Paulo Cezar da Rosa
Aos poucos, está "caindo a ficha" para os gaúchos. O Rio Grande do Sul, a cada dia que passa, está ficando cada vez mais alagoano. De um povo que se orgulhava de ser "o mais politizado do país", aos poucos o Estado gaúcho está construindo uma nova imagem, para fora e para dentro de si mesmo. O Rio Grande do Sul está se tornando mais um Estado alagoano do país.
Desculpem os alagoanos, mas as regiões constroem marcas. E assim como São Paulo é trabalho, o Rio de Janeiro é prazer, e Brasília é poder, Alagoas fixou a imagem de terra do banditismo na política. E isso é algo que os gaúchos estão começando a conhecer da pior forma. E a não gostar.
Antes, as denúncias de corrupção eram notícias nacionais. Os gaúchos sabiam que no Brasil, em muitos governos, vigorava o "rouba mas faz". E distanciavam-se destas práticas como o diabo da cruz. Num país patrimonialista, o Rio Grande do Sul sempre orgulhou-se de ser republicano. Claro, ninguém é ingênuo e os gaúchos também praticavam o tradicional "caixa 2" eleitoral. Mas tudo dentro de uma boa tradição e dos melhores princípios democráticos.
A divisa do Estado é "Liberdade, Igualdade e Humanidade". As três principais inspirações dos fundadores foram a revolução francesa, a revolução norte-americana e o positivismo de August Comte. Hoje, entretanto, tudo isso parece estar muito distante, perdido na história. Nestes tempos de terremotos e tsunamis naturais, os gaúchos convivem com manchetes novas todas semanas dando conta de denúncias de corrupção e mortes mal explicadas.
A versão do MP
Dia 26 de fevereiro o ex-Vice Prefeito e secretário da Fazenda de Porto Alegre foi assassinado quando saia de um templo evangélico. A Polícia Civil foi rápida e na quarta feira seguinte ao crime concluiu a investigação dizendo tratar-se de uma tentativa de assalto que resultou em morte da vítima. (Leia aqui Bang Bang em Porto Alegre).
Talvez a Polícia Civil tenha sido rápida demais, porque ninguém acreditou muito na sua conclusão do inquérito, nem mesmo o Ministério Público estadual. Na última quinta feira, o MP mandou prender outras cinco pessoas. Fez isso através da Brigada Militar (já revelando desconfiança quanto à isenção da Polícia Civil) e chamou uma coletiva onde disse que o ex-Vice Prefeito havia sido executado, a mando de empresários da área de segurança (a empresa Reação), que teriam se sentido prejudicados no rompimento de um contrato que tinham com a Secretaria da Saúde. O crime teria sido por vingança e para impedir que Eliseu os comprometesse.
Abriu-se uma guerra de versões entre o MP e a Polícia. A julgar pelos sinais do MP, a Polícia Civil não teria sido isenta e teria no mínimo evitado a tese da "morte por encomenda". A Polícia Civil reagiu com veemência à interpretação do MP de que teria havido execução. Nas ruas, quem tem algum interesse na política ou na segurança ficou atônito. Afinal, o que está por trás de versões tão díspares e defendidas com tanta veemência? Subjacente ao raciocínio, o episódio serve para "comprovar" que as instituições não merecem credibilidade e estão todas comprometidas.
O pano de fundo
Analisando de fora, o comportamento da Polícia e do Ministério Público parece articulado por interesses políticos e objetivos eleitorais. Eliseu foi vice de Fogaça, que é candidato a governador. Botar uma pedra em cima do caso Eliseu seria positivo para Fogaça. Mas Yeda e Tarso, seus principais oponentes, não teriam interesse em esfriar o assunto. Nesse contexto, a entrada do Ministério Público estadual seria uma manobra do interesse das forças que hoje estão com Yeda (ou com Tarso). A governadora já terá que dar explicações sobre o caso de seu assessor que apareceu boiando no Lago Paranoá em Brasília. Ao colocar o tema Eliseu em debate, Yeda (e/ou Tarso) estaria zerando o jogo, pelo menos internamente no campo político que hoje governa o Estado.
O problema todo é que, como disse um amigo, cada dia mais parece que não se trata de ter ideais e projetos políticos. "Desse jeito vou ter de regressar aos meus tempos de luta armada", disse ele. Vou pegar a minha turma e começar a comprar armas, fazer treinamento, tiro ao alvo... E olha que a gente sabe fazer isso muito melhor que esse pessoal", concluiu.
A que ponto chegamos!
Aos poucos, está "caindo a ficha" para os gaúchos. O Rio Grande do Sul, a cada dia que passa, está ficando cada vez mais alagoano. De um povo que se orgulhava de ser "o mais politizado do país", aos poucos o Estado gaúcho está construindo uma nova imagem, para fora e para dentro de si mesmo. O Rio Grande do Sul está se tornando mais um Estado alagoano do país.
Desculpem os alagoanos, mas as regiões constroem marcas. E assim como São Paulo é trabalho, o Rio de Janeiro é prazer, e Brasília é poder, Alagoas fixou a imagem de terra do banditismo na política. E isso é algo que os gaúchos estão começando a conhecer da pior forma. E a não gostar.
Antes, as denúncias de corrupção eram notícias nacionais. Os gaúchos sabiam que no Brasil, em muitos governos, vigorava o "rouba mas faz". E distanciavam-se destas práticas como o diabo da cruz. Num país patrimonialista, o Rio Grande do Sul sempre orgulhou-se de ser republicano. Claro, ninguém é ingênuo e os gaúchos também praticavam o tradicional "caixa 2" eleitoral. Mas tudo dentro de uma boa tradição e dos melhores princípios democráticos.
A divisa do Estado é "Liberdade, Igualdade e Humanidade". As três principais inspirações dos fundadores foram a revolução francesa, a revolução norte-americana e o positivismo de August Comte. Hoje, entretanto, tudo isso parece estar muito distante, perdido na história. Nestes tempos de terremotos e tsunamis naturais, os gaúchos convivem com manchetes novas todas semanas dando conta de denúncias de corrupção e mortes mal explicadas.
A versão do MP
Dia 26 de fevereiro o ex-Vice Prefeito e secretário da Fazenda de Porto Alegre foi assassinado quando saia de um templo evangélico. A Polícia Civil foi rápida e na quarta feira seguinte ao crime concluiu a investigação dizendo tratar-se de uma tentativa de assalto que resultou em morte da vítima. (Leia aqui Bang Bang em Porto Alegre).
Talvez a Polícia Civil tenha sido rápida demais, porque ninguém acreditou muito na sua conclusão do inquérito, nem mesmo o Ministério Público estadual. Na última quinta feira, o MP mandou prender outras cinco pessoas. Fez isso através da Brigada Militar (já revelando desconfiança quanto à isenção da Polícia Civil) e chamou uma coletiva onde disse que o ex-Vice Prefeito havia sido executado, a mando de empresários da área de segurança (a empresa Reação), que teriam se sentido prejudicados no rompimento de um contrato que tinham com a Secretaria da Saúde. O crime teria sido por vingança e para impedir que Eliseu os comprometesse.
Abriu-se uma guerra de versões entre o MP e a Polícia. A julgar pelos sinais do MP, a Polícia Civil não teria sido isenta e teria no mínimo evitado a tese da "morte por encomenda". A Polícia Civil reagiu com veemência à interpretação do MP de que teria havido execução. Nas ruas, quem tem algum interesse na política ou na segurança ficou atônito. Afinal, o que está por trás de versões tão díspares e defendidas com tanta veemência? Subjacente ao raciocínio, o episódio serve para "comprovar" que as instituições não merecem credibilidade e estão todas comprometidas.
O pano de fundo
Analisando de fora, o comportamento da Polícia e do Ministério Público parece articulado por interesses políticos e objetivos eleitorais. Eliseu foi vice de Fogaça, que é candidato a governador. Botar uma pedra em cima do caso Eliseu seria positivo para Fogaça. Mas Yeda e Tarso, seus principais oponentes, não teriam interesse em esfriar o assunto. Nesse contexto, a entrada do Ministério Público estadual seria uma manobra do interesse das forças que hoje estão com Yeda (ou com Tarso). A governadora já terá que dar explicações sobre o caso de seu assessor que apareceu boiando no Lago Paranoá em Brasília. Ao colocar o tema Eliseu em debate, Yeda (e/ou Tarso) estaria zerando o jogo, pelo menos internamente no campo político que hoje governa o Estado.
O problema todo é que, como disse um amigo, cada dia mais parece que não se trata de ter ideais e projetos políticos. "Desse jeito vou ter de regressar aos meus tempos de luta armada", disse ele. Vou pegar a minha turma e começar a comprar armas, fazer treinamento, tiro ao alvo... E olha que a gente sabe fazer isso muito melhor que esse pessoal", concluiu.
A que ponto chegamos!
Fonte:CartaCapital
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