Foi uma semana triste com as águas de março que chegaram em abril. Como em temporais de outras décadas, muitas mortes que poderiam ser evitadas. As autoridades estaduais e municipais, para variar, tiveram um comportamento lamentável. O governador Sergio Cabral investiu furiosamente contra os moradores de favelas que ocupam áreas de risco, como se eles tivessem escolhido o local de moradia por gosto, ou seja, como se eles fossem os culpados por tudo que aconteceu. O Prefeito seguiu o mesmo caminho e já avisou que vai colocar a polícia para remover quem não quiser sair. E para onde vão? Na prática a resposta de Paes seria ”se virem”.
A mídia eletrônica conservadora aproveitou a tragédia para atacar o governo federal. Faz parte do jogo a mídia conservadora atuar cada vez mais como partido político, sobretudo agora que a campanha eleitoral começa a esquentar.
Tanto governantes quanto os analistas de sempre se esqueceram de lembrar que o Rio ao longo das últimas décadas vem sofrendo um processo violento de descaracterização por culpa, aí sim, da especulação imobiliária, o mesmo setor que desova polpudas verbas nos departamentos comerciais dos grandes jornais e canais de televisão, bem como financiam campanhas de candidatos para os parlamentos federais, estaduais e municipais, para não falar dos postulantes a postos executivos nos três níveis.
Alguém talvez esteja questionando o que tem a ver isso com as fortes chuvas? Vamos lá, então. Há bairros do Rio de Janeiro que há 50 ou 60 anos eram ocupados por casas e que pouco a pouco foram dando lugar a espigões construídos ao bel prazer, não obdecendo posturas mínimas que deveriam ser compatíveis com as novas exigências de infraestrutura. Ou seja, os vários bairros da cidade ganharam cara nova, mas com o mesmo sistema de drenagem e de águas e esgotos. Qualquer chuva um pouco mais forte enche as ruas impedindo a circulação de veículos e até mesmo de pedestres. A cidade para.
Se algum vereador requerer a convocação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as posturas municipais e a ação da especulação imobiliária está arriscado a cair no índex da mídia conservadora. Por isso são poucos os que ousam entrar na briga, até mesmo porque dificilmente conseguirão ter sucesso no Parlamento em levar adiante alguma investigação.
A história se agrava porque a Prefeitura não cuida como deveria dos bueiros e o recolhimento de lixo em alguns pontos da cidade é precário. Mas a culpa continua sendo do povo, segundo os governantes que de quatro em quatro anos correm atrás dos eleitores com promessas das mais variadas. Soma-se a isso alguns períodos de maré cheia e o panorama piora.
Como se isso não bastasse, o Rio de Janeiro, a Região Metropolitana e praticamente todas as grandes cidades brasileiras conheceram ao longo do tempo o fenômeno do ”inchaço” provocado pela não fixação de milhões de brasileiros no campo. Não se fez uma reforma agrária necessária para evitar que a população do campo fosse para as cidades habitar em locais inóspitos e sujeitos aos efeitos trágicos de fortes chuvas, comuns em época de tempo quente, tanto faz agora com o aquecimento global no verão, outono, inverno ou primavera.
Em Angra dos Reis, onde no início do ano os fortes temporais provocaram mortes, o senhor Sergio Cabral também culpou os favelados que ocupavam áreas de risco. Na verdade, boa parte deles naquela cidade fluminense eram trabalhadores da indústria naval que fechou as portas em função da política econômica neoliberal posta em prática pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. Os estaleiros ficaram ao Deus dará fechando as portas ou reduzindo drasticamente os postos de trabalho. A favelização de Angra aumentou, porque muitos trabalhadores não tiveram condições de pagar aluguel por estarem desempregados ou viverem de bicos.
Esta é, em síntese, a história que não é contada, que Cabral e Paes preferem ignorar e seguir o raciocínio da elite, a de que o mordomo é sempre o culpado. No caso de Cabral e Paes ainda há agravantes. Ambos defendem, cada um à sua maneira, a criminalização das áreas pobres da cidade com ações violentas contra a população, muitas vezes sob o manto do silêncio ou aplauso da classe média, estimulada pelo noticiário não raramente preconceituoso da mídia conservadora contra os pobres. Paes e Cabral só pensam no choque de ordem, na Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016.
PS. Não podia deixar passar em branco a presença de dois óleos queimados da história no estúdio da Globo News, generais Leônidas Pires Gonçalves e Newton Cruz, para falar as baboseiras e mentiras de sempre. Gonçalves chegou ao cúmulo de afirmar que quando comandou o DOI-Codi no Rio, de 74 a 77 não ocorreram torturas por lá. Há inúmeros torturados que desmentem o militar. Pior ainda foi o fato de afirmar que o jornalista Vladimir Herzog se suicidou. Se não fosse inimputável pelos seus 89 anos teria de responder na Justiça por essa afirmação. Qual o motivo das Organizações Globo desencavarem as múmias? Aí tem...
A mídia eletrônica conservadora aproveitou a tragédia para atacar o governo federal. Faz parte do jogo a mídia conservadora atuar cada vez mais como partido político, sobretudo agora que a campanha eleitoral começa a esquentar.
Tanto governantes quanto os analistas de sempre se esqueceram de lembrar que o Rio ao longo das últimas décadas vem sofrendo um processo violento de descaracterização por culpa, aí sim, da especulação imobiliária, o mesmo setor que desova polpudas verbas nos departamentos comerciais dos grandes jornais e canais de televisão, bem como financiam campanhas de candidatos para os parlamentos federais, estaduais e municipais, para não falar dos postulantes a postos executivos nos três níveis.
Alguém talvez esteja questionando o que tem a ver isso com as fortes chuvas? Vamos lá, então. Há bairros do Rio de Janeiro que há 50 ou 60 anos eram ocupados por casas e que pouco a pouco foram dando lugar a espigões construídos ao bel prazer, não obdecendo posturas mínimas que deveriam ser compatíveis com as novas exigências de infraestrutura. Ou seja, os vários bairros da cidade ganharam cara nova, mas com o mesmo sistema de drenagem e de águas e esgotos. Qualquer chuva um pouco mais forte enche as ruas impedindo a circulação de veículos e até mesmo de pedestres. A cidade para.
Se algum vereador requerer a convocação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as posturas municipais e a ação da especulação imobiliária está arriscado a cair no índex da mídia conservadora. Por isso são poucos os que ousam entrar na briga, até mesmo porque dificilmente conseguirão ter sucesso no Parlamento em levar adiante alguma investigação.
A história se agrava porque a Prefeitura não cuida como deveria dos bueiros e o recolhimento de lixo em alguns pontos da cidade é precário. Mas a culpa continua sendo do povo, segundo os governantes que de quatro em quatro anos correm atrás dos eleitores com promessas das mais variadas. Soma-se a isso alguns períodos de maré cheia e o panorama piora.
Como se isso não bastasse, o Rio de Janeiro, a Região Metropolitana e praticamente todas as grandes cidades brasileiras conheceram ao longo do tempo o fenômeno do ”inchaço” provocado pela não fixação de milhões de brasileiros no campo. Não se fez uma reforma agrária necessária para evitar que a população do campo fosse para as cidades habitar em locais inóspitos e sujeitos aos efeitos trágicos de fortes chuvas, comuns em época de tempo quente, tanto faz agora com o aquecimento global no verão, outono, inverno ou primavera.
Em Angra dos Reis, onde no início do ano os fortes temporais provocaram mortes, o senhor Sergio Cabral também culpou os favelados que ocupavam áreas de risco. Na verdade, boa parte deles naquela cidade fluminense eram trabalhadores da indústria naval que fechou as portas em função da política econômica neoliberal posta em prática pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. Os estaleiros ficaram ao Deus dará fechando as portas ou reduzindo drasticamente os postos de trabalho. A favelização de Angra aumentou, porque muitos trabalhadores não tiveram condições de pagar aluguel por estarem desempregados ou viverem de bicos.
Esta é, em síntese, a história que não é contada, que Cabral e Paes preferem ignorar e seguir o raciocínio da elite, a de que o mordomo é sempre o culpado. No caso de Cabral e Paes ainda há agravantes. Ambos defendem, cada um à sua maneira, a criminalização das áreas pobres da cidade com ações violentas contra a população, muitas vezes sob o manto do silêncio ou aplauso da classe média, estimulada pelo noticiário não raramente preconceituoso da mídia conservadora contra os pobres. Paes e Cabral só pensam no choque de ordem, na Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016.
PS. Não podia deixar passar em branco a presença de dois óleos queimados da história no estúdio da Globo News, generais Leônidas Pires Gonçalves e Newton Cruz, para falar as baboseiras e mentiras de sempre. Gonçalves chegou ao cúmulo de afirmar que quando comandou o DOI-Codi no Rio, de 74 a 77 não ocorreram torturas por lá. Há inúmeros torturados que desmentem o militar. Pior ainda foi o fato de afirmar que o jornalista Vladimir Herzog se suicidou. Se não fosse inimputável pelos seus 89 anos teria de responder na Justiça por essa afirmação. Qual o motivo das Organizações Globo desencavarem as múmias? Aí tem...
Mário Augusto Jakobskind, Direto da Redação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário