domingo, 6 de dezembro de 2009

América Latina em transformação

Nem bem terminaram as festas comemorativas, o Presidente eleito do Uruguai, Pepe Mujica, da Frente Ampla, deu início às gestões com o objetivo de governar a partir de 1 de março de 2010. A primeira iniciativa foi a de se reunir com a direção da central sindical PIT-CNT, que apoiou integralmente o candidato da Frente Ampla. Na reunião de mais de uma hora, Mujica expressou sua vontade de avançar no sentido de uma reforma do Estado, e deixou claro que isso só acontecerá com o apoio e participação dos trabalhadores. Ficou decidido então a formação de uma comissão integrada por representantes dos trabalhadores e técnicos da Frente Ampla especialistas da área.

Nos quase cinco anos de governo da Frente Ampla, iniciados em 1 de março de 2005 ocorreram avanços que resultaram em benefícios para os trabalhadores. Ao contrário do que insistem em afirmar os neoliberais de plantão, é possível avançar nas questões sociais, inclusive na valorização das aposentadorias. Para se ter uma idéia, hoje os trabalhadores que chegam aos 60 anos de idade têm direito a aposentadoria. Antes a idade limite era de 65 anos e assim sucessivamente.

Não é à toa que Pepe Mujica tornou-se o presidente eleito, mesmo no segundo turno, com o maior número de votos da história uruguaia. Cabe agora a ele e à maioria absoluta de deputados e senadores da Frente Ampla no Parlamento demonstrarem a importância da eleição de mais um presidente de esquerda.

Para nós, os vizinhos, a vitória insofismável de Pepe Mujica fortalece o posicionamento de transformações por qual passa Nuestra América. Agora, na Bolívia, Evo Morales deverá também liquidar a fatura neste domingo (7), enquanto no Chile o candidato da Concertacion, de centro esquerda, Eduardo Frei, corre risco de perder para o da direita, o empresário Sebastián Piñera, que jogava no time de Pinochet. Correm por fora o candidato independente Enríquez-Ominami e o esquerdista Jorge Arrrate.

No Brasil ferve o tremendo escândalo em Brasília envolvendo o único Governador dos Democratas, José Roberto Arruda, e demais integrantes do seu gabinete recebendo propina. É o chamado mensalão da direita, cujos integrantes foram pegos em flagrante delito. O curioso da história é que a mídia conservadora tem procurado livrar a barra de órgãos da imprensa como o Correio Brasiliense e a Tribuna de Brasília, que também teriam se locupletado com grana por detrás do pano. Não por acaso, no dia que explodiu o escândalo, os dois jornais mencionados preferiram ficar na moita.

Outro fato de destaque, só anunciado pela TV Globo quase uma semana depois de divulgado pela primeira vez, foi a decisão do Ministério Público em São Paulo de denunciar na Justiça o ex-prefeito e atual deputado Paulo Maluf, juntamente com o Senador Romeu Tuma por ocultação de cadáveres durante a ditadura no Brasil. Maluf foi prefeito, uma vez eleito, e governador de São Paulo nomeado pelos generais de plantão, enquanto Tuma dirigia a Polícia Federal. Além dos dois, foram denunciados o também ex-prefeito nomeado da cidade de São Paulo, Miguel Colasuonno, o médico legista Harry Shibata (o cara que assistia as sessões de tortura e indicava até quando o torturado podia resistir, além de assinar autopsias incorretas) e o ex-diretor do Serviço Funerário Municipal Fábio Pereira Bueno.

Já o ex-agente de inteligência do Uruguai, Mario Neira Barreiro, que se encontra preso em Porto Alegre, foi submetido a um detector de mentiras utilizado em Israel, considerado pelos especialistas da área como praticamente infalível, tendo o resultado sido positivo, ou seja, de que a acusação segundo a qual o Presidente constitucional brasileiro, João Goulart, foi assassinado com troca de remédios não é mentirosa. Ou seja, Barreiro passou pelo teste e se estivesse mentindo as possibilidades de que isso aparecesse no detector seriam de 99.99%. Exige-se um aprofundamento das investigações.

Enquanto isso, César Benjamin em seu furor doentio contra o Lula inventou uma história que o doutor Freud explica. Benjamin seguiu a trilha de costear o alambrado, como diria Leonel Brizola, ou seja, passou para o outro lado e foi aproveitado pela Folha de S. Paulo, hoje um jornal, não a serviço do Brasil, como proclama, mas a serviço da direita. Benjamin integra o time dos desertores.

Ah, sim: o amigo jornalista gaúcho Renato Gianuca outro dia lembrou-me que há 100 anos o presidente da Nicarágua, José Carlos Zelaya, foi derrubado pelo presidente dos Estados Unidos, William Taft. Ele tinha dado um ultimato no sentido de que o governo da Nicarágua pagasse uma indenização a familiares de cidadãos estadunidenses executados por terem feito ações terroristas para desestabilizar Zelaya. O marines então invadiriam o país e derrubaram Zelaya. Hoje, o também Zelaya foi derrubado com o apoio tácito do governo dos Estados Unidos, que acabou reconhecendo a farsa eleitoral que resultou na eleição de Porfírio Lobo.

Não é à toa que um senhor de barba falava, já no século XIX, que a história se repete como farsa.

Mario Augusto Jakobskind, Direto da Redação.

Nenhum comentário: