quarta-feira, 10 de junho de 2009

Blog da Petrobras é um benefício à democracia que deveria ser copiado

09/6/2009


Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro



Magnífica a decisão da Petrobras, de instalar um blog na internet para responder às perguntas de jornalistas, colunistas, cientistas, leigos, leitores em geral e qualquer outro tipo de cidadão que tenha conseguido acessar aquela página específica da maior estatal da América Latina, uma das maiores do mundo. Há muito tempo, a Imprensa, grande ou pequena, deste ou daquele matiz político-ideológico, vive de publicar informações de caráter público como se fosse coisa privada. Respeite a pauta!.. diria um dos nossos editores mais aguerridos à notícia e a todo o segredo que a cerca até que alguém possa gritar: Parem as rotativas! Respeito, claro, embora nesses 32 anos de prática no jornalismo diário, nunca tenha tido a satisfação de ouvir alguém gritar isso, seriamente. No máximo, um chocho: Vamos abrir um segundo clichê.

Nos dias de hoje, com a internet, é mais difícil ainda uma situação dessas. Aquele véu de sigilo que cobre as grandes matérias investigativas está cada vez mais roto. Não faz muito tempo, bastava um jornalista se aproximar mais de uma autoridade estatal, em qualquer esfera dos Três Poderes, conseguir uma declaração, uma pista, uma direção que fosse sobre um possível escândalo, quanto mais cabeludo melhor, e estava estabelecido um pequeno feudo em relação a um tema que, se fosse público desde o nascedouro, maior seria a chance de se corrigir o erro, ver os responsáveis nas malhas da Lei e, como deveríamos todos almejar, um país mais correto, lícito, descente e justo. Ocorre, no entanto, que a informação, para as empresas jornalísticas, no momento em que se a adquire, torna-se uma commodity, uma propriedade privada e defendida com todo o poder desenvolvido pelas associações empresariais de classe e de per si, no caso dos atuais grandes meios de comunicação.

O lado ordinário da apropriação indevida desse bem público, que é a notícia, a informação relativa a uma empresa ou autarquia, seja lá a instância do poder público em questão, é o tratamento que se passa a conferir aos fatos. Protegidas pelo ineditismo – e pela conivência do ente público envolvido na questão – as versões são buriladas junto aos donos das cadeias de rádio, TV e jornais do país, de forma a tender para as bordas do interesse privado, das grandes corporações e dos grupos econômicos que, de alguma forma, participam na gestão dos negócios em torno da Informação, seja ela pública ou privada. Vide o escândalo da Proconsult, no Rio de Janeiro, denunciado aos quatro ventos pelo falecido Leonel Brizola, no século passado. Se não fosse o velho caudilho mandar a boca no trombone – e naquela época não havia blog, twitter, ou sequer internet – a bandalheira toda iria, caladinha, para a "Cesta Sessão".

É mais do que louvável o exemplo de transparência que transmitem a Petrobras e a equipe de jornalistas contratados pela empresa para atender às questões relativas às lides públicas. Fosse a estatal uma empresa privada e não estaria mais aqui quem está falando. Mas não é. As estatais do petróleo, da energia, das linhas de transmissão, da lavoura e quantas outras houver, pertencem à nação brasileira, ou seja, a todos os brasileiros que, de uma forma ou de outra, têm o direito de saber, com riqueza de detalhes, por um meio tão público quanto à empresa de seu interesse, a quantas anda a administração daquele patrimônio. Se a equipe de assessores de comunicação social, porém, omitir, mentir ou sonegar alguma informação sobre a companhia ou a instância pública em tela, a quem quer que seja – desde que não aquelas classificadas no interesse da segurança nacional – deveria ser passível de cadeia. Torna-se, portanto, nítido o corporativismo de segmentos da imprensa brasileira, diante uma medida democrática, tardia até, adotada pela Petrobras.

Se a decisão de publicar o questionamento dos jornalistas torna o trabalho destes profissionais mais árduo, é porque esta é a natureza da carreira escolhida. Há sempre a chance de mudar de profissão mas, em sã consciência, nenhum jornalista poderia criticar uma estatal por se tornar mais transparente e próxima dos cidadãos de seu país, quando a verdadeira luta sempre foi a de arrancar, a fórceps tantas vezes, uma notícia relevante na esfera pública. Caso seguissem o exemplo da Petrobras, as outras áreas do poder público ofereceriam um préstimo inestimável à democracia no Brasil.

Gilberto de Souza é jornalista e editor-chefe do Correio do Brasil.

3 comentários:

Anônimo disse...

Pobre articulista! A PETEbrás o deixou com as calças nas mãos, já que teve que recuar num dos "benefícios à democracia" mais stalinistas de que vinha fazendo uso para intimidar a imprensa, no intuito de blindar o imenso caixa 2 em que foi, ao que parece, transformada pelo PT.
A banda sadia do PT exige que a banda podre do partido, acoitada no desgoverno Lula da Silva, "desprivatize" a empresa! Já!

Gilvan disse...

Já vem tu com essa papo fuleiro que é petista. Cara, isso não cola mais não.

Gilvan disse...

Que coisa mais ridícula!