O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, propôs nesta terça(21) que o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva dirija a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que vai reunir 33 países da região. A indicação foi feita no fim da cúpula dos membros do Grupo do Rio, no México, onde o Brasil foi extremamente elogiado e até apontado como "líder regional indiscutível". O presidente anfitrião, Felipe Calderón também sugeriu o nome de Lula para liderar o novo fórum.
Em entrevista à rede de televisão "CNN", Chávez revelou que a proposta de que Lula comande a Celac foi feita "meio em tom de brincadeira e meio a sério, pois Lula vai ficar desempregado" quando deixar a presidência em janeiro. "Mas no fundo é sério. Lula tem grandes condições, tem uma grande experiência, é um homem honesto, transparente, amigo de todos, capaz de escutar a todos", disse Chávez.
Ele afirmou que, ao ouvir a proposta, Lula "estava rindo". O líder venezuelano disse ainda que o brasileiro pediu para ele chegar "mais cedo" em sua próxima reunião bilateral, mês que vem, em Brasília, para falar de "política do futuro".
Em outro momento, o presidente do México também sugeriu que Lula deveria dirigir o novo fórum. "O presidente Lula é o líder indiscutível de nossa região, que dá equilíbrio e força à América Latina", disse Felipe Calderón.
O mexicano seguiu fazendo elogios efusivos ao presidente Lula. "O Brasil é nosso maior país, que tem mais território, mais habitantes, também teria de ter forçosamente um grande presidente", afirmou, diante de aplausos dos chefes de Estado presentes à reunião de cúpula dos países latino-americanos e do Caribe. À noite, ele deu mais um indicativo de que deseja que Lula assuma a liderança do grupo, ao expressar seu desejo de seguir compartilhando espaços de debate e foros diplomáticos com Lula, mesmo após a sua saída da presidência.
Os líderes reunidos durante dois dias no balneário de Playa del Carmen, no Caribe mexicano, aprovaram dez declarações, entre as quais se destaca a criação do novo organismo "como um espaço regional próprio que una a todos os estados".
A intenção é que esta entidade, que deve estar totalmente formada nas cúpulas da Venezuela (2011) ou do Chile (2012), assuma o "patrimônio" do Grupo do Rio e da Cúpula da América Latina e do Caribe (CALC). O novo fórum, que não contará com a presença de Estados Unidos e Canadá, deve servir de contraponto à Organização dos Estados Americanos (OEA), que foi alvo de críticas do próprio Lula, nesta terça.
Críticas à OEA
O brasileiro condenou ontem a entidade e o seu Conselho de Segurança por não se posicionarem em favor da soberania das Ilhas Malvinas pela Argentina. "A nossa atitude é de solidariedade à Argentina", disse Lula, que indagou: "Qual é a explicação geográfica, política e econômica de a Inglaterra estar na Malvinas? Qual é a explicação de as Nações Unidas nunca terem tomado essa decisão? Não é possível que a Argentina não seja dona (das Malvinas), mas que seja a Inglaterra, a 14 mil quilômetros de distância."
Lula insinuou que a ONU age dessa forma porque a Grã-Bretanha é membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e voltou a defender uma reformulação do organismo, ampliando sua representatividade.
"É inexorável que a gente discuta este papel (do Conselho de Segurança). Não é possível que ele continue representado pelos interesses da 2ª Guerra. Por que isso não muda?", questionou. E apelou: "Se nós não enfrentarmos este debate, a ONU vai continuar a funcionar sem representatividade e o conflito no Oriente Médio vai ficar por conta do interesse dos norte-americanos quando, na verdade, a ONU é que deveria estar negociando a paz no Oriente Médio."
Apoio para Argentina e Cuba
Os 32 países da América Latina e do Caribe reunidos na Cúpula do Grupo do Rio aprovaram ainda por unanimidade a reivindicação da Argentina pela soberania sobre as ilhas Malvinas (Falkland), em cujas águas uma companhia britânica começou a explorar hidrocarbonetos.
O ministro das Relações Exteriores argentino, Jorge Taiana, disse que seu país conseguiu "um importante respaldo diplomático" ao ampliar e aprofundar a reivindicação pela soberania sobre as Malvinas, que estão nas mãos do Reino Unido desde 1833 e foram motivo de guerra entre os dois países em 1982.
A Declaração do Grupo do Rio sobre a 'Questão das Ilhas Malvinas' expressa o apoio dos chefes de Estado da região "aos legítimos direitos" da Argentina na disputa com o Reino Unido pela soberania sobre o arquipélago.
Os líderes pedem que os Governos dos dois países "retomem as negociações a fim de encontrar o mais rapidamente possível uma solução justa, pacífica e definitiva na disputa pela soberania sobre as ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul e seus espaços marítimos circundantes, em conformidade com as resoluções e declarações pertinentes das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos".
Segundo a declaração, os líderes "expressam, além disso, em relação ao Tratado de Lisboa, que modifica o tratado da União Europeia (UE) e o Tratado Constitutivo da Comunidade Europeia, que a inclusão das ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul no regime de 'Associação dos Países e Territórios de Ultramar' é incompatível com os legítimos direitos" da Argentina e com a "existência de uma disputa pela soberania sobre estes arquipélagos".
O comunicado especial aprovado pelos presidentes sobre a prospecção de hidrocarbonetos na plataforma continental, iniciada nesta semana pelos britânicos, aponta que os líderes lembraram a resolução das Nações Unidas. A ONU pediu às duas partes para que se abstenham de adotar decisões que levem à introdução de modificações unilaterais na situação das ilhas.
Os líderes latino-americanos também assinaram uma resolução condenando o bloqueio norte-americano contra Cuba. Vários dos presidentes se dirigiram ao plenário para expressar seu repúdio a essa política de Washington; entre eles Leonel Fernández, da República Dominicana, que também pediu a abolição da Lei Helms-Burton, como fez o líder da Nicarágua, Daniel Ortega.
Uribe, sempre a exceção
O momento dissonante em relação ao clima de unidade e integração vivenciado na cúpula regional foi um novo ataque do presidente colombiano Álvaro Uribe em relação à Venezuela de Hugo Chávez. Uribe acusou Chávez de promover um suposto bloqueio comercial contra seu país, chegando a agredir verbalmente o mandatário. O venezuelaeno, por sua vez, atribui a investida a uma tentativa de atrapalhar a constituição do novo fórum regional.
O presidente boliviano, Evo Morales, também compreendeu desta maneira e afirmou que Uribe provocou a discussão buscando o fracasso do evento. Ele acusou o colombiano de ser um agente dos Estados Unidos.
"Qual a minha conclusão? Como neste evento, na Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe, viemos debater uma nova organização sem os Estados Unidos, os agentes dos Estados Unidos estão tentando atolar e fracassar (a criação do novo organismo)", disse Morales.
O entrevero dirante a cúpula teve um resultado prático: a criação de um grupo de países latino-americanos que buscará uma mediação para os atritos diplomáticos e comerciais entre Colômbia e Venezuela. A República Dominicana vai liderar tal comissão.
Os dois países estão com as relações rompidas desde julho, quando o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, contestou um acordo militar entre Bogotá e Washington e, como represália, determinou o corte de importações do país vizinho.
"Abrimos um espaço no marco desta Cúpula da Unidade a fim de auxiliar a dirimir as diferenças entre países irmãos de uma maneira razoável, neste caso concreto o Grupo de Amigos de Colômbia e Venezuela estará presidido pelo presidente da República Dominicana, Leonel Fernández", disse Felipe Calderón.
Vermelho, com agências
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