Entre o ar condicionado dos gabinetes e o calor do povo nas ruas, ex-presidente arma sua defesa; quanto mais exposição, melhor; para sair do córner das acusações que partem de Marcos Valério e passam pela constrangedora Rosemary Noronha, Lula aposta no corpo a corpo para realçar sua popularidade e criar um fato político insuperável; você faria diferente no lugar dele?
Marco Damiani _247 – Coloque-se, por um momento, no lugar do ex-presidente Lula. Acossado pelas denúncias do publicitário Marcos Valério, de um lado, em plena era do domínio do fato, na qual provas passam a ser elementos secundários para decisões judiciais, e com um histórico de perseguições sofridas desde os tempos em que teve um irmão, Frei Chico, torturado por suas convicções políticas e ele próprio foi preso no Dops de Romeu Tuma por fazer sindicalismo, o que você faria diante de novas ameaças ao seu direito de ir e vir? Contrataria um advogado? Mais nada?
No 2012 em que viu a nata da primeira geração de líderes do PT ser condenada à cadeia, Lula só conseguiu ser protagonista quando saiu às ruas para eleger, num prodígio político, seu candidato Fernando Haddad à Prefeitura da maior cidade do País. Ali, no palanques de São Paulo, após ter vencido um câncer numa disputa iniciada sem favoritos, o ex-presidente se impôs frente a um eleitorado que fazia as vezes de reserva popular do PSDB. Jogou todas as suas fichas e forças, correndo um risco dramático de sair derrotado para, neste caso, ser pisoteado pelos tucanos renovados pelo voto chefiados por José Serra.
O povo, no entanto, determinou outro resultado. Lula mal pode comemorar, imprensado pelos desdobramentos do julgamento do chamado mensalão no Supremo Tribunal Federal. Mesmo sem ser réu, dia a dia ele também foi julgado informalmente, até que, perto do encerramento, o pivô Valério ressurge de um longo mutismo para acusar Lula, em depoimento na Procuradoria Geral da República, de ciência completa da trama, além de recebimento de dinheiro para o pagamento de despesas pessoais em pleno exercício da Presidência da República. De quebra, neste mesmo momento, a então chefe de Gabinete da Presidência da República em São Paulo, sua amiga íntima Rose Noronha, é pega nas teias da Operação Porto Seguro da Polícia Federal.
"Não posso responder sobre mentiras", disse Lula, em Paris, de passagem por um microfone da Rede Globo. Àquela altura, três semanas atrás, o ex-presidente já tinha traçado seu próprio plano de defesa. E ele não incluia apenas a constituição de um advogado. Lula escolheu as armas que sempre usou, desde o início de sua vida sindical e política, para se proteger. Anunciou a reedição, em 2013, das incômodas, para os adversários, caravanas da cidadania – os percursos feitos de ônibus pelo interior do País que alavancaram sua popularidade e, após três derrotas nas eleições presidenciais, deram estofo para suas duas vitórias. Ele já sinalizou, em seu berço político, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que é, sim, candidato a algum cargo eletivo em 2014. Está no ar sua candidatura a presidente da República outra vez. E, pelo carisma que carrega, apenas acentuado pela batalha pessoal contra as adversidades, Lula tem tudo para, nessa marcha, ver sua popularidade crescer ainda mais, rivalizando, apenas, com a da presidente Dilma Rousseff.
Essa não é apenas a melhor aposta que Lula poderia fazer para 2013 – é a única.
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