quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Lula: "O que machuca os adversários é meu sucesso"

 


A posse do novo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, transformou-se, nesta quarta (19), em um ato de desagravo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O que mais machuca meus adversários é o meu sucesso”, disse o petista, que foi recebido por gritos de “Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo”, uma resposta às denúncias da mídia e da oposição, que têm usado acusações do empresário Marcos Valério para atingir o ex-presidente.

O ato reuniu centenas de sindicalistas, lideranças políticas e do movimento social. Nas falas, críticas à imprensa e à judicialização da política. Último a discursar, Lula afirmou que, “para a alegria de muitos e para tristeza de poucos”, voltará a percorrer o país em 2013.

"Não se preocupem muito com os ataques. Há uma razão para isso. Em 2010, quando lançamos a Dilma, ela era um poste. Vencemos. Agora, quando apresentamos Fernando Haddad aqui, era outro poste. Vencemos. De poste em poste a gente está iluminando o Brasil inteiro”, disse, repetindo uma fala sua durante a campanha de Haddad.

“Só existe uma possibilidade de me derrotar: é trabalhar mais que eu. Se ficar um vagabundo numa sala com ar condicionado falando mal de mim, vai perder”, discursou, sob palmas. O ex-presidente é alvo de uma série de denúncias, que tentam envolvê-lo no chamado esquema do “mensalão” e nos supostos crimes de tráfico de influência investigados pela Operação Porto Seguro.

Segundo o petista, ele voltará a andar pelo país, porque ainda tem muita coisa a ser feita pelo Brasil, como “ajudar a presidenta Dilma a fazer cada vez mais, ganhar ainda muitos estados e prefeituras, trabalhar forte com as esquerdas nesse país, trabalhar com setores progressistas da sociedade”, afirmou.

Em seu discurso de cerca de 40 minutos, Lula falou sobre futebol e sobre a história do Sindicato dos Metalúrgicos, que presidiu no passado. E prosseguiu com as críticas aos adversários. “Eu consigo compreender o jogo que eles fazem. Eles governam o país desde que Cabral chegou aqui e como poderiam aceitar que seja exatamente um peão o presidente que mais fez universidade federal nesse país? Como podem aceitar pacificamente, sem ódio, que seja um metalúrgico de diploma primário que tenha feito, em oito anos, uma vez e meia de tudo que eles fizeram de escolas técnicas em um século?”, disparou.

Ele lembrou que, quando assumiu a presidência em 2002, previam o seu fracasso, ele era considerado o próprio "Titanic", brincou. "Mas não era possível governar esse país para um terço da população. É por isso que eles não se conformam que colocamos 40 milhões de homens e mulheres na classe C, nem podem ver os pobres viajarem de avião, trocarem de carro. Eu acho que isso deixa eles indignados", completou.

Lula disse ainda que, em 2002, quando se elegeu presidente pela primeira vez, desconfiava que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) estava torcendo por ele. "Teve momento que eu achava que ele preferia minha vitória à do Serra. Muita gente vinha e me dizia 'ele prefere você'. Ele achou que não ia dar certo, seria um fracasso, e que depois voltaria", disse.

Crise

O ex-presidente afirmou ainda que é preciso pensar de forma positiva em relação ao futuro do Brasil. "Não é porque nosso vizinho está doente que nós vamos ficar doentes. Não é porque a Europa está em crise, que nós vamos entrar em crise. A crise pode ter maior ou menor incidência a partir das medidas que nós tomemos aqui", disse ele.

Lula destacou que, no início das turbulências econômicas de 2008, pediu ao povo que não parasse de consumir, uma estratégia para manter o mercado interno aquecido e a economia ativa. “Um país que tem a quantidade de investimentos anunciados por Dilma, que tem o PAC, que tem o pré-sal, vai ter Copa do Mundo e Olimpíadas, que tem terras agricultáveis, não tem que ter medo do futuro”, defendeu.

“Está em crise? A França está em crise. Vamos torcer para que passe a crise lá. Se não conseguimos vender para esses países, vamos procurar outro parceiro. É igual ao mascate. Ele vai perder tempo com quem não tem dinheiro? O Brasil tem que pensar no que fazer de troca com a África, a Ásia, a América Latina. Fico feliz que a Dilma e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tenham clareza sobre o que deve ser feito”, elogiou.

Apoio
O Centro Celso Daniel, onde ocorreu o ato, estava repleto de faixas de solidariedade, nas quais se liam frases como “Lula, obrigado por mostrar o Brasil de verdade” e “Lula, nós não desistimos nunca”. Muitas foram às referências à necessidade de democratizar os meios de comunicação e de evitar a judicialização da política.

O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, destacou a importância de Lula para as transformações necessárias no país, ressaltando a grande conquista de “termos forjado uma liderança dos trabalhadores, um operário com a expressão do Lula”. Rabelo lembrou que o petista recomendava que ninguém se enganasse sobre a força da luta e da organização da classe trabalhadora.

E criticou uma tentativa da oposição de tirar a disputa do plano político, transferindo-a ao plano jurídico. “Tentam criminar a política, os políticos e os movimentos sociais. Mas não vão conseguir", afirmou.

O representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Gilmar Mauro, destacou que, em 2013, algumas lutas se projetam para os movimentos sociais, no campo da política. “Temos que pensar em lutas e ações de massa que coloquem em pauta temas como a democratização dos meios de comunicação e a criminalização da política e dos movimentos. Outra coisa que temos que colocar em pauta é o Judiciário, que parece intocável”, condenou.

O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, declarou que os movimentos sociais não irão se intimidar diante da campanha de denúncias. “Ao contrário do que pensam os adversários desse projeto de país mais justo, não vamos nos intimidar”, disse, convocando à unidade para futuras lutas, como a defesa dos 10% do PIB para a Educação, a redução da jornada de trabalho e a “superação de uma situação de monopólio da mídia e do capital financeiro”.

Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), acusou a elite de querer “vencer no tapetão”, por não digerir o fato de Lula ter feito o melhor governo do país. “Essas perseguições que estão acontecendo são contra a democracia. A CUT está preocupada com isso. A elite percebeu que não consegue vencer as eleições e resolveu mudar as regras, quer ganhar no tapetão, com o Poder Judiciário. Não vamos concordar com isso. O que se tenta fazer é um golpe contra o que o povo decidiu nas urnas”, apontou.

Já o novo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Rafael Marques, disse que a oposição alimenta sentimentos de "mesquinhez, avareza e raiva" em relação a Lula, que chamou de "patrimônio da classe operária e da sociedade brasileira e internacional". Segundo ele, democracia não se resume a eleições. “Democracia é ter dirigente sindical no chão de fábrica, ter um sistema de comunicação brasileiro democrático, aberto às entidades sociais. É preciso que exista mais gente escrevendo a história contemporânea brasileira”, concluiu, afirmando que os movimentos lutarão contra as denúncias reverberadas pela mídia. “1, 2, 3, é Lula outra vez”, encerrou, puxando um coro espontâneo da plateia.

Da Redação Vermelho,
Joana Rozowykwiat

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