quarta-feira, 14 de abril de 2010

O partido da mídia




Demonstração explícita da esquizofrenia da mídia nativa em tempo eleitoral: a frase em epígrafe


“(…) esses meios de comunicação
estão fazendo de fato a posição
oposicionista deste país, já que a oposição
está profundamente fragilizada


Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais-ANJ

Essa frase em epígrafe é controvertida, polêmica portanto e, embora recente, já bastante previsível. Dona Judith, ao abrir a boca, se meteu numa enrascada que talvez não imaginasse. A seu favor, talvez ela seja vítima da distração como a de uma transeunte que atravessa rua movimentada com sinal fechado.

A ANJ representa os jornais e, por consequência, a “defesa dos intereses dos seus sócios”. Muito justo. A associação tem inscrito, também, no código de ética, o propósito de assegurar “o acesso” dos leitores às “diferentes versões dos fatos e às diversas tendências de opinião da sociedade”. Justíssimo. A regra determina, no entanto, que sobre isso não pode prevalecer “quaisquer interesses”. Supõe-se, por elementar, que nem mesmo o interesse dos próprios sócios. E aí dona Judith?

A oposição representa interesses. Em princípio, legítimos. Mas não deixam de ser interesses por isso.


Não há demonstração mais explícita da esquizofrenia que orienta as normas da imprensa brasileira do que essa frase da presidente da ANJ. A confusão cria a promiscuidade conceitual em empresas jornalísticas que, além do dever de informar corretamente, são entes políticos que defendem também interesses.

É nesse contexto que se insere a partidarização da imprensa brasileira, aprofundada como nunca antes, a partir da posse do presidente Lula, em 2002. Nisso se encaixa como luva a frase de Maria Judith Brito e, com ela, reportagem do jornal O Globo da quinta-feira 8 de abril, sobre a viagem da candidata do PT, Dilma Rousseff, a Minas Gerais. Foi a primeira viagem que a candidata fez sem o título de ministra do governo Lula.


Dilma foi a Minas, a terra natal dela, e visitou o túmulo de Tancredo Neves. A reverência não esconde a atitude política do gesto, praticado no segundo maior colégio eleitoral do país. Não faltou também um afago ao ex-governador Aécio Neves. Mas não há contradição insanável entre essa visita e o fato de o PT ter recusado apoio à eleição indireta de Tancredo, em 1985, como acentuou o jornal.

Perguntado sobre o voto chamado de “Dilmasia” – uma especulação sobre a hipotética decisão do eleitor de votar nela para presidente e no tucano Antonio Anastasia para o governo de Minas – ela respondeu com cacoete mineiro: “A gente não escolhe a forma pela qual o povo monta alianças. Acho até melhor a inversão, né? ‘Anastadilma’ ou qualquer coisa assim”.

Nas páginas do jornal a brincadeira virou um sério aceno de “parceria” com os tucanos mineiros e ganhou manchete de página: “Dilma acena para Anastasia e irrita o PMDB”.

O irritado peemedebista Hélio Costa, que acaba de deixar o Ministério das Comunicações do governo Lula para disputar o governo de Minas, deu corda quando procurado: “Acho que fica melhor ‘Serrélio’”.


A verdadeira razão da irritação de Costa é outra. Ele procura com ansiedade o apoio do PT mineiro. O presidente Lula força os petistas locais a aderirem. Dilma também interfere pela aliança com o PMDB, em favor de Hélio. Mesmo que o acordo saia, nada evitará que os mineiros misturem o voto como fazem, à mesa, com o feijão-tropeiro ou como fizeram, na cabine eleitoral, em 2002 e 2006, quando votaram em Lula e Aécio: “Lulécio”.

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