Jander Ramon
o prestígio político em alta, principalmente depois da escolha do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016, o soteropolitano Orlando Silva, ministro do Esporte, se consolida como principal interlocutor do governo nos trabalhos de preparação para a Copa de 2014. Nesta entrevista, Silva destaca o papel a ser desempenhado pelo BNDES nos financiamentos dos estádios e garante que a transparência será uma “obsessão” dele neste processo.
Carta Capital: A Fifa confirmou a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil em 30 de outubro de 2007. Há quem diga que o Brasil está atrasado na organização do evento. Qual a sua avaliação?
Orlando Silva: A Fifa decidiu no fim de 2007 que o Brasil seria a sede de 2014 e, em 2008, os delegados da Fifa vieram em algumas oportunidades ao Brasil dialogar com as cidades que postulavam receber os Jogos. Portanto, 2008 foi um ano que a Fifa utilizou para escolher quais seriam as cidades e só em 31 de maio de 2009 é que a escolha foi anunciada. A partir dessa decisão é que realizamos algumas rodadas de discussão com as cidades-sede em torno da mobilidade urbana, focado no transporte coletivo público. Existe um cronograma específico exclusivamente para o tema estádios. Eu diria que há uma certa ansiedade no Brasil.
CC: O presidente do Comitê Organizador da Copa 2014, Ricardo Teixeira, disse em entrevista recente que a prioridade de infraestrutura é “aeroportos, aeroportos e aeroportos”. O senhor concorda?
OS: Ter doze cidades na Copa do Mundo foi uma conquista do Brasil, pois permitiu nacionalizar o evento, já que a Copa pode induzir desenvolvimento nas regiões Norte e Nordeste. Mas, ao mesmo tempo, ter doze cidades em um país com a extensão territorial brasileira impõe que o serviço aeroportuário seja fundamental na operação. Não ter um sistema de aeroportos com capacidade de atender à demanda pode causar um colapso na Copa.
CC: O BNDES vai liberar até 400 milhões de reais para financiar obras ou construção de cada estádio. É suficiente?
OS: A referência é ter um teto de 400 milhões de reais para financiamento e esse teto resulta de um cálculo. Fizemos um estudo das últimas copas, na Coreia-Japão, Alemanha e, agora, África do Sul. Analisamos também a construção de modernos estádios da Europa, e do estádio nacional da China, utilizado nos Jogos de Pequim de 2008. Ao final desse extenso estudo, chegamos ao custo médio por assento no estádio e multiplicamos esse custo pelo número mínimo de assentos exigidos pela Fifa para um estádio atender à Copa do Mundo.
CC: E qual é esse custo médio por assento?
OS: Vou falar de um número aproximado: 8 mil reais. Acreditamos que não temos de ter estádios acima daquilo que a Fifa pautou e não precisamos ter elefantes brancos após o Mundial. Se um estádio de 40 mil lugares é suficiente, para que construir um de 70 mil? E o teto de financiamento dos projetos é uma forma de induzir ao realismo na preparação dos estádios.
CC: Como será o controle da execução orçamentária? O BNDES costuma ter padrões rígidos de liberação de verbas, em etapas, e acompanhamento de cronogramas de projetos.
OS: A operação que o BNDES vai fazer seguirá o padrão do banco, que tem seus critérios e cada projeto terá de ser aprovado pela análise de risco, assim como as garantias terão de ser ofertadas. Isso tudo para proteger o BNDES, uma instituição que tem grande credibilidade nacional e internacional.
CC: De alguma forma isso traz uma segurança maior para que não haja malversação de dinheiro público?
OS: A sociedade brasileira deve acompanhar permanentemente cada investimento público, porque o dinheiro é dela. Há, inclusive, uma enorme quantidade de instituições que acompanham a fiscalização. No governo federal tem a Controladoria-Geral da União, o Tribunal de Contas da União, o Ministério Público. Nos estados, também existe isso. O Congresso Nacional fiscaliza, assim como a imprensa, e, felizmente, temos uma grande máquina de fiscalização. Espero que essa máquina consiga se organizar. Outro dia fui convidado por três comissões do Congresso Nacional para falar sobre o mesmo assunto. Creio que o nosso desafio é estruturar um sistema único de monitoramento, de modo que a sociedade tenha confiança no processo de preparação da Copa.
CC: Esse tipo de transparência não é habitual. E, no caso do Comitê Organizador da Copa, não foi observada até agora.
OS: Pessoalmente, tomei uma decisão que vou comunicar ao presidente Lula. Vou trabalhar neste processo com uma obsessão: garantir a máxima transparência na preparação da Copa, assim como das Olimpíadas. Porque essa é a única chance que tenho de demonstrar à sociedade a adequada utilização dos recursos públicos.
CC: Teremos uma prestação de contas de forma tempestiva?
OS: Minha decisão é de periodicamente apresentar informações à sociedade quanto aos preparativos da Copa.
CC: Na mesma entrevista já citada, Ricardo Teixeira disse que não deve haver tempo para a contração das reformas ou construção de estádios públicos por licitação.
OS: Esse não é um problema nosso. Estádio é um problema da cidade e do estado. No governo federal, cumprimos a lei, sempre. Eu não conheço o teor da declaração e a situação concreta à qual ele se referiu.
CC: Os recentes episódios de agravamento da violência no Rio comprometem o futuro da Copa e das Olimpíadas?
OS: Confio que o Brasil oferecerá condições adequadas de segurança para o Mundial. Claro que o problema da violência no Rio de Janeiro acontece da mesma forma que em outras cidades. O que o governo não deve é recuar. É preciso garantir cidadania e agir ao mesmo tempo com energia, de modo que possamos ter as regiões conflagradas em uma condição melhor, pacificadas e mais integradas socialmente. E o governo tem de trabalhar para proteger a população, independentemente de Copa.
CC: Qual é o legado esportivo a ser deixado pela Copa?
OS: O Brasil tem o desafio de qualificar mais a gestão do futebol. Esse processo é inexorável e está em curso. Creio, inclusive, que a única alternativa para mantermos nossos craques mais tempo no Brasil e elevarmos o nível técnico do nosso futebol está na profissionalização maior, com um marco regulatório claro, estrutura de governança com mais transparência e capacidade de planejamento.
o prestígio político em alta, principalmente depois da escolha do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016, o soteropolitano Orlando Silva, ministro do Esporte, se consolida como principal interlocutor do governo nos trabalhos de preparação para a Copa de 2014. Nesta entrevista, Silva destaca o papel a ser desempenhado pelo BNDES nos financiamentos dos estádios e garante que a transparência será uma “obsessão” dele neste processo.
Carta Capital: A Fifa confirmou a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil em 30 de outubro de 2007. Há quem diga que o Brasil está atrasado na organização do evento. Qual a sua avaliação?
Orlando Silva: A Fifa decidiu no fim de 2007 que o Brasil seria a sede de 2014 e, em 2008, os delegados da Fifa vieram em algumas oportunidades ao Brasil dialogar com as cidades que postulavam receber os Jogos. Portanto, 2008 foi um ano que a Fifa utilizou para escolher quais seriam as cidades e só em 31 de maio de 2009 é que a escolha foi anunciada. A partir dessa decisão é que realizamos algumas rodadas de discussão com as cidades-sede em torno da mobilidade urbana, focado no transporte coletivo público. Existe um cronograma específico exclusivamente para o tema estádios. Eu diria que há uma certa ansiedade no Brasil.
CC: O presidente do Comitê Organizador da Copa 2014, Ricardo Teixeira, disse em entrevista recente que a prioridade de infraestrutura é “aeroportos, aeroportos e aeroportos”. O senhor concorda?
OS: Ter doze cidades na Copa do Mundo foi uma conquista do Brasil, pois permitiu nacionalizar o evento, já que a Copa pode induzir desenvolvimento nas regiões Norte e Nordeste. Mas, ao mesmo tempo, ter doze cidades em um país com a extensão territorial brasileira impõe que o serviço aeroportuário seja fundamental na operação. Não ter um sistema de aeroportos com capacidade de atender à demanda pode causar um colapso na Copa.
CC: O BNDES vai liberar até 400 milhões de reais para financiar obras ou construção de cada estádio. É suficiente?
OS: A referência é ter um teto de 400 milhões de reais para financiamento e esse teto resulta de um cálculo. Fizemos um estudo das últimas copas, na Coreia-Japão, Alemanha e, agora, África do Sul. Analisamos também a construção de modernos estádios da Europa, e do estádio nacional da China, utilizado nos Jogos de Pequim de 2008. Ao final desse extenso estudo, chegamos ao custo médio por assento no estádio e multiplicamos esse custo pelo número mínimo de assentos exigidos pela Fifa para um estádio atender à Copa do Mundo.
CC: E qual é esse custo médio por assento?
OS: Vou falar de um número aproximado: 8 mil reais. Acreditamos que não temos de ter estádios acima daquilo que a Fifa pautou e não precisamos ter elefantes brancos após o Mundial. Se um estádio de 40 mil lugares é suficiente, para que construir um de 70 mil? E o teto de financiamento dos projetos é uma forma de induzir ao realismo na preparação dos estádios.
CC: Como será o controle da execução orçamentária? O BNDES costuma ter padrões rígidos de liberação de verbas, em etapas, e acompanhamento de cronogramas de projetos.
OS: A operação que o BNDES vai fazer seguirá o padrão do banco, que tem seus critérios e cada projeto terá de ser aprovado pela análise de risco, assim como as garantias terão de ser ofertadas. Isso tudo para proteger o BNDES, uma instituição que tem grande credibilidade nacional e internacional.
CC: De alguma forma isso traz uma segurança maior para que não haja malversação de dinheiro público?
OS: A sociedade brasileira deve acompanhar permanentemente cada investimento público, porque o dinheiro é dela. Há, inclusive, uma enorme quantidade de instituições que acompanham a fiscalização. No governo federal tem a Controladoria-Geral da União, o Tribunal de Contas da União, o Ministério Público. Nos estados, também existe isso. O Congresso Nacional fiscaliza, assim como a imprensa, e, felizmente, temos uma grande máquina de fiscalização. Espero que essa máquina consiga se organizar. Outro dia fui convidado por três comissões do Congresso Nacional para falar sobre o mesmo assunto. Creio que o nosso desafio é estruturar um sistema único de monitoramento, de modo que a sociedade tenha confiança no processo de preparação da Copa.
CC: Esse tipo de transparência não é habitual. E, no caso do Comitê Organizador da Copa, não foi observada até agora.
OS: Pessoalmente, tomei uma decisão que vou comunicar ao presidente Lula. Vou trabalhar neste processo com uma obsessão: garantir a máxima transparência na preparação da Copa, assim como das Olimpíadas. Porque essa é a única chance que tenho de demonstrar à sociedade a adequada utilização dos recursos públicos.
CC: Teremos uma prestação de contas de forma tempestiva?
OS: Minha decisão é de periodicamente apresentar informações à sociedade quanto aos preparativos da Copa.
CC: Na mesma entrevista já citada, Ricardo Teixeira disse que não deve haver tempo para a contração das reformas ou construção de estádios públicos por licitação.
OS: Esse não é um problema nosso. Estádio é um problema da cidade e do estado. No governo federal, cumprimos a lei, sempre. Eu não conheço o teor da declaração e a situação concreta à qual ele se referiu.
CC: Os recentes episódios de agravamento da violência no Rio comprometem o futuro da Copa e das Olimpíadas?
OS: Confio que o Brasil oferecerá condições adequadas de segurança para o Mundial. Claro que o problema da violência no Rio de Janeiro acontece da mesma forma que em outras cidades. O que o governo não deve é recuar. É preciso garantir cidadania e agir ao mesmo tempo com energia, de modo que possamos ter as regiões conflagradas em uma condição melhor, pacificadas e mais integradas socialmente. E o governo tem de trabalhar para proteger a população, independentemente de Copa.
CC: Qual é o legado esportivo a ser deixado pela Copa?
OS: O Brasil tem o desafio de qualificar mais a gestão do futebol. Esse processo é inexorável e está em curso. Creio, inclusive, que a única alternativa para mantermos nossos craques mais tempo no Brasil e elevarmos o nível técnico do nosso futebol está na profissionalização maior, com um marco regulatório claro, estrutura de governança com mais transparência e capacidade de planejamento.
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