Carlos José Marques, diretor editorial-IstoÉ
No terreno da eleição, projeto político foi um tema colocado de lado, esquecido como uma bobagem que não rende voto. Vale mais desmoralizar o adversário. Ao menos parece ser assim que pensa o tucanato, guiado pelo presidenciável José Serra. Ele tomou como bandeira de campanha um episódio execrável – a quebra do sigilo fiscal de sua filha Verônica Serra – e partiu para o ataque ensandecido contra a rival Dilma Rousseff. Sem nenhuma prova cabal ou elo concreto de envolvimento direto da adversária, apontou Dilma como culpada por tudo. Fez mais: pediu a impugnação de sua candidatura. Chamou-a de “fraude”. Lançou a pecha de “fascistas” sobre petistas. Chegou a chorar teatralmente durante discurso em palanque. Um espetáculo claro de casuísmo eleitoreiro que não condiz com a saudável disputa de ideias para vencer nas urnas. Pode-se entender a indignação de um pai com o crime cometido contra a filha. Mas daí a partir para ilações infundadas, concluindo que a responsabilidade é da opositora, vai uma longa distância. A leviana incursão serrista deixa transparecer o oportunismo. Nessa nova vertente de estratégia de campanha, Serra dá a entender que, se não pode ganhar no voto democrático, aceita vencer apelando. Partiu para o tapetão como aquele time que discorda do resultado. E nas pesquisas vai seguindo atrás. Em entrevista nesta edição, o correligionário e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – que, embora tenha sido o mentor do real e pai da estabilidade, foi sumariamente “esquecido” pelos tucanos nos programas eleitorais de tevê – diz que a campanha de Serra não está sintonizada com o País. As idas e vindas de seu antigo amigo e parceiro, que ora vincula a imagem a Lula, ora critica seu governo, incomodam FHC e deixam nele a impressão de uma campanha perdida.
O vazamento de dados da filha foi pego como tábua de salvação da candidatura de Serra. Mas o episódio da Receita Federal – que, de mais a mais, sempre pareceu um queijo suíço quando o assunto foi zelar pela privacidade dos contribuintes e pela guarda de informações sigilosas – não pode ser classificado como único. Ocorre há décadas, como problema crônico. Não faz muito tempo, era possível comprar calhamaços de CPFs no balcão do camelô da esquina. Desde os idos dos anos 70 o problema de quebra de sigilo fiscal vem seguindo como uma endemia, passando por sucessivos governos – de várias colorações partidárias –, sem solução. A Receita chafurda em um sistema falho, que dá margem a esquemas de corrupção financeira, em vários escalões, e que agora serve de arma política na cena da eleição.
O vazamento de dados da filha foi pego como tábua de salvação da candidatura de Serra. Mas o episódio da Receita Federal – que, de mais a mais, sempre pareceu um queijo suíço quando o assunto foi zelar pela privacidade dos contribuintes e pela guarda de informações sigilosas – não pode ser classificado como único. Ocorre há décadas, como problema crônico. Não faz muito tempo, era possível comprar calhamaços de CPFs no balcão do camelô da esquina. Desde os idos dos anos 70 o problema de quebra de sigilo fiscal vem seguindo como uma endemia, passando por sucessivos governos – de várias colorações partidárias –, sem solução. A Receita chafurda em um sistema falho, que dá margem a esquemas de corrupção financeira, em vários escalões, e que agora serve de arma política na cena da eleição.
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