terça-feira, 14 de setembro de 2010

Seria Dilma suicida?


Mauricio Dias

Como poderia qualquer candidato usar o resultado de um crime na sua campanha?

Sempre em busca de escândalos que se esforçam, sem sucesso, para transformar em multiplicadores de votos, a oposição tenta fazer do crime de quebra de sigilos fiscais na Receita Federal um novo momento na campanha presidencial.

Houve dezenas de violações. Mas, naturalmente, a violação do sigilo fiscal de Verônica Serra, filha do candidato da oposição, José Serra, tornou-se o eixo da questão. O crime foi consumado, a julgar pela existência de uma certidão falsa que teria dado acesso a informações protegidas por lei. Mas não está claro se o contador Atella retirou os dados e os entregou a um estafeta, Daniel, que, na sequência, teria repassado os papéis a quem fez a encomenda.

Embutido na moldura política, o crime ganhou a configuração singular de uma trama usada para beneficiar a suposta vítima (Serra) e prejudicar a suposta vilã (Dilma).

Na prática, houve uma inversão de instigante significado: a suspeita tornou-se a vítima.

Para que a trama ganhe mais transparência, como se requer nos dias de hoje, é preciso meditar sobre a acusação de Serra: Dilma é a culpada. A partir daí é que o PSDB formalizou o pedido de cassação do registro de Dilma Rousseff junto ao Tribunal Superior Eleitoral. Pedido imediatamente arquivado porque as provas apresentadas não demonstravam “de forma concreta” que a candidatura da petista tenha sido beneficiada com a quebra de sigilo fiscal dos tucanos.

Como a acusação não foi provada e o culpado não apareceu, é preciso reiterar a suspeita: seria Dilma?

Vamos com calma. O que Dilma faria com as informações contidas nos dados fiscais de Verônica Serra, se houver neles dados que possam comprometer o adversário dela? Usaria no horário de propaganda eleitoral para acabar de vez com a já moribunda candidatura do tucano? Este seria o dano possível no contexto da disputa eleitoral. Esta seria a motivação do crime.

Nada se sabe, oficial ou oficiosamente, do -teor da documentação. Mas o crime de quebra de sigilo existiu independentemente disso. Serra, no entanto, deu resposta precipitada, comum a detetives primários e acusadores levianos, a uma pergunta elementar: a quem interessa o crime? E deduziu: “Elementar, meu caro…”

Não, não. Sir Conan Doyle não inventou tal frase atribuída à sua maior criação ficcional. E Sherlock Holmes, a criatura, nunca abriu a boca para deduções imbecis. Nem mesmo sob efeito das “viagens” opiológicas que fazia no submundo londrino cometeria tal estupidez.
Dilma – aqui vai uma dedução elementar – não poderia se beneficiar do delito.

Caso utilizasse informações obtidas por meio desse ato criminoso, ela seria protagonista de uma cena explícita de suicídio político.

Então, por que cometer um crime do qual não se beneficiaria? Não sei, mas, a oposição também não sabe nem se interessa em saber. O que importa aos oposicionistas é acusar, fazer barulho, terrorismo, para intimidar os eleitores. Esta é a receita do escândalo na Receita.

A circunstância, assim, nos faz voltar ao início da viagem com a pergunta: a quem, de fato, interessa o crime?
CartaCarpital

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