quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dilma arma ato para rivalizar com Serra


A campanha de Dilma Rousseff à Presidência encomendou para o próximo sábado um ato político engrossado por seis centrais sindicais, em São Bernardo do Campo (SP), na tentativa de fazer "contraponto social" ao lançamento da candidatura do ex-governador José Serra ao Palácio do Planalto.

A ofensiva do PT de Dilma para bombardear a festa do PSDB de Serra, em Brasília, deverá contar com a ajuda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, convidado de honra da manifestação organizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O tema do encontro - emprego e qualificação profissional - foi escolhido com a recomendação de que era preciso juntar povo no palanque.

Emissários de Dilma, porém, procuraram dirigentes das centrais e pediram a eles que não empunhassem ali, no sindicato presidido por Lula de 1975 a 1980, a bandeira das 40 horas semanais de trabalho, para não constranger a ex-ministra da Casa Civil e pré-candidata do PT.

Contrariados, representantes da Força Sindical ameaçaram levantar uma faixa provocativa, com os dizeres "Lula, 40 ou 45?". Quarenta e cinco é o número do PSDB.

"Vamos fazer passeatas pela redução da jornada de 44 para 40 horas em vários Estados, na semana que vem, e queremos conversar com Lula antes de sábado", afirmou o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical. A CUT não criou embaraços.

A defesa das 40 horas, "sem redução de salários", consta das diretrizes do programa de governo de Dilma. Embora a plataforma tenha sido aprovada em fevereiro pelo 4.º Congresso do PT, o Planalto está dividido quanto à conveniência da mudança.

Na prática, o corte na jornada de trabalho é interpretado pelo governo como uma faca de dois gumes: aproxima Dilma dos movimentos sociais, mas dificulta o diálogo do PT com empresários, muitos deles aliados de Serra.

O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP) - cotado para vice de Dilma -, apresentou proposta alternativa, que diminui a jornada de 44 para 42 horas semanais. O projeto, porém, está empacado no Congresso.

Antes de o PT bater o martelo sobre o ato planejado para embaçar a aclamação de Serra, a equipe de Dilma chegou a cogitar a possibilidade de patrocinar um encontro sobre educação, em São Paulo. A ideia foi vetada porque integrantes do governo alertaram que o "comício" poderia soar como provocação a Serra, já que ainda há professores estaduais em greve. Em conversas reservadas, ministros argumentaram que o objetivo era "fazer contraponto, e não um confronto".

Dilma também escapou da saia-justa com o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), que é seu aliado e vai concorrer à reeleição. Depois de arrumar mil desculpas, ela trocou o Congresso do PR - que no sábado marcará o lançamento da pré-candidatura de Anthony Garotinho ao governo fluminense - pelo ato com Lula no ABC.

A petista vai subir no palanque de Cabral e Garotinho, mas não quis comprar briga antecipada. A superstição também falou alto: em 2006, logo após passar para o segundo turno da disputa com Lula, o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB)reuniu-se com Garotinho, que lhe declarou apoio. Foi o beijo da morte: Alckmin perdeu a eleição.

O PT lançou a candidatura de Dilma Rousseff à sucessão do presidente Lula em 20 de fevereiro, no último dia de seu 4.º Congresso, em Brasília. Na ocasião, o partido também aprovou documento intitulado "A Grande Transformação", com as diretrizes do programa de governo petista. Quarenta e nove dias depois, o PSDB fará encontro nos mesmos moldes para aclamar o ex-governador José Serra como candidato ao Palácio do Planalto.AE

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