quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Crise do capitalismo mundial não impactou mercado de trabalho no país


Por Redação Correio do Brasil, do Rio de Janeiro


Mais de 32 milhões de trabalhadores brasileiros trabalhavam com carteira assinada em 2009, ou seja, 59,6% da população que estava empregada. O total revela a entrada de 483 mil trabalhadores na formalidade em 2009, na comparação com o cenário do mercado de trabalho do ano anterior, segundo dados divulgados nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

– Mesmo com a crise mundial, a pesquisa mostrou um aumento de quase dois pontos percentuais no contingente de trabalhadores com carteira assinada. Todo o reflexo nos postos de trabalho não foi suficiente para atrapalhar a qualidade do trabalho no país – afirmou Cimar Azeredo, gerente de integração da Pnad/Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE.

O aumento da formalidade entre 2008 e 2009 foi constatado em quase todas as atividades. Entre os trabalhadores domésticos, por exemplo, neste mesmo período, a formalidade teve crescimento de 12,4% em 2009, ou seja, 221 mil trabalhadores passaram a ter a garantia trabalhista. Se comparado a 2004, a Pnad constatou que “enquanto o contingente de trabalhadores domésticos cresceu 11,9%, o número de trabalhadores domésticos com carteira de trabalho assinada cresceu 20%”.

O grupamento agrícola foi o único que registrou redução na formalidade em 2009 na comparação com 2008 (38,6% para 35,1%).

– A atividade agrícola continua aumentando, mas há uma redução do contingente de pessoas empregadas na atividade agrícola principalmente em função da mecanização – explicou Azeredo.

Segundo a pesquisa, em 2009, quase 50% da população ocupada estava em atividades da área de serviços, como alimentação, transporte, armazenagem e comunicação, administração pública, educação, saúde e serviços sociais, entre outros. No comércio, a mão de obra ocupada era de 17,8% seguido pela indústria (14,7%) e pela construção (7,4%). Quase metade da população ocupada no ano passado tinha pelo menos o ensino médio completo. Os trabalhadores com nível superior completo representavam 11,1% em 2009.

Crise mundial

Os efeitos da crise global sobre o mercado de trabalho brasileiro no ano passado foram maiores do que apontavam os dados iniciais e, segundo a PNAD, houve aumento de quase 20% na desocupação ante 2008. Outros indicadores, como o de rendimento, no entanto, não sofreram igualmente. De 2008 para 2009, o número de pessoas sem emprego que tomaram iniciativa para tentar entrar no mercado de trabalho subiu de 7 milhões para 8,4 milhões no país.

– Isso foi um efeito claro da crise, uma vez que o mercado não gerou vagas suficientes para atender a demanda – disse Azeredo.

A coordenadora da PNAD Márcia Quintslr lembra que a PNAD tem cobertura nacional, enquanto a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) cobre as seis maiores regiões metropolitanas do país.

– O efeito da crise na PNAD foi mais expressivo que na PME. A desocupação mostra isso de maneira clara e nítida – acrescentou

Pelos dados da PME, a desocupação tinha ficado praticamente estável entre 2008 e 2009.

– A PME sinalizou bem o que aconteceu com a ocupação e com o emprego com carteira, mas na desocupação não. O comportamento real foi diferente – destacou Quintslr.

Os pesquisadores do IBGE avaliam que há vários fatores por trás desse aumento da desocupação.

– O fato da procura por trabalho aumentar pode significar que a pessoa perdeu seu emprego na crise e está tentando voltar; ela pode estar tentando recompor a perda salarial da família ou porque a pessoa espera melhora do mercado no futuro – disse Quintslr.

Com a baixa geração de postos e a expansão da desocupação, a taxa de desemprego encerrou 2009 no maior patamar desde 2006. A taxa média foi de 8,3%, ante 7,1% em 2008. No ano passado, indústria e setor agrícola foram os que mais perderam postos de trabalho. Nas regiões Norte e Nordeste, a taxa de desemprego subiu de 6,5 para 8,6% e de 7,5 para 8,9%, respectivamente.

– Os mais jovens são sempre os mais penalizados e, em mercados menos estruturados como esses, é natural que com uma crise o efeito seja maior – avaliou Cimar Pereira Azeredo.

Melhora no rendimento

Apesar do aumento da desocupação e da taxa média de desemprego, o comportamento do mercado de trabalho em um ano de crise foi taxado como positivo pelo IBGE. Além do aumento do emprego com carteira, houve em 2009 expansão do rendimento e do índice de Gini (indicador usado para medição da desigualdade).

– Pode-se dizer que houve mais qualidade no mercado de trabalho ou manutenção dela – afirmou Quintslr.

O índice de Gini medido pelo IBGE manteve a tendência de queda em 2009, ficando em 0,518 ante 0,521 em 2008. Quanto mais perto de zero, menor é o nível de desigualdade de um país, segundo critérios internacionais. O indicador baixou em todas as regiões com exceção da Norte. Mesmo assim, de acordo com o IBGE, os 10% mais ricos concentravam no ano passado 42,5% dos rendimentos totais do trabalho, enquanto os 10% mais pobres detinham apenas 1,2% das remunerações.

O rendimento do trabalhador brasileiro com 10 anos de idade ou mais avançou 2,2% entre 2008 e 2009 e foi estimado em R$ 1.106. Apesar da expansão, o país ainda não conseguiu recuperar as perdas acumuladas em 13 anos. O recorde foi registrado em 1996, quando o salário do trabalhador bateu R$ 1.144.

– Ao longo da história da PNAD houve diversos planos econômicos. Entre as idas e vindas de planos que provocam ganhos e perdas, a recuperação da renda fica difícil. Houve ainda impacto de várias crise externas’ – avaliou Azeredo.

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