Continuou hoje (10) a lamentação patética do senador Demóstenes Torres
(ex-DEM), diante de um plenário semivazio, em defesa de seu mandato. Tido como
um prócer da moralidade até que foi flagrado pela política federal em mais de
400 telefonemas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, para quem prestava serviço
de despachante de luxo junto a governos de diversos níveis e órgãos
governamentais, Demóstenes tenta se safar de uma cassação quase certa, a ser
definida amanhã, em votação secreta, pelos seus pares.
Demóstenes se diz “vítima de um massacre” que vem se arrastando por 132
dias. “Sou a vítima da vez e isto me custou a paz e a tranquilidade. Se eu
tivesse culpa, talvez fosse mais simples suportar, mas a dor se amplia devido à
certeza de que está sendo sacrificado um inocente”, disse o senador. Este foi o
sétimo discurso seguido que o senador proferiu em sua autodefesa, sempre para
plateias praticamente inexistentes.
O aparente abandono a que se acha relegado hoje o senador Demóstenes Torres
não deve ser tomado, entretanto, como evidência de que sua sentença condenatória
já está decretada, faltando apenas ser proferida. Até a data presente, apenas um
senador, em toda a história republicana brasileira, foi cassado por seus pares.
Todos os demais renunciaram, quando tiveram a certeza de que seriam cassados
caso enfrentassem a votação em plenário, ou, ao contrário, enfrentaram a votação
e foram absolvidos, pois tinham certeza de que seriam inocentados.
Esta é a estratégia de Demóstenes Torres, traçada em conjunto com seus
advogados. Enfrentar a votação secreta no plenário do Senado, uma vez que muitos
de seus pares são devedores de seus favores e de seu parceiro. Demóstenes e
Cachoeira são suspeitos de terem montado as armadilhas que culminaram com o
Escândalo dos Correios, o Mensalão, a cassação do deputado José Dirceu e que
quase terminou com o governo Lula. Por este motivo, seriam, ambos, credores de
muitos opositores do governo Lula. Demóstenes e Cachoeira são suspeitos de terem
montado esquemas de benefícios em contratos de obras do PAC e de diversos
governos estaduais e municipais. Por este motivo, seriam, ambos, credores de
muitos lulistas e petistas, mas também de muitos peessedebistas, petebistas,
pemedebistas e de muitos outros partidos.
Enquete realiza pelo jornal Folha de São Paulo revelou que 52 senadores
afirmam que votarão pela cassação de Demóstenes, ex-líder da bancada do DEM,
partido do qual foi expulso assim que as acusações que responde vieram à tona.
Do total de 81 senadores, o jornal conseguiu ouvir 76, sendo que três não foram
encontrados e Demóstenes não foi consultado. Destes, além dos já citados, 24 se
recusaram a revelar qual será seu voto e nenhum afirmou que votará pela
absolvição. Não obstante estas afirmativas, a decisão só será tomada na sessão
plenária de amanhã e seu resultado só será conhecido ao final da votação de todo
os senadores.
Em tempos de transparência, quando até mesmo os salários dos servidores
públicos são expostos, nada justifica a manutenção do voto secreto nas Casas
Legislativas brasileiras. O anonimato do voto dos representantes populares
talvez se justificasse no período ditatorial, quando deputados e senadores
estavam sujeitos às pressões dos donos do poder e eram constrangidos a votar
conforme as determinações do ditador de plantão. Nas democracias, o voto dos
políticos deve ser sempre aberto, para que todos possam avaliar as posições
assumidas e os eleitores possam fiscalizar as ações daqueles que elegeram.Editorial Sul21
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