terça-feira, 10 de julho de 2012

Demóstenes Torres e a proteção do voto secreto


Continuou hoje (10) a lamentação patética do senador Demóstenes Torres (ex-DEM), diante de um plenário semivazio, em defesa de seu mandato. Tido como um prócer da moralidade até que foi flagrado pela política federal em mais de 400 telefonemas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, para quem prestava serviço de despachante de luxo junto a governos de diversos níveis e órgãos governamentais, Demóstenes tenta se safar de uma cassação quase certa, a ser definida amanhã, em votação secreta, pelos seus pares.

Demóstenes se diz “vítima de um massacre” que vem se arrastando por 132 dias. “Sou a vítima da vez e isto me custou a paz e a tranquilidade. Se eu tivesse culpa, talvez fosse mais simples suportar, mas a dor se amplia devido à certeza de que está sendo sacrificado um inocente”, disse o senador. Este foi o sétimo discurso seguido que o senador proferiu em sua autodefesa, sempre para plateias praticamente inexistentes.

O aparente abandono a que se acha relegado hoje o senador Demóstenes Torres não deve ser tomado, entretanto, como evidência de que sua sentença condenatória já está decretada, faltando apenas ser proferida. Até a data presente, apenas um senador, em toda a história republicana brasileira, foi cassado por seus pares. Todos os demais renunciaram, quando tiveram a certeza de que seriam cassados caso enfrentassem a votação em plenário, ou, ao contrário, enfrentaram a votação e foram absolvidos, pois tinham certeza de que seriam inocentados.
Esta é a estratégia de Demóstenes Torres, traçada em conjunto com seus advogados. Enfrentar a votação secreta no plenário do Senado, uma vez que muitos de seus pares são devedores de seus favores e de seu parceiro. Demóstenes e Cachoeira são suspeitos de terem montado as armadilhas que culminaram com o Escândalo dos Correios, o Mensalão, a cassação do deputado José Dirceu e que quase terminou com o governo Lula. Por este motivo, seriam, ambos, credores de muitos opositores do governo Lula. Demóstenes e Cachoeira são suspeitos de terem montado esquemas de benefícios em contratos de obras do PAC e de diversos governos estaduais e municipais. Por este motivo, seriam, ambos, credores de muitos lulistas e petistas, mas também de muitos peessedebistas, petebistas, pemedebistas e de muitos outros partidos.

Enquete realiza pelo jornal Folha de São Paulo revelou que 52 senadores afirmam que votarão pela cassação de Demóstenes, ex-líder da bancada do DEM, partido do qual foi expulso assim que as acusações que responde vieram à tona. Do total de 81 senadores, o jornal conseguiu ouvir 76, sendo que três não foram encontrados e Demóstenes não foi consultado. Destes, além dos já citados, 24 se recusaram a revelar qual será seu voto e nenhum afirmou que votará pela absolvição. Não obstante estas afirmativas, a decisão só será tomada na sessão plenária de amanhã e seu resultado só será conhecido ao final da votação de todo os senadores.
Em tempos de transparência, quando até mesmo os salários dos servidores públicos são expostos, nada justifica a manutenção do voto secreto nas Casas Legislativas brasileiras. O anonimato do voto dos representantes populares talvez se justificasse no período ditatorial, quando deputados e senadores estavam sujeitos às pressões dos donos do poder e eram constrangidos a votar conforme as determinações do ditador de plantão. Nas democracias, o voto dos políticos deve ser sempre aberto, para que todos possam avaliar as posições assumidas e os eleitores possam fiscalizar as ações daqueles que elegeram.Editorial Sul21

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