sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Planilha cita 41 empresas e caixa 2 de R$ 11 mi na campanha de Arruda


No total, 20 construtoras estão relacionadas no documento, das quais nove fecharam contrato com o governo


Um documento mantido até hoje sob sigilo revela detalhes do caixa 2 da campanha do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM). A planilha foi feita pelo presidente do PSDB-DF, Márcio Machado, suspeito de ser o mentor da arrecadação ilícita em 2006. O manuscrito indica que a campanha de Arruda abordou pelo menos 41 empresas para conseguir doações e abastecer o caixa 2 com R$ 11 milhões. É o primeiro documento fora do inquérito da Polícia Federal que mostra o funcionamento do esquema que deu origem ao "mensalão do DEM" em Brasília.

A contabilidade mostra empresas associadas à expressão "PG", indicando pagamentos de empresas que não aparecem na prestação de contas de Arruda à Justiça Eleitoral. O documento tem anotações com os nomes das empresas e valores, uma coluna com dois saldos - um em dólar (US$ 342.900) e outro em reais (R$ 243.500) - e duas listas de receitas (R$ 1,1milhão) e despesas (R$ 1,1 milhão). No total, 20 construtoras estão relacionadas - pelo menos nove delas fecharam contrato com o governo que tomou posse em 2007.

Por meio de seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, o tucano Márcio Machado confirmou a autoria da planilha. Vitorioso na campanha, Arruda fez dele seu secretário de Obras. Por causa do escândalo do "mensalão do DEM", o PSDB exigiu que ele deixasse o governo na terça-feira.

A anotação "PG" aparece à frente do nome de 12 dessas empresas. Márcio Machado, autor da lista, argumenta que não se recorda se isso significa que houve doação. Quando o "pago" não correspondia ao total supostamente prometido, ele anotava o montante devido. A Delta Engenharia, por exemplo, aparece listada com o valor de R$ 250 mil, "PG" de R$ 200 mil. O tucano anotou à frente: "-50".

Das 41 empresas listadas na planilha, apenas duas aparecem na prestação de contas de Arruda à Justiça Eleitoral, mas com valores diferentes e um total de R$ 260 mil doados: a CTIS (R$ 250 mil) e a CD (R$ 10 mil) - valores muito inferiores aos R$ 650 mil da lista de Márcio Machado. A Delta não consta entre as doadoras oficiais. Segundo Durval Barbosa, o secretário de Relações Institucionais que fez um acordo de delação premiada e denunciou o "mensalão do DEM", o tucano era um dos "captadores do governador".

Machado disse ao Estado, por meio de seu advogado, que a planilha era uma projeção de doações que seriam solicitadas às empresas por meio do tesoureiro oficial da campanha, José Eustáquio Oliveira. O tucano afirma que não se recorda dos números nem acompanhou essas doações. A planilha foi esquecida por ele, em janeiro de 2007, dois meses após a campanha, numa visita a uma emissora de TV. Essa contabilidade se encontra também em poder do Ministério Público do DF.

VALORES QUEBRADOS

Alguns detalhes contradizem a versão de Machado. Há valores quebrados, como no caso do "Grupo Olival", cujo nome aparece com "277.000" ao lado, e uma anotação de "120" acima. Uma empresa chamada Unifarma é mencionada com o valor também quebrado de R$ 1,7 milhão, o maior da planilha.

Encerrada a eleição, as empresas que ajudaram Arruda receberam, segundo a investigação policial, a promessa de serem contratadas por seu governo. A planilha do caixa 2 reforça a suspeita. As construtoras Torc , Conterc, Direcional, e Emsa, por exemplo, somam R$ 960 mil no documento. As quatro recebem do governo. Juntas, Conterc e Torc fecharam, por exemplo, um contrato de R$ 46 milhões em 2007 para obras no Sistema Viário da Ponte JK, cartão postal de Brasília.

Fornecedora de alimentação hospitalar ao governo do Distrito Federal, a Sanoli Indústria e Comércio de Alimentação é citada com R$ 255 mil. A Emsa S.A., parceira do governo na Pontão do Lago Sul, zona de restaurantes caros de Brasília, teria doado R$ 500 mil. Na parte de despesas da planilha, há citações como "Fábio S" (que seria Fábio Simão, ex-chefe de gabinete de Arruda), recebendo R$ 210 mil, e a sigla "PO", geralmente usada em Brasília para falar do vice-governador Paulo Octávio (DEM), com R$ 200 mil. AE.

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