21/06/2009
Por: Walter Venturini, abcdmaior.com.br
Marta Suplicy deve ser candidata nas eleições de 2010; o cargo não está definido. Foto: Amanda Perobelli
Ex-prefeita da Capital diz que Região ainda sofre bastante por não ter autonomia em relação ao Estado
A ex-ministra do Turismo Marta Suplicy é talvez a mais ardorosa defensora da eventual candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República. Semanas atrás, organizou em sua casa um encontro da ministra com um grupo de mulheres com projeção nacional. Marta garante que Dilma conseguiu seduzir toda a plateia com suas propostas e, principalmente, pela sensibilidade feminina que expôs no bate-papo informal que ganhou as páginas dos jornais de todo o País. Nesta entrevista exclusiva ao ABCD MAIOR, Marta fala sobre a reunião, as eleições e a Região. Veja abaixo os principais trechos da entrevista.
ABCD MAIOR - Qual a razão de sua visita ao ABCD?
MARTA SUPLICY – Estou “campanhando”. Não pessoalmente, porque a única decisão que tenho, de que vou ser candidata, mas o cargo ainda não está estabelecido. Mas estou levando o nome da Dilma pela importância da continuação de um projeto de tudo que Lula conseguiu fazer nesses oito anos e que temos de preservar. O nome da Dilma é o que vai permitir a manutenção da expansão, do aumento do salário mínimo. Permitirá também o aumento do emprego, porque no próprio ABCD, se a gente for lembrar na época do Fernando Henrique Cardoso, tínhamos três cidades do ABCD de desempregados, isto é, se somássemos todos os desempregados. Agora temos duas. Ainda tem muita gente desempregada, mas em um governo que se preocupou em gerar emprego. São 10 milhões de empregos novos no Brasil todo, com carteira assinada e tudo o mais. Acreditamos também no (papel positivo) Bolsa Família, as conquistas do crédito para todas as classes sociais. Não adianta os partidos de oposição (protestarem), a gente sabe que eles acham horrível, que eles criticam, que acham esmola.
ABCD – É o confronto de dois projetos, que a atual crise internacional atualizou?
MARTA – Acho que não só atualizou, mas mostrou como cada partido lida com a crise. O que fez o Lula com a crise? Aumentou recursos para o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que é infraestrutura e gera emprego para mão-de-obra com pouca qualificação. Aumentou o número de usuários do Bolsa Família e também o valor do Bolsa Família. Por que? Porque são pessoas que não vão colocar o dinheiro no banco. Vão comprar comida e um tênis novo para a criança. Isso é a economia girando e o emprego mantido. Lula diminuiu o IPI (Imposto sobre Produção Industrial), para os veículos. Para cá teve uma repercussão muito boa, mas também para o Brasil todo. Reduziu o IPI para a linha branca (geladeiras, fogões e máquinas de lavar) e agora o (programa) Minha Casa, Minha Vida. São ações muito concretas, que permitiram que a economia mantivesse o giro. Ao mesmo tempo, vemos o que o governo do Estado de São Paulo fez. Contingenciou (reteve os recursos) todos os projetos sociais. Em relação aos carros, só agora reduziu o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviço). Demorou! Só deu resposta por causa da pressão. Fico perguntando: onde estão os investimentos da Nossa Caixa, os investimentos do governo de São Paulo? São Paulo é o Estado mais rico do Brasil. O que poderia estar fazendo? Na Educação você só vê esse vexame que nós paulistas temos de enfrentar, de estarmos em uma posição horrorosa no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Na Saúde, só vemos escândalos, de falta de atendimento. O Transporte, não vou nem falar. São 16 anos de tucanato em São Paulo. O metrô começou, no final dos anos 1960, junto com o da Cidade do México, que hoje tem uma rede com 240 quilômetros, enquanto o de São Paulo tem apenas 60. E isso foi construído antes de os tucanos entrarem.
ABCD - Inclusive o metrô não chegou até agora no ABCD. O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, está defendendo a vinda do metrô para a Região.
MARTA – É uma atitude muito importante que o prefeito assuma a liderança nisso. Porque o governo do Estado precisa ter a percepção da importância que é o Consórcio Intermunicipal.
ABCD – Entre 2001 e 2004, a senhora governou a cidade de São Paulo e trabalhou com o então prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), que foi o idealizador do Consórcio Intermunicipal. Como a senhora vê essa experiência de integrar as sete cidades?
MARTA – Sempre disse que o Consórcio Intermunicipal foi uma coisa pioneira. A Região deve isso, ao menos, a ele. Aqui teve um prejuízo grande com falta de autonomia e de recursos alocados pelo governo do Estado, que sempre foi muito centralizador em relação ao ABCD. Isso acabou diminuindo a importância que o Consórcio poderia vir a ter. Fiquei muito triste quando soube sobre o recurso que enviei à Região, quando era ministra, em 2007, R$ 400 mil para fazer um projeto para o turismo para o ABCD. Por não fazerem o projeto, deixaram de receber os R$ 2 milhões que estavam liberados.
ABCD – Como avalia a reunião de mulheres que a senhora organizou semanas atrás com a ministra Dilma Rousseff, para começar a conversar a proposta de a ministra disputar no ano que vem a Presidência da República?
MARTA – Ela convenceu as mulheres. Quando se tem a possibilidade de um contato com a Dilma percebe-se uma mulher com preocupações que nós mulheres temos, que são diferentes das dos homens. Não somos melhores nem piores. Somos diferentes e pagamos um preço muito alto por isso que foi de termos ficado alijadas do poder. Nos mantivemos centenas de anos cuidando de crianças, de doentes, dos idosos, com a capacidade de “costura” que uma mulher tem dentro de casa, de articular, de conversar, de ser a intermediária, características muito femininas. Mas nos custaram um preço, que foi ficar dentro de casa. Quando fomos para a rua, tivemos de mudar um pouco o jeito. Mas a maioria tem isso ainda porque ainda sobrou muita coisa nas costas da mulher. Essa delicadeza e sensibilidade, a Dilma tem. Ela cativou muito pela competência e conhece muito o Brasil. Ao mesmo tempo, elas perceberam que pode ser uma pessoa muito sensível. Isso no jornal, não aparece. Aparece ela falando do PAC.
ABCD – Seu nome é apontado como um dos prováveis para disputar o governo do Estado. Agora surge a proposta de lançar o nome do ex-ministro e deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE). Como a senhora vê essa chegada do Ciro em São Paulo?
MARTA – Não temos de começar a discutir nomes, mas partidos. Nesse sentido, o PSB, em especial, em São Paulo, apoia o Serra. Aqui no ABCD, o (William) Dib apoia o Serra com tudo, não tem subterfúgio. Então, você põe o Ciro, que é uma pessoa interessante, como candidato, mas como é que faz com o partido? Fora que o PT tem candidatos muito bons. Não descarto, mas acho que temos de considerar a força que o PT tem no Estado e, mais que tudo, os partidos. Como é que fica o PSB? Fazemos o que com o Dib e os outros que apoiam o Serra?
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