sábado, 7 de julho de 2012

Humberto Costa:"Não me considero um candidato imposto. Fui escolhido pelos diretórios"

 (Helder Tavares/DP/D.A Press)

Andrea Piheiro, Cláudia Elói e Juliana Colares
politica.pe@dabr.com.br
Apesar de chegar à eleição com a adesão de poucos partidos, o candidato a prefeito do Recife pelo PT, Humberto Costa, está pronto para combate. O petista prometeu fazer um governo ousado e procurou demarcar o terreno, ao afirmar que ele e o ex-prefeito João Paulo são os verdadeiros candidatos do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff.

Num recado direto à candidatura do PSB, Humberto foi crítico com os agora ex-aliados. Enfatizou que seu partido não mudou de lado e que caberá aos socialistas explicarem a aliança formada com um dos maiores inimigos de Lula e do PT, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB). Ele assegurou que o chamado “boom do desenvolvimento” de Pernambuco só foi possível por conta do apoio do governo federal. O petista não aceita a pecha de candidato imposto e revela que o governador não cumpriu o acordo para que as duas legendas marchassem unidas nessa eleição, tendo o PT como candidato da frente.

Entre as propostas de Humberto para o Recife, a mobilidade urbana tem papel central. O candidato carrega uma bandeira que está em moda e se impôs, principalmente nos últimos anos, como necessidade urgente das grandes cidades: a melhoria do transporte público. Ele pretende investir em corredores exclusivos para ônibus e na navegabilidade. Nem o rodízio de veículos, medida bastante polêmica, está descartado.

Ciclista, Humberto também defende a expansão das ciclovias. Na saúde, ele aponta para a necessidade de aumentar de 15% para 20% os recursos. Já quando o assunto é educação, a ampliação da quantidade de escolas integrais e a melhoria das creches são suas principais apostas. Leia a entrevista na íntegra:
 (Helder Tavares/DP/D.A Press)
Como o senhor ver a atuação do PT no estado hoje?

Considero boa. O partido vai disputar entre 65 a 68 municípios. Temos candidatos competitivos em quase todas as cidades da Região Metropolitana do Recife. Temos candidaturas importantes no Sertão do Pajeú, no Sertão Central e do São Francisco. Acho que o partido vai colher um bom resultado nesta eleição. Nossa expectativa é crescer em termos de prefeituras, só temos 10 queremos que cresça esse número junto com os vereadores. O mais importante é conquistarmos prefeituras expressivas do ponto de vista eleitoral.

Como está a campanha do PT no Recife?
Temos uma situação favorável. Temos um partido que todas as pesquisas mostram que é a legenda que a população nutre um respeito, uma credibilidade maior. Nas pesquisas, as pessoas dizem que querem que o PT continue. Sou o candidato que está à frente das pesquisas eleitorais que foram divulgadas até agora. Nosso partido tem a chapa mais forte do ponto de vista municipal para disputa majoritária. Sou candidato e o ex-prefeito João Paulo é o nosso candidato a vice. Pela primeira vez em que disputo eleição, tenho seis minutos para falar das minhas propostas para o Recife. Os três maiores eleitores da cidade estão comigo, que são Lula, Dilma e João Paulo. Como é que o PT no Recife está enfrentando problemas? A população está preocupada em como os candidatos vão, em sendo eleitos, encontrar as soluções para os problemas da cidade. O PT já tem uma história, um conjunto de ações e de serviços prestados à cidade. Por isso, goza dessa credibilidade. A população já conhece o PT e nosso modelo de gestão. Modelo de gestão é meio, não fim. Monitorar, acompanhar e cobrar resultado é obrigação de todo gestor e administrador público. O que diferencia é a política. A política que o PT praticou ao longo desses anos, que inverteu prioridades e colocou milhares de crianças nas escolas, criou o Programa de Saúde da Família, implantou o Samu, o Brasil Sorridente, a Academia da Cidade, o programa que mais salvou vidas no Recife, que foi o Programa Guarda-Chuva de combate às consequências das enchentes, de deslizamentos. O PT foi o governo que mais investiu em habitação e moradia, implementou o bolsa-escola. Modelo de gestão é aquilo que produz benefício para a população. O nosso é exitoso, como é exitoso nacionalmente.

Então o modelo de gestão genuíno é do PT?
Não. Cada um pode defender o seu modelo de gestão, o que quero dizer é que o modelo de gestão é meio e não fim. O que interessa é a política e a política do PT é de inversão de prioridades, de cuidar da cidade, do desenvolvimento, e principalmente cuidar das pessoas, é esse o debate.

Vai ficar marcado, então, nesse debatem que o candidato do PT é aquele que investe no social e o PSB no desenvolvimento?
Naturalmente que temos uma marca no social, mas também na infraestrutura da cidade e no desenvolvimento. Recife é a cidade do Nordeste que mais tem gerado emprego. Recife tem crescido e ampliado as oportunidades para sua população. É importante dizer que esse propalado crescimento de Pernambuco tem a ver com uma coisa fundamental que está diretamente relacionada com o PT, que é a presença e o apoio do governo federal. O crescimento de Pernambuco tem a ver o surgimento da refinaria, do estaleiro, a Transnordestina, a transposição, a duplicação da BR-101, os recursos que o governo federal mandou para qualificar a 104, a 408, tem a ver com vinda da Fiat, foi uma decisão do governo federal. Com a implantação da Hemobrás. Parece que se esqueceram agora que Pernambuco cresceu e se desenvolveu a partir de uma parceria puxada pelo PT nacionalmente.

O PSB começa a divulgar que tem o apoio do ex-presidente Lula e de Dilma Rousseff. Como o senhor vai dizer que o senhor é candidato de Lula e não do PSB?
Quem vai dizer é Lula e Dilma. Posso dizer que Lula não vai participar diretamente da campanha, mas vai gravar para programa de rádio, televisão e terá empenho especial no Recife e a presidente Dilma até agora não está definido. O PT nacional vai cuidar de como ela vai participar das cidades prioritárias. Tenho convicção de que ela vai participar aqui, no Recife, se será só pelos meios de comunicação ainda não está definido, mas sei que ela vai participar.

O PT e o PSB estão em palanques distintos em várias capitais do país. Essa campanha será nacionalizada?
Não. As pessoas têm a absoluta noção de que uma eleição municipal é para discutir a cidade. As pessoas estão preocupadas em saber como os seus problemas serão resolvidos e não como vai ficar a eleição de 2014 e 2018. Entendo que as coisas, que aconteceram nessa reta final, que afastaram o PT de outros partidos, são questões locais. Não acredito que haja movimento nacional de isolamento do PT. Não acho que a eleição aqui será nacionalizada.

Especula-se que o ministro José Dirceu esteja por trás da sua candidatura.
Minha relação nacional é com o presidente Rui Falcão. Me dou bem com José Dirceu, mas minha relação política é com a direção nacional. Tenho conversado com Lula e com Dilma. Com essas pessoas que são referências para mim para debater a eleição no Recife e a eleição nacional.

A entrada do senador Jarbas Vasconcelos no palanque socialista, que é adversário explícito do PT, é uma demonstração que o PSB está trilhando outro caminho, de afastamento do PT visando 2014?
O compromisso e posição do PT é de continuarmos sempre do mesmo lado. Somos integrantes, fundadores e aliados a ideia da Frente Popular. Ela foi criada nos moldes atuais em 2006 quando terminou o primeiro turno e antes mesmo de conversar com o PT, manifestei meu apoio a candidatura de Eduardo. Continuou com a nossa participação no governo, com nossa lealdade desde o primeiro momento, os gestos que o PSB fez para o PT. O PT sempre foi defensor dessa ideia. Não foi o PT que foi para a direita buscar quem quer que seja para fazer alianças. Então quem tem que explicar essa aliança é o PSB e não o PT. Estamos onde sempre estivemos. Quem tem que explicar o porquê da aliança com alguém que faz oposição radical ao PT, a Lula e a Dilma. O maior crítico que existe no Brasil ao presidente Lula que foi o que mais fez por Pernambuco é o senador Jarbas Vasconcelos. Quem tem que explicar porque é que optou por estar ao lado de Jarbas e não ao lado do PT.

PT rachado com o PSB.
Da parte do PT não houve nenhum movimento de ruptura. Continuamos a defender as mesmas ideias, os mesmos pontos de vistas e a nos aliar com os de sempre, com os que compõem a base de sustentação do governo Dilma, os que o governo federal e o PT. Sobre a discussão da entrega dos cargos, isso é um debate que a direção do PT tem que fazer. Não sou como candidato que foi discutir. O partido precisa se posicionar. Vamos analisar de sair do estado ou não. O importante é dizer os cargos que o PT indicou no governo eles sempre estiveram e estão a disposição do governador para usar como ele achar melhor. O governador é livre se quiser fazer mudança. Não vamos deixar de dar nosso apoio na Assembleia Legislativa.

O PT entra nessa disputa praticamente isolado. A que se deve isso?
Isso tem que ser perguntado ao PSB e aos partidos que ficaram lá. Não mudamos em nada nosso posicionamento. Ao contrário. Uns usam um argumento que para mim é um pretexto. De dizer que o PT dividiu-se e não tem condições de encabeçar a Frente Popular no Recife. Eu pergunto: e Caruaru? O candidato a prefeito do PDT está lá, o vice-governador e a deputada estadual não apoiam, outros partidos não apoiam e ninguém falou em crise no PDT, nem que precisaria lançar outro candidato. Por que esse argumento vale para Recife e não vale para Caruaru? Além do mais, não acho que o PT está isolado. O PT é um partido em que todas as pesquisas de opinião mostram que 50% querem a continuidade do partido. O PT tem uma chapa para disputar a eleição de vereadores junto com nossos aliados com aproximadamente 200 candidatos. Temos presença nos movimentos sociais. Não vejo isolamento. Há quem queira caracterizar isso, mas não é.

[FOTO3]A saída do deputado Maurício Rands vai fazer falta na campanha?
A decisão de Rands foi uma decisão individual, não foi decidida pelo partido e já emiti uma nota sobre esta questão. Considero um caso encerrado, sobre o qual não tenho mais nada a falar.


O PT está há 12 anos no comando do Recife. Não há um cansaço por parte da população?
A população identifica que há um projeto que está em plena execução, que precisa ser aprofundado. É lógico que depois de 12 anos gera algum tipo de insatisfação, é normal, mas em termos globais, percentuais a população quer a continuidade desse projeto.

Se o governo é bem avaliado, porque trocar de candidato a prefeito?
Não temos divergências do ponto de vista da gestão administrativa. Nossa divergência com o prefeito se deu no campo da gestão foi política. A relação com os partidos, com a cidade, com a Câmara. Havia uma sinalização explícita, do PSB e de partidos que compunham a Frente de que a partir do momento em que o PT firmasse uma posição todos marchariam com a candidatura do PT. Quando mudamos as mudanças em termos da cabeça da chapa foi tendo como referência, uma sinalização e um compromisso de que todos estariam juntos conosco. Os outros mudaram. Tem que perguntar o motivo.

O presidente Rui Falcão chegou a dizer que o PSB rasgou um acordo escrito com o PT. O governador não cumpriu esse acordo?
O governador sempre esteve com o presidente Lula várias vezes e disse que apoiaria uma candidatura do PT. Tive a oportunidade de falar com ele pelo menos três vezes, entre o processo que levou a anulação da prévia e a indicação de meu nome na executiva nacional. Estava absolutamente claro que nós estaríamos juntos no processo. Depois vieram os argumentos que a briga do PT não acaba.

Especula-se que o prefeito João da Costa por está magoado com o PT possa se licenciar do PT e apoiar o candidato do PSB
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Não vejo como o prefeito ou quem quer que seja esteja magoado comigo. Não me apresentei como candidato, não me inscrevi como candidato, não participei de prévia. Fui convocado para cumprir uma missão pelo PT. Não tenho nenhum processo de enfrentamento ou animosidade nem com o prefeito, nem com quer que seja dentro do partido. Segundo, minha expectativa é que o prefeito esteja presente na nossa campanha. É um militante do PT de muitos anos, tem um compromisso partidário, sabe que defendemos isso como um projeto global.

O PT vai para uma campanha numa situação adversa. O senhor e João Paulo estão num projeto ousado e Maurício está for a e o prefeito enfrenta dificuldade na gestão. Se der uma zebra no meio do caminho como fica o futuro do PT?
O PT é um partido que tem uma história importante no estado e no Brasil. Não vejo como ao longo desse caminho existir qualquer contratempo. Ganhar ou perder uma eleição é uma coisa natural, normal. Mas, politicamente eu tenho a convicção que em 2012 nosso partido estará bem e fortalecido. Ainda, digamos, que num ambiente extremamente adverso e a gente perdesse a eleição aqui, mas o PT tem raízes socais, tem presença na sociedade, nos movimentos sociais. Vai ter um número maior de prefeituras agora, vai continuar a ser uma alternativa de poder nacional, que faz com que isso pese na estruturação dos estados. A gente ousou, mas ousamos porque consideramos que no contexto nacional Recife era uma cidade importante para o partido, por isso tivemos o meu gesto de aceitar esta responsabilidade, apesar de hoje está vivendo o melhor momento na minha vida política no Senado. Aceitar essa missão e a de João Paulo. Um líder popular mais querido da cidade no Recife. Ousamos para compor uma chapa em nome do partido.

Alguns setores do PT e o próprio prefeito dizem que a sua candidatura foi imposta pela direção nacional. Como enfrentar uma eleição com a pecha de ser um candidato imposto?
Não me considero um candidato imposto pela direção nacional. Primeiro porque a executiva nacional apresentou o meu nome, o diretório municipal, o estadual e o nacional homologaram meu nome. Geraldo Júlio foi escolhido aonde? Mendoncinha e Daniel Coelho foram escolhidos aonde? Pelos seus diretórios. Eu fui escolhido pelo municipal, estadual e nacional. Não vejo como minha candidatura tenha sido como uma candidatura imposta. Tenho certeza que estaremos com o partido unido nessa eleição.

Quais são suas propostas como candidato para o Recife?
É preciso pensar a cidade do futuro. Uma das minhas propostas é fazer uma nova revisão do plano diretor da cidade. A última foi feita em 2008 e eu acho que é tempo da gente pensar isso, até por conta das grandes mudanças que Recife sofreu. Segundo, identificando os principais problemas da cidade, dar respostas a vários deles. Um dos principais problemas hoje é, sem dúvida, a mobilidade urbana. Recife é uma cidade que tem vias estreitas, que o custo de ampliar as vias é extremamente elevado. Muito embora ao longo desses 12 anos a nossa gestão tenha feito isso. As maiores obras viárias da cidade foram feitas na gestão do PT: a duplicação do Viaduto Capitão Temudo, a Via Mangue, que está em construção, a paralela da Caxangá, a inversão e qualificação do trânsito na Domingos Ferreira, o fim do transporte clandestino. Todas essas foram construções da nossa gestão. Nós atuamos do ponto de vista viário. Mas eu entendo que nós temos um grande desafio que é apostar num transporte coletivo de qualidade para diminuir a presença do transporte individual nessa infraestrutura que já está esgotada. Temos que fortalecer os corredores de ônibus. Com a conclusão da Via Mangue, nós vamos poder implantar, desde Olinda até Piedade, um corredor exclusivo de ônibus com uma velocidade razoável, pegando a Agamenon Magalhães, a Joana Bezerra, Domingos Ferreira, Setúbal, chegando até depois do Hospital da Aeronáutica. Nós também temos o processo de requalificação do corredor Leste - Oeste. Eu também quero apostar num tipo de transporte que seja sustentável. Hoje no mundo já existem movimentos consistentes de valorização de determinados meios de transporte. Eu sou ciclista e sei como é difícil usar a bicicleta no Recife. Os motoristas não respeitam, não existe forma segura de você pedalar. Nós temos condição de fazer o Recife ingressar nessa política de cidades que são amigas do ciclista. Nova York conseguiu dar uma dignidade ao transporte via bicicleta, São Paulo se propõe a ser amigo do ciclista e eu acho que Recife tem plena condição de fazer isso. Se você fizer uma requalificação mínima, qualquer pessoa que mora do Hospital da Aeronáutica para frente pode muito bem trabalhar na cidade e ir na sua bicicleta sem dificuldade. Basta você estender a ciclovia que termina no Pina para dentro de Brasília Teimosa, caminhar por perto dos monumentos de Brennand, atravessar para o outro lado... Eu tenho o projeto da gente fazer entre Brasília Teimosa e a José Estelita, uma terceira ponte que passe, inclusive, a ser um cartão postal da cidade, com a urbanização da beira-rio de Brasília Teimosa. Você poder ter a ligação da Avenida Boa Viagem até perto do Viaduto das Cinco Pontas.
Outra coisa é a navegabilidade. Quem começou o projeto da navegabilidade do Beberibe e do Capibaribe fui eu, na Secretaria das Cidades. Nós contratamos um projeto-base, brigamos por recursos do governo federal e isso pode se tornar realidade, com um transporte de massas ágil, de qualidade, com várias ligações intermodais que podem ajudar a cidade a andar mais rapidamente.
 (Helder Tavares/DP/D.A Press)
 
Mas é o governo estadual quem está tocando esse projeto, não é?

Sim, com dinheiro federal. Mas a prefeitura participou dos estudos e eu quero que a prefeitura tenha uma participação mais ativa nisso. Pode se pensar em ter um papel de gestão, pensar no que fazer em toda a área circunvizinha, principalmente a beira-rio. O projeto original não era somente a navegabilidade do rio. Era um projeto integrado de investimentos na região que fica no entorno do rio. Eu fui a San Antonio, nos Estados Unidos, conhecer o modelo de lá e havia um grupo de investidores que tinha interesse de vir para cá não somente para tornar o rio navegável, mas em diversas áreas, investir em comércio, setores de serviço. Era um projeto de requalificação com geração de atividade econômica, emprego e renda.

O senhor tem interesse em fazer isso aqui?
Eu acho que isso é perfeitamente possível.

Qual a real necessidade da ponte entre Brasília Teimosa e o Cais José Estelita?
]Primeiro, desafogar o trânsito que ainda tem hoje fortemente na Agamenon Magalhães e o trânsito ao longo do Cais José Estelita. E tem a possibilidade de ter outro acesso. Quem sabe até um projeto mais ousado de voltar a ter um Forte das Cinco Pontas visível como equipamento cultura, coisa que aquele viaduto impediu. Ao mesmo tempo, permitir um processo de continuidade da Avenida Boa Viagem por Brasília Teimosa.

A questão das bicicletas nunca recebeu muita atenção nem do governo municipal nem do governo estadual. O que é que o senhor pretende fazer, exatamente?
Existem vários projetos, várias propostas prontas. Antes, a bicicleta era muito vista como instrumento de lazer. Uma visão equivocada porque ainda hoje uma parcela importante da população vai para o trabalho a pé porque não pode pagar a passagem de ônibus. Com o crescimento da cidade e da frota de veículos, pensar essas outras formas de transporte passa a ser uma necessidade para que a própria cidade não pare. Tem que pensar os espaços para o ciclista dentro dessa perspectiva, como um tipo de transporte que pode crescer significativamente. Se você der a esse tipo de transporte o tratamento de meio de transporte, é perfeitamente possível investir. Mas o mais importante de tudo é a educação da população. Os acidentes de bicicleta são mais graves que os de motocicleta. E hoje andar de bicicleta no Recife é um risco.

O rodízio? Faz parte do seu programa?
Esse é um assunto bastante polêmico e é preciso que se discuta com a cidade. O PT, na sua gestão, se caracterizou muito pela ousadia. Quem se lembra de como foi o debate sobre a inversão do trânsito na Domingos Ferreira se lembra que aquilo foi um verdadeiro conflito. O parque Dona Lindu, quantos protestos aconteceram contra o parque e hoje a gente pode dizer sem medo de errar que ele é o equipamento público mais importante que a cidade tem, do ponto de vista da afluência, das atividades que ele gera. A nossa gestão vai continuar sendo uma gestão ousada nesse aspecto. Se o rodízio for algo necessário e que a sociedade entenda assim, nós vamos abrir esse debate, sem problema nenhum.

Como é que o seu programa vai contemplar o ordenamento urbano? O centro está bastante degradado e sempre que conversamos com o prefeito João da Costa e com o ex-prefeito João Paulo, eles sempre disseram que para o partido é muito complicado fazer esse ordenamento porque são trabalhadores que ocupam aquelas calçadas.
Eu acho que é uma atribuição da prefeitura e uma obrigação do gestor disciplinar a cidade até porque uma cidade sem estruturação e sem disciplina não consegue desenvolver as suas atividades econômicas que geram emprego e renda. O trabalho de ordenamento também não significa que você não possa ter espaço para algumas atividades que são essenciais do comércio ambulante ou de prestação de pequenos serviços. Mas é preciso que isso exista dentro de disciplinamento adequado, que tem que incluir a educação dessas pessoas, educação ambiental, responsabilidade. Por que o dono de uma barraca também não é responsável pela limpeza do local onde ele está? É preciso ter um trabalho que junte coerção e educação. E nós temos dois ingredientes importantes para mudar isso: um é a questão da Copa. Recife é uma cidade que vai estar exposta para o mundo todo e o centro é o coração de qualquer cidade. Você ter um centro degradado como a gente tem hoje vai fazer com que a gente não consiga utilizar da melhor maneira possível essa possibilidade de sediar um grupo da Copa do Mundo.

O Recife está preparado para sediar a Copa?
Sim. Eu acho que uma ação que envolva os governos federal, estadual e municipal, do tipo "operação centro para a Copa", é uma coisa que pode funcionar.

Mas isso é uma solução pontual. A gente precisa de uma solução que ultrapasse 2014.
Sim, mas nós temos recursos disponíveis para obras estruturais, nós temos um desenho de ocupação do centro que está sendo feito independentemente até da administração municipal e que é uma coisa que dá vida. Escolas que estão funcionando no centro, os projetos que estão sendo desenvolvidos, como os do Porto, que tendem a criar um ambiente de negócios razoável para implantação de empresas naquela área… Existe um conjunto de coisas que podem ser feitas nesse sentido. A Copa é um componente pontual, mas objetivo. E tem outro componente que pode transformar esse "pontual" em cultural. Recife tem uma coisa que poucas cidades no Brasil têm e Pernambuco tem uma coisa que poucos estados têm: orgulho. Por que a gente não trabalha isso de uma forma positiva? Que o orgulho de ser recifense se transforme no cuidado com a cidade? O orgulho de ter uma cidade limpa, uma cidade conservada, com respeito às pessoas, onde ninguém passe por cima de uma faixa de pedestre. Isso tudo é possível construir, depende de uma decisão política, de um processo de conscientização.

Foram 12 anos de governo petista e só faltam dois anos para a Copa. Faltou decisão política antes?
Eu acho que muita coisa foi feita, tanto na gestão de João da Costa como de João Paulo. Várias ruas foram revitalizadas lá no centro e houve ordenamento do comércio ambulante.

Mas a cidade ainda é muito suja e desordenada.
É, mas isso é um processo.

E em dois anos dá tempo de fazer tudo isso?
Eu acho que tendo um fator objetivo como esse, sim, se você juntar forças também.

O senhor foi ministro da Saúde e sabe que as principais emergências hoje continuam superlotadas. Ou seja, aquela história de que as clínicas dos bairros iriam desafogar, não desafogou. E ainda tem os acidentes de moto. O que o senhor pensa em fazer para resolver a questão da saúde, que é crônica no país.
Eu vou governar a cidade...

Mas a maior parte dos atendimentos nos grandes hospitais poderiam ser resolvidos na atenção básica...
Primeiro, nós temos que analisar o que era Recife antes do PT e o que é hoje. Quando eu assumi a secretaria de saúde do Recife, tínhamos 27 equipes de Saúde da Família. Hoje são 252. Quase 70% da população estão cobertas pelo programa de saúde da família e a ideia é ampliar ainda mais. Na época que a gente assumiu, Recife gastava menos de 5% do seu orçamento com saúde. Hoje gasta 15%. Eu defendo inclusive que se amplie esse tipo de gasto. Antes do PT a gente não tinha programas que estimulassem a promoção da saúde, hoje a gente tem quase 40 Academias da Cidade. A capital da filariose no mundo era Recife. Hoje a cidade tem certificado de erradicação da doença. Nós fizemos muitas coisas, mas não significa que não tenha o que fazer. Tem que melhorar o Programa de Saúde da Família, melhorar a qualidade do atendimento. Uma coisa essencial que está em execução que é o processo de informatização da rede de saúde, que vai permitir a marcação de consulta por telefone, uma maior fiscalização do trabalho do profissional, a implantação do prontuário eletrônico. São coisas que estão sendo feitas e vão continuar a ser feitas.

Mas qual a principal bandeira para a saúde?
Ampliar o recurso e melhorar o atendimento, especialmente na área especializada.

Alguma meta no aumento desse recurso?
Não pode ser um processo da noite para o dia. Tem que ser progressivo. Cidades do porte de Recife, eu imagino que menos de 20% em saúde não consegue atender a demanda.

Sobre o Plano Diretor, tem alguma coisa específica que o senhor queira rever?
Tem muita coisa para ser revista. primeiro, quais são as vocações econômicas da cidade. Será que a gente vai se contentar em ser sempre uma cidade de serviços, de comércio? Tem todo o ordenamento da cidade que tem que se rever, como os padrões construtivos que a cidade tem e para onde ela deve dirigir o seu desenvolvimento. Precisa mexer no plano diretor para isso, para definir certas destinações de áreas da cidade, como o centro, para trabalhar na visão de revitalização.

Na questão construtiva, a sua visão é de que a gente precisa ser mais restritivo em relação à altura dos prédios?
Acho que tudo depende de cada área, de uma preocupação básica que é como evitar o esgotamento da infraestrutura urbana que a gente tem. Um prédio alto de mais não é meramente um problema de ordem estética. Significa que tem que ter água para aquele povo todo, estacionamento... Acho que esse é o principal fator de definição de como a gente vai trabalhar. A existência de uma maior liberdade construtiva para umas áreas e menor para outras é uma coisa normal, natural. E isso pode ser feito não somente com regulamentação, mas com estímulo.
 (Helder Tavares/DP/D.A Press)
Qual o seu posicionamento em relação ao projeto do Nov
o Recife?
 

Nós não podemos romper simplesmente contratos, rasgar o que existe e fazer com que tudo seja refeito. Existe toda uma legislação que dá sustentação para o que se está imaginando fazer ali. Mas isso não significa que a prefeitura não possa reabrir um processo de discussão sobre determinados usos, determinadas adequações. Acho que inclusive os próprios empreendedores não se furtarão a travar um debate de como inserir melhor aquele projeto em uma política sustentável. Não tenho nenhuma pretensão de anular o que foi feito nem dizer que o projeto não vai ser implementado. Não tem condição de romper o contrato que foi feito e previamente assegurado e aprovado pela prefeitura. O que eu acho é que é perfeitamente possível fazer a discussão de aspectos que podem ser adaptados a uma nova visão de desenvolvimento da cidade.

Nessa rediscussão, a altura e a quantidade de prédios seria debatida?

Eu ainda não tenho uma posição sobre essa questão.

Na questão da educação, como o senhor pensa em inovar?
Um objetivo que a gente tem que perseguir é dotar o máximo de escolas possíveis, dentro daqueles padrões aplicáveis, com ensino integral. Mas acho que isso não pode ser uma política para todas as escolas. Fortalecer o ensino profissionalizante, na medida em que as oportunidades de trabalho têm surgido e exige uma mão de obra cada vez mais qualificada. Fortalecer a política da educação infantil pré-escolar para você não somente dar oportunidade para os chefes da família poderem trabalhar e deixar seus filhos em segurança, mas, ao mesmo tempo, essas crianças não viverem em um ambiente somente de creche, mas estarem aprendendo efetivamente. Qualificar e melhorar a condição dos professores, mas também reconhecer que muita coisa foi feita. É uma área que vai continuar sendo uma área de prioridade. Fonte:Diário de Pernambuco.

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