sábado, 7 de dezembro de 2013

Dois presos e duas medidas

 

José Genoíno e Roberto Jefferson foram condenados no mesmo processo.
Os dois foram acometidos por grave enfermidade. Genoíno fez uma cirurgia cardíaca complicada. Jefferson teve câncer.
Até aí estão empatados.
No entanto, Genoíno foi mandado direto para o xilindró, num feriado, o juiz nem deu bola para o seu estado de saúde e nem procurou saber se a cadeia ofereceria risco de agravar sua enfermidade.
Jefferson está livre, leve e solto, cantando óperas no chuveiro e Barbosa demonstra estar preocupado com a saúde dele, veja você.
Genoíno passou mal na Papuda e teve que ser hospitalizado.
Os médicos disseram que o resultado da cirurgia de dissecção da aorta, que ele fez em julho deste ano, pode ficar comprometido por conta da alteração da pressão do paciente encarcerado. Os médicos sugeriram que ele ficasse em casa ou em uma unidade hospitalar.
Barbosa, o juiz supremo, desconfiou do laudo. Uma prisão domiciliar jogaria uma água fria no espetáculo que ele havia montado. Pediu outro diagnóstico que ratificasse que Genoíno faz corpo mole.
Dessa vez, a junta médica era formada por um grupo de esculápios que se manifestava abertamente em redes sociais contra Genoíno e o PT, segundo investigação do blogueiro Miguel do Rosário.
Como esperado, diagnosticou-se o corpo mole.
Por outro lado, antes de enviar Roberto Jefferson à prisão, Barbosa pediu um laudo médico pra saber se o ex-deputado vai em cana, fica em casa ou em um hospital.
Que tal?
Genoíno é chamado o tempo todo de mensaleiro. Mas a mídia trata Jefferson como "delator do mensalão".
Embora ele seja o único réu confesso, parece que está sendo preso por delatar os "criminosos". É uma forma de suavizar, de limpar a barra de um cabra que ajudou a criar uma novela para derrubar um governo trabalhista.
Assumiu ter saído com uma mala contendo R$ 4,5 milhões. Nunca o cobraram.
Aliás, não se sabe se mensaleiro é o cara que recebia mesada ou o que pagava, ou se são ambos. O que se sabe é que Jefferson está fora dessa nomenclatura.
Eu tenho um vídeo revelador, um dia eu mostro. Todavia, adianto um trecho para saciar vossa irrefreável curiosidade.
Enquanto fingia que dava milho aos pombos, arrancando entusiasmos guturais daqueles amigáveis bípedes, eu filmava, paparazzicamente, Joaquim Barbosa caminhando, altivo, em frente ao prédio do Supremo.
Era seu primeiro dia como presidente do STF.
Barbosa deixou o carro na garagem, caminhou até a Praça dos Três Poderes, com garbo, e arrancou a venda dos olhos da estátua da justiça.
E deu nela duas bofetadas.
Virou-se por trás da capa e partiu, como se nada houvesse feito. Devido a uma rara lufada de um vento morno e seco do cerrado, deu ainda pra ver, pelo volume que trazia por baixo da toga, o reluzente cabo da espada e uma balança amadeirada em mogno.
Protágoras dizia que o homem é a medida de todas as coisas.
Barbosa acredita que o grego se referia a ele.


Lelê Teles

 
Jornalista e publicitário. Roteirista do programa Estação Periferia (TV Brasil), apresentador do programa Coisa de Negro (Aperipê FM) e editor do blog FALA QUE EU DISCUTO
 

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