terça-feira, 20 de abril de 2010

Pimentel e o otimismo


Raymundo Costa


Valor Econômico - 20/04/2010

Apesar dos problemas ocorridos em Minas Gerais e no Ceará, a campanha da ex-ministra Dilma Rousseff a presidente vai manter a agenda viagem da candidata aos Estados, independentemente da diferença entre os aliados. " Nossa agenda não é pautada pela lógica regional " , diz o coordenador da campanha petista, Fernando Pimentel. Nos próximos dias, Dilma vai ao Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Em todos há divergências entre os aliados.

Pimentel descarta com desdém as análises segundo as quais Dilma só cometeu erros, desde que deixou o abrigo do governo e do presidente mais popular da história. Prova disso seria a última pesquisa Datafolha, realizada na semana seguinte ao lançamento da pré-candidatura de José Serra pelo PSDB. Foi a semana da candidatura tucana nos meios de comunicação. No entanto, a diferença entre os dois candidatos permaneceu estável em relação ao levantamento feito três semanas antes.

O coordenador da campanha de Dilma tem resposta na ponta da língua para cada crítica sacada contra o desempenho da candidata. No próprio PT houve quem achasse estranha a visita feita pela ex-ministra ao túmulo de Tancredo Neves, logo após deixar o governo, no final de março. Pimentel responde com as palavras que ouviu de Tancredo Augusto, filho do presidente que morreu sem tomar posse: " Ninguém é dono do Tancredo, ele é um patrimônio nacional " . Uma " homenagem a um brasileiro ilustre " , completa o coordenador.

Em Minas, Dilma também fez a apologia do voto " Anastadilma " , ou seja, do eleitor do PSDB ao governo local no candidato do PT a presidente da República. Com isso deixou irritado o candidato do PMDB, Hélio Costa, que conta com o apoio de Lula para vencer a eleição, contra Antônio Anastasia, cria do ex-governador tucano Aécio Neves.

Segundo Pimentel, Dilma não teve tempo nem oportunidade de explicar: ela falou em " Anastadilma " quando foi questionada sobre o voto " Dilmasia " . A diferença seria que o eleitor de Anastasia pode votar em Dilma, mas o eleitor do PT, e portanto da ex-ministra, nunca votará no PSDB. " É sutil, pouca gente entendeu " , diz Pimentel, que por sinal é mineiro como a candidata.

Pimentel defende a viagem que Dilma fez ao Ceará, terra do aliado Ciro Gomes (PSB). Para o ex-prefeito de BH, a campanha não pode ser aprisionada por " idiossincrasia " locais. Cabe observar, no entanto, que boa parte do PT ficou apreensiva com os problemas enfrentados pela candidata em Fortaleza: ela só foi recebida pelo governador Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro, depois de um telefonema do presidente do PT, José Eduardo Dutra. A avaliação é que a viagem não valia o constrangimento.

" Não devem ter sido erros tão graves assim " , ironiza Pimentel, uma vez que a diferença entre Dilma e Serra, de acordo com o último levantamento do instituto Datafolha, se manteve estável em relação à sondagem feita após Dilma deixa o governo - nove pontos, no campo realizado nos dias 15 e 16 de março, e dez pontos, nas entrevistas feitas nos dias 25 e 26.

O coordenador da campanha de Dilma carrega na pasta uma consolidação das pesquisas realizadas de fevereiro de 2008 a fevereiro de 2010 pelos quatro principais institutos de pesquisa nacionais. O gráfico mostra o candidato do PSDB, José Serra, praticamente com o mesmo índice nas duas pontas, algo entre 37% e 38%. " Ele continua no mesmo tamanho " , diz. Dilma, por outro lado, saiu de 4,5% em 2008 para os 28% medidos pelo Datafolha na semana passada.

Outra tabela informa que 44% dos eleitores de Serra dizem não saber quem é o candidato de Lula à sucessão de 2010. Do outro lado apenas 5% dos eleitores afirmam que não sabem quem é o candidato do presidente da República. A conclusão de Pimentel é que o índice de intenções de voto de Dilma é " sólido " , enquanto o de Serra ainda pode ser desmanchado.

O cenário vislumbrado por Pimentel é otimista. As providências que toca no comando da campanha de Dilma, nem tanto. A manutenção da agenda de viagens a Estados onde os aliados ainda não se entenderam, por exemplo. Explicação do coordenador da campanha petista: " Nós temos de correr o risco de torná-la conhecida, sabendo que ela acerta mais do que erra " .

É provável que Dilma volte a dividir o palanque com Lula no 1º de maio, em São Paulo. E Lula voltou a falar em licença para entrar 100% na campanha.

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