Editorial Vermelho
Era o que faltava: agora o tucano José Serra, pré-candidato da oposição neoliberal e conservadora à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tenta vender a imagem de “pós-Lula”, em lugar do anti-Lula que sempre foi.
É um recurso de campanha que não engana e que, nas entrelinhas, revela a intenção de apresentar-se ao eleitor como uma espécie de continuidade modificada do projeto político que, sob a liderança do presidente Lula, governa o país com êxito desde 2003.
A opção retórica de José Serra deve ser atribuída ao verdadeiro “Himalaia” que é a enorme popularidade do presidente e de seu governo. Bater de frente com essa disposição da opinião pública seria um erro fatal e Serra tenta fugir desse enfrentamento saindo pela lateral e adotando o prefixo “pós”.
Mas o que esta opção significa, o que esconde? Quando insinua que em 2011 poderá se abrir uma era “pós-Lula”, Serra manifesta disposição semelhante à de Fernando Henrique Cardoso quando defendeu, no discurso de posse do primeiro mandato, em 1995, a superação da era Vargas. Na época, ele foi mais direto do que Serra, hoje, em relação a Lula. O argumento é o mesmo: são políticas que, em sua opinião, precisam ser deixadas para trás – só se ultrapassa, como indica o prefixo “pós”, aquilo que já está superado e já cumpriu o seu papel.
Esta é a afirmação que o “pós-Lula” de Serra esconde: que o projeto de Lula estaria superado e precisaria, do ponto de vista tucano e neoliberal, ser substituído por outro. Qual projeto? Serra diz que o Brasil não tem donos – esquece que tem: o povo brasileiro -, diz que não vai estimular disputas de pobres contra ricos nem vai dividir o Brasil. Que os problemas nacionais não serão resolvidos com “demagogia”, mas com “ética”, “honestidade” e “coerência”.
As palavras chave, neste ponto do discurso que pronunciou no lançamento de sua pré-candidatura, no sábado, são “demagogia” e “coerência”. A coerência com o projeto neoliberal exige mais privatizações, redução dos gastos do governo, garantia dos interesses do grande capital financeiro e uma política externa alinhada com os interesses dos EUA e outras potências imperialistas. Basta lembrar todas as críticas tucanas contra o governo desde 2003. O Bolsa Família foi acusado de “demagógico”, a pressão pela privatização do pré-sal foi intensa, as denúncias de “gastança” contra o governo foram permanentes, a condenação da política externa soberana (que defende la integração da América do Sul e busca novos parceiros mundo afora, fortalecendo o comércio exterior brasileiro) foi constante. Estes são apenas alguns pontos do programa antipopular e antinacional das forças do arcaísmo organizadas em torno da pré-candidatura de José Serra.
Mas ele não pode confessar que vai mudar esse rumo e voltar ao mesmo programa neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, em cujo governo o ex-governador paulista foi um caciques destacado.
A opção de apresentar Serra como “pós-Lula” talvez seja a prova mais candente do impasse da oposição tucana e neoliberal e sua falta de discurso. É uma tentativa ardilosa de fugir da avaliação popular do programa que aplicaram quando estiveram no governo federal e nos governos estaduais (como o próprio Serra, cujo governo em São Paulo foi marcado pela privatização de serviços sociais, como a saúde e o transporte, e pelo tratamento dos movimentos sociais na ponta do chicote).
Terão dificuldades em conseguir escapar ao caráter plebliscitário da eleição de outubro. Já tentaram uma “terceira via” com o nome da ambientalista Marina Silva, sem ressonância na opinião pública. Insistiram na comparação entre os currículos dos dois pré-candidatos principais (Dilma Rousseff e José Serra). O que vai se desenhando, entretanto, é a comparação entre os governos FHC e Lula; é a avaliação dos programas aplicados por eles.
É uma situação desconfortável para a oposição neoliberal. Como disfarçar um programa antinacional e anti-popular que está à vista de todos e cuja experiência nefasta foi feita durante os longos oito anos neoliberais de FHC? Os trabalhadores, os empresários, o povo mais pobre, conheceram nas graves dificuldades que enfrentaram os defeitos daquele programa que favoreceu somente aos muito ricos, aos detentores do capital financeiro.
Esta percepção da diferença profunda entre os dois Brasis – o estagnado de FHC e o dinâmico e vibrante de Lula – fundamenta a opção pelo continuísmo do atual projeto que governa o país e da necessidade de avançar nas mudanças. É esta percepção que leva Serra e os tucanos a usar a máscara do “pós-Lula”. Não enganam ninguém: o Brasil quer o “pró-Lula”, um projeto que tem nome e sobrenome: Dilma Rousseff.
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