quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Náutico e Sport na Série B: a culpa é de Lula





Por Cristiano Ramos*


Negócio sensacional é andar de táxi. No intervalo de dois bairros, o taxista atualiza você sobre quase tudo que está na boca do povo. Depois de andar com uns três na semana, então, é possível até saber o top ten dos assuntos mais comentados. Nessa lista, já faz um tempinho que está a culpa de Lula. E qual culpa tem o ex-presidente? Várias:

– Tá vendo que trânsito, amigo? É culpa do Lula!

– Não agüento shopping, aquilo virou um inferno, quem mandou votarem no Lula?

– Morar no Recife anda os olhos da cara e mais os braços, Lulalá!

O raciocínio é sempre o mesmo: presidente petista (e melhor seria dizer FHC e Lula) manteve a economia no rumo certo e aumentou poder aquisitivo da massa. Gente recebendo seu primeiro cartão de crédito, comprando o primeiro carro, apartamentinho próprio... Mas eis que, na semana em que o Corinthians ainda sonhava em contratar o argentino Tevez, um desses taxistas me solta acusação inédita:

– Náutico e Sport têm mais é que ficar onde estão, tem cabimento irem pra Série A? Pra quê, segurar lanterna? Lula acabou com a gente!

Ele depositava na conta do bom momento brasileiro o abismo cada vez maior existente entre os clubes de ponta do Sul e Sudeste e os demais do País. “Quanto é a folha do Corinthians, professor, sabe dizer?”, e eu chutei, quase certo, “Uns 5 ou 6 milhões”. “Por isso que digo, o que vamos fazer no meio desses tubarões? Passar vergonha?”, ele respondeu satisfeito, certo que já provara sua tese. Nem precisei informar que as equipes de maior destaque no Nordeste gastam, em média, somente 1/5 desse valor pago pelo Corinthians, pelo Flamengo, São Paulo, Internacional... Tampouco foi necessário informar que as cotas de TV e demais fontes também giram em torno dessa proporção.

O que valia lembrar (se o táxi não houvesse chegado em meu destino) era que o ex- presidente não foi menos generoso em projetos e liberação de verbas para o Nordeste (pelo contrário), e que Pernambuco tem crescido mais que seus vizinhos, mais que o País (um ponto percentual acima do PIB brasileiro). Em 2009, chegamos a crescer o dobro do que conseguiram os baianos, por exemplo.

O buraco, portanto, é bem mais embaixo, e ele não aumenta quando chove (como nas ruas do Recife); esse fosso cresce em ritmo de velocista jamaicano, faça sol ou temporal. O Estado vai de vento em popa, o futebol é que não acompanha.

Além das desigualdades regionais históricas, há diferenças óbvias no tratamento da CBF e do Clube dos 13, na quantidade de torcedores (consumidores), diferenças nos espaços de mídia – que resultam das conquistas de títulos, do fato de as cabeças de redes de comunicação estarem lá, e de tantas outras questões.

E todos nós temos responsabilidades nessa equação, do colunista ao taxista, do presidente do clube ao comentarista esportivo. Driblar essas diferenças requer mais racionalidade. Eles podem se dar ao luxo de repetirem erros, nós não! Não temos recursos para contratar como as equipes do Sul e Sudeste, mas basta o treinador perder três seguidas e já queremos que ele seja demitido, que mais dinheiro saia dos cofres para trazer sujeito que provavelmente não fará milagre algum.

Quando Governo pensa alguma política fiscal para nossos times, logo vem a reclamação, que é dinheiro público jogado fora. Ora, quantas empresas recebem incentivos governamentais? Mesmo sem gerar tantos empregos diretos e indiretos como o futebol, mesmo sem ter tantos consumidores (de produtos e ingressos), sem carregar essa identidade geográfica que faz do sucesso do clube uma publicidade espontânea para a cidade, para o Estado.

Durante bastante tempo, pernambucanos falavam sobre Suape. Anos se passaram desde o anúncio definitivo do estaleiro e da refinaria. E, ainda assim, marcamos toca, deixamos de preparar mão-de-obra e infra-estrutura. Da mesma forma, não estamos aproveitando a expectativa de mais duas décadas de grande crescimento econômico para Pernambuco, nem fazendo da Copa do Mundo uma alavanca para que nossos clubes saiam fortalecidos dessa transição.

Dia desses, falei com um amigo sobre a validade de um congresso sério, grande, para debater as demandas do futebol pernambucano e como aproveitar essa boa fase da economia do Estado para achar soluções. “Que bobagem, levar jogo de bola tão a sério”, ele me disse, pouco antes de se lamentar por não ter ido à Comic-Con, evento dedicado aos amantes dos quadrinhos, da ficção científica, cultura pop e afins...

O futebol pernambucano fica geralmente assim mesmo: uns não o levam a sério, e os que lhe dão importância – ou até vivem dele – mais falam do que agem. Este colunista não escapa à crítica, diga-se! Faz tempo que não pago anuidade do meu time, que não dedico maior paciência aos treinadores quando a derrota vem, não mobilizo os colegas de imprensa para procurar saídas. No máximo, trocava ideias com os taxistas, até começar esta jornada semanal no Blog do Torcedor.

Uma coisa prometo, pelo menos: se a coluna Na diagonal falhar ou atrasar (como é o caso deste texto, que quase não saiu), não vou acusar o Lula. Se bem que...

* Cristiano Ramos é jornalista e assina a coluna Na diagonal, que é publicada no Blog do Torcedor todas as quartas-feiras.

Um comentário:

Anônimo disse...

O ministro Nelson Jobim, da Defesa, solta o verbo mais uma vez, agora na revista "Piauí" que chega às bancas amanhã. Ao se referir às negociações sobre o sigilo eterno de documentos, ele atira no núcleo do governo de Dilma Rousseff. "É muita trapalhada", afirma. "A [ministra] Ideli [Salvatti, das Relações Institucionais] é muito fraquinha". Já Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, "nem sequer conhece Brasília".
Jobim conta também que, ao convidar José Genoino para trabalhar na Defesa, ouviu de Dilma: "Mas será que ele pode ser útil?". Jobim diz que respondeu: "Presidenta, quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu." O ministro diz ainda que FHC e Lula são sedutores. "Só que de maneiras diferentes. O Lula diz palavrão, o Fernando é um lorde".

Ou seja, ele chamou a Ideli de "fraquinha", a Gleisi de "inexperiente" e o Lula de "grosso".