? Há dois motivos. Em primeiro lugar, existe ainda uma leve esperança e uma pequena probabilidade de que a economia se recupere antes do esperado, as perdas dos créditos irrecuperáveis sejam menores do que o previsto, o atual approach de recapitalizar os bancos seja acertado e, de algum modo, a questão dos ativos podres equacionada em tempo hábil.

Em segundo lugar, assumir o controle dos bancos é uma atitude radical e requer que a maioria das intituições esteja em situação insustentável. O Citibank e o Bank of America são exemplos de instituições muito próximas da insolvência e que estariam prontos para ser nacionalizados, mas o JP Morgan e o Wells Fargo, ainda não. Mas com a escalada da inadimplência e a possibilidade de os empréstimos hipotecários não serem pagos, os imóveis comerciais e o crédito ao consumidor, até o JP Morgan e o Wells poderão entrar em falência nos próximos seis a doze meses.

Portanto, a atual estratégia do governo, o Plano A, pode não funcionar. E o Plano B (melhor, o Plano N de nacionalização) pode equacionar a crise até, no máximo, o fim deste ano. Gastar outros seis ou doze meses, em vez de fazer a coisa certa, pode ser um erro. Mas as limitações políticas da nova administração na Casa Branca e a pequena probabilidade de a atual estratégia funcionar, por milagre ou sorte, sugerem que o Plano A deveria ser exaurido antes da migração para o Plano N. Ao desperdiçar tempo, o governo corre o risco de, em vez de enfrentar uma recessão no formato de um U, ser surpreendido por uma recessão em L. Atualmente, parece, o Plano N não é politicamente factível.

É hora, portanto, de começarmos a pensar antecipadamente em um Plano N, lembremos o conceito, de nacionalização dos bancos insolventes.

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